domingo, 4 de julho de 2010

Esquadrão Classe A
(The A-Team, 2010)
Thriller/Ação - 117 min.

Direção: Joe Carnahan
Roteiro: Joe Carnahan, Brian Bloom e Skip Woods

Com: Liam Neeson, Bradley Cooper, Jessica Biel, Quinton "Rampage" Jackson, Sharlto Copley, Patrick Wilson

A Série Esquadrão Classe-A é grande conhecida de uma geração de adultos. Uma série descompromissada e cheia de ação que tinha personagens carismáticos, episódios divertidos e um nível técnico acima da média. E ainda tinha Mr. T., engraçado e bad-ass em um papel que fez parte de uma geração e que deu evidência ainda maior para o astro. E, como todo grande sucesso da TV, a série atraiu os olhos hollywoodianos, ávidos por novas franquias, mesmo que isso nunca tenha rendido um ótimo filme nas telas. Para cada As Panteras, temos dois Sou Espião. Porém, com o tempo, o filme dos 4 especialistas no absurdo tomou forma e com uma excelente parte técnica. Liam Neeson tinha abraçado o projeto, o elenco estava ótimo, o estiloso Joe Carnahan assumia a direção e até mesmo haviam arrumado um cara parecido com o Mr. T.

Enfim, o resultado visto nas telonas é recompensador. O filme tem seus defeitos, que não são poucos, mas agrada demais. Diversão garantida e que respeita o espectador, entrando no cinema com méritos. Ao público antigo, old-school, fã da série, temos um filme respeitoso e que flerta com novos horizontes, servindo como um prelúdio da série, um A-Team Begins, não só modernizando os personagens como mantendo o espírito de cada um deles. As situações inverossímeis da série também estão aqui e só estão presentes para divertir ainda mais. Aos não-iniciados na série, temos um legítimo produto feito pra entreter por 110 minutos, que só tem a agradar mais quando visto pela segunda vez e que consegue algo que é raro e emocionante hoje em dia: cria um interesse em conhecer mais a série antiga.


A trama, assumidamente rasa, acompanha um time de soldados especiais que se encontram pela primeira vez 8 anos antes do filme. Nesse primeiro encontro, descobrimos que dois desses soldados são Hannibal (Liam Neeson) e Cara-de-Pau (Bradley Cooper) e que Hannibal está tentando salvar Cara-de-Pau de uma gangue. Porém, Hannibal precisa de um furgão. E Bosco Barracus (Quinton Jackson) está na cidade com seu furgão e encontra Hannibal no meio do deserto. Uma operação absurda depois, incluindo uma divertidíssima sequência de helicóptero, pilotado pelo insano Murdock (Sharlto Copley), e o time está formado. Porém, 8 anos depois, o grupo é acusado de traição pelo roubo de formas de dinheiro no Iraque. Presos, eles recebem a ajuda de Lynch (Patrick Wilson) e tem que provar sua inocência.

O roteiro, escrito por Briam Bloom, Joe Carnaham e o irregular Skip Woods, agrada bastante pela consciência do que ele representa. É um roteiro previsível, cheio de situações arquetípicas, mas recheadas de humor e que se assumem divertidos, sem grandes ambições. Entretenimento é a chave segundo os escritores e isso é ótimo. Em tempos de ambiciosos remakes épicos e pancadaria descompassada de robôs, Esquadrão Classe A encontra um espaço. Por mais inverossímeis que sejam as situações (a sequência do tanque é insana), elas fazem sentido e não ofendem. E a construção de personagens, uma especialidade da série e essencial pra uma possível franquia, é excelente e só ajuda o filme. Sem contar a fidelidade á série. Hannibal continua genial, Cara-de-Pau continua irresponsável, B.A continua sendo um brutamontes sensível e Murdock está mais maluco que nunca. Falando em Murdock, suas tiradas de humor são fantásticas, abrangendo de Blue Man Group até mesmo a nacionalidade de Sharlto Copley.


Nas partes técnicas, o filme também agrada. A direção de Joe Carnahan não tem a marca assinada e estilo esbanjado como em Narc e A Última Cartada, mas tem bons enquadramentos e fluidez nas cenas de ação. Acompanhando a direção, temos uma edição igualmente fluente. A fotografia do oscarizado Mauro Fiore faz uma boa homenagem á série, com tons desérticos e insiste na mania atual de retratar o Bem com tonalidades azuis e o Mal com tonalidades laranjas. Apesar de clichê, serve e é mediana. A trilha sonora de Alan Silvestri também homenageia a série e cria uma trilha tipicamente americana e com tons patrióticos, bem de exército.

Nas atuações, pontos a mais, apesar de um enorme incômodo. Liam Neeson está no limite do caricato, o que funciona. Não espere ver uma magistral atuação do ator e todos sairão satisfeitos. Bradley Cooper também segue esse ritmo, mas por estar em início de carreira, já dá pra ter um panorama maior dela. Atingindo o ápice do action guy aqui, o ator se concretiza como um ator de blockbuster acima da média, sendo engraçado quando pedido (Se Beber não case!) e tendo carisma quando pedido (como aqui). Quinton Jackson tinha a tarefa mas árdua do elenco, mas capta perfeitamente o carisma e o bom coração de B.A. Ainda mais no final, quando seu lado brutamontes entra em evidência. E, a melhor atuação, Sharlto Copley. O excelente ator de Distrito 9 já provou que tem densidade dramática, mas aqui ele mostra seu lado cômico. São dele as melhores tiradas do filme e até nas sequências de ação, suas tiradas insanas servem. Não só pra entreter, mas também pra construir o personagem como um cara insano. Jessica Biel, no papel da Agente Sosa, só serve pra ser um colírio e não compromete.



Porém, existe o tal incômodo já citado. E ele responde por Patrick Wilson. Estranho pensar que o competente ator de Watchmen e Pecados Íntimos tenha feito um personagem tão estúpido e ridículo como Lynch. Quando tem que ser engraçado, ele exagera na dose e quem dá as cartas é a vergonha alheia. Quando tenta fazer algo mais sério, tenta fazer a caricatura do vilão. Tão esdrúxulo que só faltava ele pedir pro mocinho passar para o lado dele no final. Enfim, suas cenas são tão fracas que o filme até perde ritmo, incomodando um pouco.

Apesar de Wilson, Esquadrão Classe A flui muito bem e aposta nas cartas certas, provando que entretenimento puro e divertido pode render bons filmes, sem incomodar a crítica. Apesar de não ser relevante artísticamente, vale a pena gastar dinheiro com o filme. Joe Carnahan, apesar de ter acabado com seu lado autoral e ter se rendido aos caprichos de estúdio com esse blockbuster, consegue criar um universo divertido e interessante, apesar da densidade dramática zero. Agora fica a torcida pro filme arrecadar bastante, pra que haja uma sequência tão frenética quanto essa.


Um comentário:

  1. Seguiu uma vertente muita parecida com Miami Vice: é um projeto completamente diferente da série que passava na TV. Achei mediano também. Vale pelo Liam Neeson (baita ator!) e, claro, não me canso de ver a Jessica Biel.

    Cultura? O lugar é aqui:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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