quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ginger & Rosa


Ginger & Rosa
(Ginger & Rosa, 2012)
Drama - 90 min.

Direção: Sally Potter
Roteiro: Sally Potter

com: Elle Fanning, Alice Englert, Alessandro Nivola, Christina Hendricks, Timothy Spall, Oliver Platt, Annette Benning

Os americanos têm um termo que adoram usar para definir dramas adolescentes: "coming of age". Em tradução livre, seria como chegada da idade, mas de fato significa amadurecimento. Ginger & Rosa apesar de não ser americano é exatamente isso, um filme sobre o crescimento e a perda da inocência de uma garota em meio à paranoia da guerra fria.

Ginger (Elle Fanning) é uma garota impressionável que em meio às tensões entre soviéticos e americanos no início dos anos sessenta tenta encontrar seu lugar no mundo, saindo da infância e enfrentando a - sempre difícil - adolescência. Ao seu lado Rosa (Alice Englert) que nasceu - literalmente - ao seu lado, é sua amiga desde sempre. Muito próximas graças à amizade de suas mães, as jovens não poderiam ser mais diferentes. Enquanto Ginger guarda uma inocência e uma ingenuidade típicas da infância, Rosa é mais prática e prefere se preocupar com seus próprios problemas e dramas em vez de "salvar o mundo", embora acompanhem a amiga em ações pacifistas. É legal contextualizar a trama. A produção se passa durante o período em que a guerra fria quase deixou de ser fria (com o perdão da piada infame) e que culminou na famigerada crise dos mísseis em Cuba.

Nesse processo de amadurecimento da garota, dois elementos são fundamentais para a destruição de seus ideais ingênuos de certezas e verdades absolutas. Sua mãe Nat (interpretada pela sempre linda Christina Hendricks) uma pintora que desistiu da vida nas artes quando ficou grávida da garota ainda bem jovem e seu pai Roland (o competente Alessandro Nivola), um professor "intelectualóide" que vomita teorias sobre "liberdade", "contrariar o status quo", apenas como disfarce para sua covardia patológica em assumir qualquer tipo de responsabilidade. De fato o personagem arca com as consequências de seus atos (como a prisão depois de se negar a participar da segunda guerra mundial), e talvez isso tenha criado um ranço ainda mais profundo quanto a qualquer tipo de responsabilidade e autoridade.



E isso é fundamental para entender a trama. Ginger tem uma imagem idealizada de seu pai. Um quase complexo de Electra (não a dos quadrinhos, por favor) e se vê numa posição de substituir sua mãe - tão parecidas inclusive fisicamente - e ficar com o pai só para ela. Isso sem nenhuma conotação sexual, que fique claro.

Por isso, quando Rosa se interpõe nessa relação, a garota entra em choque e começa a perceber que a ideia de perfeição idealizada jamais existiu e que de fato sua mãe não é o monstro que pintou. Trocando em miúdos a garota percebe que - no mundo real e adulto - as coisas não são completamente pretas ou brancas e que o "mundo cinzento" de fato ocupa a imensa maioria das relações humanas.

Ginger e Rosa é dirigido e escrito por Sally Potter e tem como grande problema sua dificuldade em engrenar e personagens coadjuvantes discursivos em excesso. Compreendo que o ambiente semi-boêmio em que a trama se passa gere personagens como os de Timothy Spall e Oliver Platt (seriam um casal gay, isso não ficou claro na trama?) e o da militante de uma Annette Benning bem diferente. Essa "família" proto-revolucionária que abraça a garota é importante para servir de ombro amigo para as perturbações adolescentes de Ginger, mas perdem impacto com o decorrer da trama, graças aos excessos de teorias que levam a lugar nenhum.



Minha impressão é que todo mundo fala, fala, fala e na verdade não está dizendo quase nada. Teorizam demais e não percebem o óbvio. Ginger é uma garota com problemas e que precisa de atenção e carinho, como qualquer humano normal, e muito de seu envolvimento e sua angustia com o fim do mundo tem fundo psicológico. Ela se enxerga como uma garota que "não fez nada e nem tem ninguém" e por isso seu pai é uma figura tão importante.

Essa é a consolidação de Elle Fanning como uma atriz diferenciada (usando um termo da moda). A jovem consegue emocionar com pouco, é absolutamente natural em tudo que faz e consegue ir da alegria a tristeza com igual competência. Se não escolher mal seus projetos, terá um futuro brilhante pela frente. Alice Englert, que esteve em cartaz recentemente em Dezesseis Luas, se não é brilhante como Fanning (que rouba a cena em todas as cenas inclusive quando contracena com atores muito mais experientes que ela) acerta na composição da garota metida à adulta que no fundo tem tantos problemas emocionais quanto aqueles que julga.

Ginger e Rosa é assertivo em seus personagens, mas não funciona tão bem assim por esses excessos de discursos que parecem querer justificar uma posição da época. A produção parece defender que todas as pessoas eram politizadas e engajadas em alguma coisa, e seus comportamentos sempre eram fruto do ambiente externo e características como personalidade ou mesmo caráter eram sumariamente modificados pelas ações do ambiente. É quase uma justificativa para comportamentos estúpidos e o discurso final de Ginger parece justificar essa análise. Mas, no que se propõe é eficiente, e tem grande momento dessa jovem muito talentosa chamada Elle Fanning.


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