Homem de Ferro 3
(Iron Man 3, 2013)Aventura - 130 min.
Direção: Shane Black
Roteiro: Drew Pearce e Shane Black
com: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Ben Kingsley, Guy Pearce, Don Cheadle, Jon Favreau
A maldição da expectativa. Se existem filmes que sofrem desse mal,
alguns sequer sobrevivem sem o arfar no cangote de fãs alucinando a cada nova
imagem, trailer e pôster divulgado. Fazendo aqui um mea culpa, muito dessa loucura causada por
quem divulga (eu, por exemplo) cada nova ação de marketing dos filmes. Mas,
espera-se que em pleno século XXI, os fãs (e os curiosos) percebam que tudo é
uma estratégia para deixar o espectador salivando por aquilo, e que não é porque
o pôster é incrível, as fotos te animam e o trailer te fez arrepiar que o filme
vai ser bom. Ou melhor, mesmo com tanta propaganda não o julguem por isso, mas
por seus próprios méritos.
Dito isso, vamos a
Homem de Ferro 3, um desses exemplos mais claros de filmes fadados a serem
consumidos meses antes de sua estreia. Sem Jon Favreau no comando, e com Shane
Black (roteirista da serie Máquina Mortífera, O Último Grande Herói e diretor do bom Beijos e Tiros) assumindo a
responsabilidade de lidar com o personagem mais rentável e popular da Marvel
Studios. A pergunta que todos vocês fazem é: E aí, é bom?
Sim, Homem de
Ferro 3 é divertido, mas paremos por aí. Não "explode cabeças", tem
problemas diversos na estrutura da narrativa, um excesso de humor que surge em momentos onde
ela simplesmente não deveria existir, uma pretensa "seriedade" que
soa galhofa demais e alguns elementos que farão os fãs de quadrinho xiita
xingarem até a décima geração de Shane Black.
Vamos por partes:
Shane Black pega Tony Stark após os eventos vistos em Vingadores e o transforma em um
sujeito que não dorme, obcecado na construção de uma infinidade de armaduras e
que sofre de uma espécie de ataque de pânico que é repetido a exaustão durante
a produção. Stark também se vê mudado pelos eventos do filme citado e
questionando sua força, sua real importância como herói e em ultima instancia seu passado, responsável direto pelos acontecimentos desse terceiro
filme.
Sem me ater a
spoilers, basta dizer que nessa terceira aventura, um Stark pré-filme original comete
um erro e o resultado desse erro (de caráter) vem bater a sua porta. Soma-se a uma dificuldade de relacionamento de Tony e Pepper e o
cenário está criado para os problemas enfrentados nesse filme.
Shane Black assina
o filme de verdade. Diferente do que poderia parecer, Black não age aqui como
diretor de aluguel, mas trás seu humor cortante para a produção de forma bastante
aguda. Isso quer dizer que o Homem de Ferro usa e verdadeiramente abusa de
piadas por todo o tempo. Em comparação direta com os outros filmes, é de longe
o filme mais engraçado e que talvez funcione melhor para um público mais multifacetado
sem tanto interesse em quadrinhos (e aqui especulo de forma arrogante, admito).
O primeiro Homem
de Ferro (de longe o melhor filme da Marvel Studios até aqui, seguido de perto
por Vingadores) tem um saudável equilíbrio entre o bom humor - especialmente na
figura e na personalidade de Tony Stark, e ótimas sequências de ação, que dão
credibilidade aos desafios do personagem em ver-se livre do mal que suas
empresas produziam e enfrentam a traição no seio de sua companhia.
Já no segundo,
esse elemento de bom humor ainda existe, mas foi suplantado por uma preocupação
maior na criação de um vilão - Ivan Vanko/Mickey Rourke - que não é carismático e
rumina suas frases sem causar qualquer tipo de impacto. Se tínhamos Sam
Rockwell como o outro vilão (mais interessante e carismático) ele acabou sendo deixado de lado, e acrescido ao surgimento do Máquina de Combate e da Viúva Negra, o filme
padeceu dos problemas que sempre acabam acometendo filmes com excesso de gente
em tela: mau desenvolvimento dos mesmos. Que pese que o filme mantém a
qualidade de ação, é um passo atrás em relação aos muitos acertos (de tom
principalmente) do filme original.
