sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Eu Vi - 12 Anos de Escravidão

tempo para ver as estreias rarearam, mas continuo vendo filmes (e até algumas estreias porque não?). E quem quiser continuar lendo está convidado a acompanhar essa "nova fase" do blog. Resenhas (e não mais crítica longas) diretas ao ponto, sobre o que "andei vendo".



PS: vou tentar manter esse tipo de publicação constante.

12 Anos de Escravidão
(12 Years a Slave, 2013)
Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley
com? Chiwetel Ejiofor, Lupita Nyong'o, Michael Fassbender, Benedict Cumberbatch, Brad Pitt

Essa é uma daquelas histórias tão inacreditáveis que parece mentira. Solomon Northup era um músico na cidade de Nova Iorque, casado, com dois filhos e que vivia em uma cidade que - aparentemente - aceitava-o como membro de sua comunidade, sem questionar sua cor. Vale lembrar que no período em que o filme se passa, a escravidão ainda era uma nefasta realidade nos Estados Unidos e que Solomon era uma exceção. A trama mostra os doze anos em que esse homem foi sequestrado, vendido e trabalhou como escravo em fazendas no sul do país. 

Solomon encontra personagens com as mais diferentes morais, incluindo escravos que pensam apenas em si mesmo (como julgar?), donos de escravos que aparentemente são bondosos (porque, olha que bondade, não os tratam como animais) e o verdadeiro antagonista, o insano Edwin Epps, um cruel, amargurado e colérico dono de escravos com uma paixão obsessiva por uma de suas escravas. Mas, engana-se quem espera que o filme abusa do melodrama para contar sua história. Steve McQueen (diretor dos excelentes "Hunger" e "Shame") usa da solidão como forma de aprofundar a discussão sobre o tema. Quando o homem é alijado de sua liberdade e forçado a viver em condições sub-humanas, como conseguir forças para manter-se são e otimista? E principalmente, como não sucumbir e acreditar na mentira que o mantém preso? 

É um tema clássico e que o cinema já explorou. McQueen mesmo, em sua estreia ("Hunger") já foi mais graficamente ousado em mostrar o desespero da prisão. Aqui, ele opta por deixar a questão psicologicamente mais intensa e é auxiliado por um elenco muito inspirado. Como coadjuvantes, Benedict Cumberbatch é o "bom vilão", aquele sujeito que talvez seja mais prejudicial ao personagem principal do que aquele vilão insano e quase caricatural, já que ele mantém o status quo com educação e pequenos mimos, como - no caso do personagem, que é músico - um violino. Já Brad Pitt, tem uma aparição curta e fundamental para o ato final da produção. Embora possa se ver aqui uma crítica ao "negro que precisa da ajuda de um branco para conseguir vencer", nesse caso ela me parece tola. Na situação do filme, seria impossível qualquer outra solução. Michael Fassbender beira o caricato em alguns momentos, mas sua psique deturpada em que se prende a um casamento absolutamente falido e mantém um tesão monstruoso e doentio por sua escrava favorita o faz um vilão insano, capaz de "qualquer coisa". E por fim, Lupita Nyong'o, um fenômeno. Doce e melancólica, é facilmente o personagem mais vulnerável da trama, com sua timidez e dificuldade em lidar com os problemas.

E Chiwetel Ejiofor que estrela a produção caminha pelo conflito. Ele sabe que vive uma injustiça, mas precisa manter-se são e portanto se ocupar. Em alguns momentos, parece que Solomon esquece de sua situação e desiste de uma fuga, tentando de fato apenas sobreviver. O ator vai da intensidade e revolta no começo, a apatia, ao sonho e a resignação em uma interpretação realmente muito boa. McQueen não fez aqui seu filme mais impressionante (acho "Shame" seu melhor trabalho), mas o mais importante, o que melhor se relaciona com a audiência. E por isso, o sucesso alcançado. Um dos ótimos filmes de 2013, e que mesmo com falha pontuais (a passagem de tempo é truncada, por exemplo) é verdadeiramente acima da média.

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