Estamos Juntos
(Estamos Juntos, 2011)Drama - 111 min.
Direção: Toni Venturi
Roteiro: Hilton Lacerda
Com: Leandra Leal, Cauã Raymond, Nazareno Casero e Lee Taylor
Estamos Juntos começa de maneira promissora, tem uma fotografia inteligente e áspera, dialoga com o cinema de Gonzalez Iñarritu mas não se decide entre ser um filme de mensagem ou um conto sobre a tristeza da alma.
Leandra Leal, interpreta Carmem, uma jovem e solitária médica residente que tenta sobreviver na selva de pedra chamada São Paulo. Sua vida se divide entre seu trabalho e uma estranha amizade com um homem misterioso que funciona como uma espécie de confidente da garota.
Seu único amigo é o músico descolado Murilo, que quando o filme começa está apaixonado pelo recém-chegado Juan, um argentino ousado e que divide a paixão pela música com o rapaz, com quem divide um apartamento. O plot avança até que Carmem e Juan se envolvem ao mesmo tempo em que ela descobre problemas sérios de saúde.
O diretor Toni Venturi, auxiliado pelo roteiro de Hilton Lacerda constrói um drama pesado e intimista sobre a relação de Carmem com seus próprios problemas e o mundo que a cerca. Apostando tudo na interpretação de sua atriz, quando o foco é Carmem o filme é um desbunde, precisamente fotografado de forma granulada e com a câmera na mão, abusando dos super closes que evocam o estado perturbado e solitário da personagem, que não divide a tela e sua vida com mais ninguém.
Leandra tem muita garra em sua interpretação ressaltando sempre que pode a condição de profunda solidão de sua personagem. Ao mesmo tempo em que seus coadjuvantes (em especial Cauã Raymond) parecem próximos aparentemente da personagem, mas não conseguem vencer a barreira que Carmem impõe para tudo e todos ao seu redor.
Os problemas do filme começam quando a história apresenta seu "engajamento" apresentando um segundo núcleo de personagens, formado pelos habitantes de uma invasão clandestina. Além de dividir o foco com a história que vinha funcionando direitinho não consegue fazer nenhum tipo de ligação entre esses dois mundos. Soa forçada a interação da personagem de Leandra com esse mundo. Assim como soa forçado e populista o discurso dos próprios moradores. Entendo que a solidão das almas era uma questão urgente no filme, e gente sem casa e sem futuro, são obviamente excluídos.
Todos são solitários nessa história. Leandra/Carmem (pelos motivos que já apresentei), Cauã/Murilo que é fútil e vazio, mas entra em cena como o descolado cool e moderno e simplesmente não funciona. Parece que seu personagem era apenas mais um obstáculo para Carmem e a interação dos dois não parece natural. Murilo é um personagem esquemático e pedante. Um clichê gay, irritadiço e raso. Lee Taylor e seu homem misterioso são apenas uma "gracinha do roteiro" que demonstra o quanto os responsáveis pelo filme não estavam confiantes em seu filme. Era realmente necessário criar esse falso suspense para descartar o personagem de maneira tão óbvia? A idéia era ser diferente, mas a jornada de auto-ajuda explica o personagem de forma óbvia e não satisfatória.
Mas nada é mais exagerado e fajuto do que a péssima interpretação do argentino Nazareno Casero. Seu Juan além de ser um personagem mal escrito e que parece uma criança mimada, tenta convencer o espectador que sofre por amor. São risíveis as tentativas do ator em tentar "emocionar" o público como o rapaz que está em uma cidade grande vindo de um país diferente em busca de um sonho. As cenas em que Juan discute a relação com Carmem causam profundo desconforto, e não por nos sentirmos invasores daquele momento íntimo do casal, mas por que Nazareno é patético e o que era para ser triste e emocional, é forçosamente engraçado.
Os demais coadjuvantes (os tais invasores) são unidimensionais. Temos a líder, a garota ingênua, o "bom ladrão"; personagens vazios e que funcionam apenas para criar momentos criativos na montagem - ao terem as imagens de uma "batalha" com a polícia intercaladas ao drama de Carmem.
Toni Venturi tentou - a meu ver - abraçar o mundo e discutir a solidão macro em uma cidade igualmente opressiva e gigantesca como São Paulo, e se esqueceu - ou não conseguiu realizar - o que originalmente se propunha a fazer desde o começo: contar a história de uma alma perdida e abalada pela selva de concreto de São Paulo.
Boa sacada de notar como o filme se aproxima do cinema do Iñarritu. Eu não tinha notado isso, mas agora que você falou tenho que concordar. Abraços.
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