Já a terceira
aventura, como disse é a mais engraçada das três. Tirando
inclusive o impacto de diversas cenas de ação com essa mania de a cada segundo
precisar justificar a personalidade de Tony Stark. Sabemos que ele é um
gozador, sabemos que ele é um sujeito sarcástico e que não se leva a sério
(esse é seu charme e grande diferencial em relação a todos os heróis de
quadrinhos que o cinema mostrou até aqui), mas precisamos ser lembrados disso a
cada cinco minutos? É plausível que em meio a uma batalha, o sujeito
simplesmente faça uma piada segundos depois de imaginar que alguém que ele
verdadeiramente se importa acaba de morrer? É plausível que cada capanga dos
vilões da vez sejam excelente humoristas? É plausível que mesmo nas situações
em que o filme tenta criar uma crise (seja de consciência ou simplesmente um
evento que precisa ser evitado), sempre exista uma tirada engraçadinha?
Voltemos aos
filmes anteriores. Quando Tony era espancado por Obadiah no final do primeiro
filme ele fazia piadinhas? Quando foi espancado em Monte Carlo por Vanko,
ele saiu-se com uma anedota? Não. Então Black exagera aqui, fazendo do Tony
Stark uma versão de armadura de uma comediante. Os traços da personalidade de
Stark não justificam esse excesso, principalmente quando essas ideias
prejudicam o andamento e tiram o impacto das sequências de ação.
E os problemas de
estrutura? Não existe um real impacto na trama. Seguindo o mal da maioria dos
quadrinhos de heróis, nada de fato muda. Black brinca de cubo mágico aqui. Pega
a estrutura pronta de Favreau/Whedon (diretor de Vingadores), muda as peças de
lugar e inverte as cores para no fim, de fato, mudar quase nada. Sim, existe aqui
um sentimento de final de trilogia, e me pergunto por quê? Seria Downey Jr.
dando adeus ao personagem? Emulando os quadrinhos, esse seria o fim de um arco?
Se formos pensar assim, porque ignorarmos elementos plantados ali no primeiro
filme? A tal irmandade dos 10 anéis, que era tão poderosa no primeiro Homem de Ferro,
ressurge aqui nas mãos do vilão Mandarim, mas de uma forma completamente
distorcida, por exemplo.
As cenas finais do
filme (não se preocupem, não vou contar) explicitam essa intenção quase Batman
de Christopher Nolan de passar o bastão, para nos momentos finais mudar de
ideia. Então para que seguir por esse caminho? Como disse, Black pega seu cubo
mágico, gira, mexe e remexe e no fim deixa-o como encontramos antes. Todo o
mal perpetrado enfim, não serve de muita coisa. Nem mesmo as ideias que ele
mesmo planta (o tal surto de ansiedade) tem um final digno.
E chegamos àquilo
que deve (de novo, me dou o direito de especular aqui) irritar os fãs mais
xiitas do Homem de Ferro. Na mitologia do herói, o Mandarim é seu nêmesis. Seu
Coringa, seu Lex Luthor, seu Doutor Octopus (ou Duende Verde), seu Loki,
enfim... aquele sujeito que realmente dá trabalho ao herói.
