Ginger & Rosa
(Ginger & Rosa, 2012)
Drama - 90 min.
Direção: Sally Potter
Roteiro: Sally Potter
com: Elle Fanning, Alice Englert, Alessandro Nivola, Christina Hendricks, Timothy Spall, Oliver Platt, Annette Benning
Os americanos têm
um termo que adoram usar para definir dramas adolescentes: "coming of
age". Em tradução livre, seria como chegada da idade, mas de fato significa amadurecimento. Ginger & Rosa apesar de não ser americano é
exatamente isso, um filme sobre o crescimento e a perda da inocência de uma
garota em meio à paranoia da guerra fria.
Ginger (Elle
Fanning) é uma garota impressionável que em meio às tensões entre soviéticos e
americanos no início dos anos sessenta tenta encontrar seu lugar no mundo,
saindo da infância e enfrentando a - sempre difícil - adolescência. Ao seu lado
Rosa (Alice Englert) que nasceu - literalmente - ao seu lado, é sua amiga desde
sempre. Muito próximas graças à amizade de suas mães, as jovens não poderiam
ser mais diferentes. Enquanto Ginger guarda uma inocência e uma ingenuidade típicas
da infância, Rosa é mais prática e prefere se preocupar com seus próprios
problemas e dramas em vez de "salvar o mundo", embora acompanhem a
amiga em ações pacifistas. É legal contextualizar a trama. A produção se passa
durante o período em que a guerra fria quase deixou de ser fria (com o perdão
da piada infame) e que culminou na famigerada crise dos mísseis em Cuba.
Nesse processo de
amadurecimento da garota, dois elementos são fundamentais para a destruição de
seus ideais ingênuos de certezas e verdades absolutas. Sua mãe Nat
(interpretada pela sempre linda Christina Hendricks) uma pintora que desistiu da vida nas artes
quando ficou grávida da garota ainda bem jovem e seu pai Roland (o competente
Alessandro Nivola), um professor "intelectualóide" que vomita teorias
sobre "liberdade", "contrariar o status quo", apenas como disfarce
para sua covardia patológica em assumir qualquer tipo de responsabilidade. De fato o personagem arca com as consequências de seus atos (como a prisão depois de se negar a participar da segunda guerra mundial), e talvez isso tenha criado um ranço ainda mais
profundo quanto a qualquer tipo de responsabilidade e autoridade.
E isso é fundamental
para entender a trama. Ginger tem uma imagem idealizada de seu pai. Um quase
complexo de Electra (não a dos quadrinhos, por favor) e se vê numa posição de
substituir sua mãe - tão parecidas inclusive fisicamente - e ficar com o pai
só para ela. Isso sem nenhuma conotação sexual, que fique claro.
Por isso, quando
Rosa se interpõe nessa relação, a garota entra em choque e começa a perceber
que a ideia de perfeição idealizada jamais existiu e que de fato sua mãe não
é o monstro que pintou. Trocando em miúdos a garota percebe que - no mundo
real e adulto - as coisas não são completamente pretas ou brancas e que o
"mundo cinzento" de fato ocupa a imensa maioria das relações humanas.
Ginger e Rosa é
dirigido e escrito por Sally Potter e tem como grande
problema sua dificuldade em engrenar e personagens coadjuvantes discursivos em excesso. Compreendo
que o ambiente semi-boêmio em que a trama se passa gere personagens como os de
Timothy Spall e Oliver Platt (seriam um casal gay, isso não ficou claro na
trama?) e o da militante de uma Annette Benning bem diferente. Essa "família"
proto-revolucionária que abraça a garota é importante para servir de ombro
amigo para as perturbações adolescentes de Ginger, mas perdem impacto com o decorrer
da trama, graças aos excessos de teorias que levam a lugar nenhum.
Minha impressão é
que todo mundo fala, fala, fala e na verdade não está dizendo quase nada.
Teorizam demais e não percebem o óbvio. Ginger é uma garota com problemas e que
precisa de atenção e carinho, como qualquer humano normal, e muito de seu
envolvimento e sua angustia com o fim do mundo tem fundo psicológico. Ela se
enxerga como uma garota que "não fez nada e nem tem ninguém" e por
isso seu pai é uma figura tão importante.
Essa é a
consolidação de Elle Fanning como uma atriz diferenciada (usando um termo da
moda). A jovem consegue emocionar com pouco, é absolutamente natural em tudo
que faz e consegue ir da alegria a tristeza com igual competência. Se não
escolher mal seus projetos, terá um futuro brilhante pela frente. Alice
Englert, que esteve em cartaz recentemente em Dezesseis Luas , se
não é brilhante como Fanning (que rouba a cena em todas as cenas inclusive
quando contracena com atores muito mais experientes que ela) acerta na
composição da garota metida à adulta que no fundo tem tantos problemas
emocionais quanto aqueles que julga.
Ginger e Rosa é assertivo
em seus personagens, mas não funciona tão bem assim por esses excessos de
discursos que parecem querer justificar uma posição da época. A produção parece defender que
todas as pessoas eram politizadas e engajadas em alguma coisa, e seus
comportamentos sempre eram fruto do ambiente externo e características como
personalidade ou mesmo caráter eram sumariamente modificados pelas ações do
ambiente. É quase uma justificativa para comportamentos estúpidos e o discurso
final de Ginger parece justificar essa análise. Mas, no que se propõe é
eficiente, e tem grande momento dessa jovem muito talentosa chamada Elle
Fanning.
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