Mama
(Mama, 2013)
Terror - 100 min.
Direção: Andrés Muschietti
Roteiro: Neil Cross, Andrés Muschietti, Barbara Muschietti
com: Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier, Isabelle Nélisse
Volto a tocar num
ponto que parece inevitável toda vez que se fala de algum novo filme de terror:
a dificuldade para encontrar uma produção que funcione como seu gênero pede.
Tramas insossas, efeitos visuais exagerados, sustos previsíveis ou até mesmo um
excesso de violência desnecessária a trama, tudo pode comprometer a experiência
assustadora que o filme pretende ter.
Porém, às vezes,
mesmo contando com uma serie desses elementos que dariam descrédito a qualquer
produção, a coisa funciona. É o caso de Mama. Méritos a equipe do filme que usa dos clichês a seu
favor, e diante de uma trama batida de fantasmas e crianças ligadas ao macabro
consegue encontrar uma forma de acertar no clima, com bons atores e soluções
óbvias e eficientes.
Primeiro com uma
trama que cria tensão em duas frentes, já que de saída apresenta o sobrenatural
ao colocar um pai perturbado - que acabará de chacinar colegas de trabalho e
sua mulher - levando suas duas filhas para o meio da floresta e sendo morto por
alguma coisa estranhíssima que nunca fica visível ao público. O filme então avança cinco anos no tempo e apresenta seus reais protagonistas, um jovem casal
moderno que o público alvo do filme consegue se relacionar de saída. Nikolaj Coster-Walden (o
galã Jaimie Lannister de Game of Thrones) é o irmão gêmeo do tal pai maluco e passou todo
esse tempo em busca do irmão e das sobrinhas. Ele vive com a namorada, Annabel (a
linda e talentosa Jessica Chastain em versão "garotinha rock'n'roll')
baixista de uma banda e que não tem grande vontade de ser mãe. Depois de muitos gastos com a busca, as
garotas são encontradas e o filme ganha sua segunda frente de interesse:
"como é que essas meninas sobreviveram e mais ainda, como é que elas estão
cinco anos depois de serem largadas sem nada no meio da floresta?"
O segundo motivo
para Mama funcionar bem é seu elenco. Se a já citada Jessica Chastain dá
credibilidade a uma personagem que tinha tudo para ser mas um esqueleto vazio e
sem força nas mãos de uma atriz com tendência maior ao escândalo, as jovens Megan Charpentier e Isabelle Nélisse (especialmente a primeira) estão no mesmo tom de Chastain buscando
encontrar emoções genuínas na interpretação dessas garotas que vão se
transformando de pequenas selvagens em garotas "normais". Por outro
lado, o galã Nikolaj tem um papel ingrato já que sua importância na trama é
sumariamente diminuída, deixando claro que esse é um jogo para garotas e que as
"Mamas" é que são as estrelas da companhia.
Isso leva aos
clichês do gênero que aqui estão todos representados. Temos aqueles sustos
óbvios com o auxílio da trilha sonora, aqueles vultos que atravessam a tela,
barulhos sinistros e até mesmo as - hoje populares - manchas escuras na parede
e insetos que simbolizam a podridão. Mas, mesmo assim, a direção de Andrés Muschietti é
eficiente e consegue manter o espectador preso com alguns momentos visuais
realmente bons, como a curta sequência que envolve uma brincadeira entre as
duas irmãs no quarto, vista em um ângulo que divide a tela em três quadrantes.
Na esquerda, temos a visão do corredor da casa e uma escada que liga o patamar
do alto (onde a sequência se passa) ao piso inferior. No centro a divisão dos
batentes entre as duas ações. E na direita uma visão do quarto. Mas Muschietti é
inteligente e nos mostra apenas uma fração do quarto, e quando vemos a pequena
Lilly (Nélisse) se divertindo e tentando se soltar de um lençol, somos sutil e assustadoramente surpresos. O diretor usa dos clichês para criar uma experiência muito
convincente e divertida, especialmente se você é um fã do gênero e identifica
esses símbolos.
E a tal Mama? Os
méritos vão para a escolha do estranhíssimo Javier Botet, que por baixo de uma boa
maquiagem e efeitos visuais que auxiliam os voos e outras aparições
fantasmagóricas, realmente convence como essa criatura macabra e com uma linguagem
corporal que desafia as leis da física. Muschietti é corajoso ao temer expor de forma
direta sua personagem principalmente na parte final do longa, o que demonstrar
ainda mais confiança na caracterização de Javier que consegue criar asco e
simpatia na mesma personagem.
Se não é uma
grandiosa produção, com inovações e etc, Mama é ótimo no que se propõe a fazer.
Uma historia de fantasma simples, direta ao ponto, com suas convenções e clichês, o que já é muita coisa em um período bastante complicado para o gênero.
Que bom, que ainda existam produções que não tentem surpreender o espectador de
qualquer jeito, mas que se atenha ao "arroz com feijão" que quando
bem temperado, sempre será suculento.
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