Falando do ponto
de vista quadrinhístico, e aqui confesso não ser um leitor do personagem, mas
conheço um pouco sua mitologia, Black faz algo parecido com o que Joel
Schumacher fez com Duas Caras em Batman Eternamente (pra ficar num exemplo). Deu
medo né? Mas calma, apesar do Mandarim que vemos em tela não ser exatamente
aquele que o público imagina, ele funciona muito bem. Isso me leva ao questionamento que fiz no inicio
desse texto sobre expectativa. Durante todos os trailers e pôsteres, a figura
do Mandarim de Ben Kingsley serviu como símbolo do poder e do mal. O
departamento de marketing da Marvel agiu de forma brilhante aqui, e assim como
acontece na trama do filme, despistou completamente os fãs (e leigos) sobre o que
de fato é sua trama e de que forma o Mandarim funciona na produção e isso leva
a reflexão do ponto de vista cinematográfico. Nesse sentido, o Mandarim é
maravilhoso, talvez a grande sacada do estúdio Marvel até aqui. Uma ideia tirada da cartola que o aproxima do mundo real e cria uma discussão curiosa e
bastante válida em uma produção com interesses meramente escapistas (não é um
demérito tá gente, é só uma constatação, afinal ninguém vai ver um filme do
Homem de Ferro esperando uma discussão sobre o universo, não é?). Estou
verdadeiramente curioso para ver (e ler) as reações do público em relação a
esse personagem. De minha parte, fica o aplauso a ousadia da equipe do filme.
Downey Jr. conhece
o personagem como ninguém (usando um lugar comum). Por isso, dizer que ele
novamente acerta em cheio como aquele playboy redimido cheio de marra é chover
no molhado. Ben Kingsley como o citado Mandarim está no mesmo nível de Downey
Jr., divertindo-se com os elementos visuais e com o uso da linguagem por seu personagem.
Guy Pearce faz de Aldrich Killian, um Tony Stark sem charme, o que para a historia contada é
funcional, enquanto Don Cheadle volta à carga como um Rhodes menos sisudo.
Enquanto Gwyneth Paltrow tem mais destaque emocional, sendo a real
motivação para quase tudo que Stark faz na trama.
Em termos de ação,
a coisa funciona novamente muito bem. Que pese a quantidade inacreditável de
armaduras (que a gente sabe servem para vender toneladas de brinquedos) e que de
fato só acabam sendo usadas de forma efetiva em uma cena, a antecipada cena de
destruição da mansão de Stark é muito boa, assim como (minha favorita) a que
envolve um salvamento de uma serie de pessoas em pleno ar. Como em todo filme
de quadrinho que se preze, uma gigantesca sequência final aqui também se faz
presente e ela é divertida, explosiva e repleta de gadgets (no caso armaduras).
Tudo bem construído, fugindo do "piscou-perdeu" embora envolva uma quantidade
obscena de personagens e uma montagem frenética. O mesmo vale para a citada sequência
do avião, onde o sentido de urgência é evidenciado pela dificuldade em executar
o salvamento.
Homem de Ferro 3 é
uma aventura divertida e só. Talvez seja na medida do que de fato esse tipo de
produção deva ser, mas diante de um primeiro filme impactante e vindo do mega
sucesso de Vingadores, era de se esperar que Tony Stark tivesse seu primeiro
arco no cinema (se é que se pode dizer assim) melhor arrematado. Diverte, entretém,
faz rir, mas está longe do que o personagem e a Marvel mostraram poder fazer
com o herói.
Concordo plenamente com a sua visão do filme eu como apreciadora do Stark( infelizmente não consegui ler os quadrinhos ainda),esperaca muito mais do filme,acontecei exatamente o que você citou,muito uso do humor e elementos mal explicados.Digamos que os eventos ficaram muito repetitivos.Sem esquecer a falta de continuedade com Avengers e Iron Man 1 e 2ficoucou meio perdido a explicação sobre a síndrome do pânico que ele desenvolve( porque é o Stark ele não tem medo de nada,apenas de perder a Peper).O Mandarim foi uma sacada incrível da Marvel,um vilão que ganhou meu respeito,por mostrar a parte paranoica norte americana com terroristas e que muitas vezes o vilão não é quem está ali exposto.Enfim, eu só espero que os próximos filmes Capitão America e afins sejam mais bem desenvolvidos,para que não ocorra uma expectativa quebrada.Ps:Desculpa qualquer erro escrever no celular causa muitos erros.
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