sábado, 3 de julho de 2010

Harry Brown
(Harry Brown, 2009)
Thriller - 103 min.

Direção: Daniel Barber
Roteiro: Gary Young

Com: Michael Caine, Emily Mortimer


Quando vi o trailer de Harry Brown, a primeira imagem que me veio a cabeça - e pelo que li internet afora não foi uma impressão somente minha - é que Michael Caine faria o seu Desejo de Matar. Como o cinéfilo sabe a série de quatro filmes citada era sobre um homem comum que se via numa posição de revanche contra aqueles que lhe faziam mal. O vigilantismo pregado pelo personagem de Bronson, inspirou - e imagino não tenha sido o primeiro a fazer isso - dezenas de outros filmes. A imensa maioria sem um pingo de qualidade ou carisma que o genial Charles Bronson tinha nesse e em diversos outros papéis durante sua longa e subestimada carreira.

Harry Brown era uma gigantesca oportunidade para o vigilantismo ser novamente bem representado em tela. Tinhamos uma história simples - que não era mostrada no trailer - , o que eu particularmente sempre prefiro e Sir Michael Caine. A geração mais nova talvez não saiba, mas durante muitos anos Caine foi sinônimo de filme policial com The Italian Job (original), Carter-O Vingador, Jogo Mortal entre outros. Caine era o símbolo do filme policial britânico e se hoje usualmente o vemos como o "velhinho" simpático e inofensivo, é muito em função de sua (óbvia) idade. Caine é dos mais completos atores vivos (se não for o maior). Um mestre e um dos mais precisos em cada filme que apresenta.


E é quase que exclusivamente por Caine que Harry Brown sobrevive. Sua interpretação carregada de reflexões sobre sua própria finitude é um achado - um dos poucos - do filme do diretor Daniel Barber. Muito mais um estudo sobre a passividade da sociedade do que propriamente um filme de vingança Harry Brown começa lento e claudicante, não sabendo se acompanha Brown, ou se estuda a sociedade. Se tivesse permanecido apenas em Brown as comparações antecipadas com os filmes de Bronson caberiam melhor. Mas Brown não é mostrado como um homem comum, mas sim como um homem a beira do abismo. Totalmente destruído por sua própria vida e fragilizado e passivo em sua velhice e nos derradeiros passos para o fim. Essa passividade é o reflexo do que Barber e seu roteirista Gary Young vislumbram de sua sociedade. Um povo encolhido e medroso frente ao inimigo que mora ao lado.

O inimigo por sua vez é mostrado como alguém sem causas e sem ideiais - exemplificado em um diálogo do próprio personagem de Caine no filme - uma massa acerebrada e que lida com a violência como um jogo, como uma diversão ligeira.

É uma pena que a discussão sobre a violência que o filme ensaia fazer fique apenas na intenção, pois as lentes do diretor voltam-se para a vingança - esperada é verdade - do homem contra o meio. E ao optar por essa saída perde-se um possível diferencial frente a outras obras. Harry Brown torna-se mais um filme policial mediano e sem graça em muitos momentos.


O ritmo talvez seja o principal inimigo do filme. Apesar de ter inacreditáveis 103 minutos, o filme parece sofrer de algum complexo sobrenatural, já que sua primeira meia hora é "gorda", repleta de informações interessantes que prendem a atenção e transformam trinta minutos em duas horas, tal quantidade de situações relevantes que são apresentadas. Depois disso o marasmo toma conta e o restante dos minutos voa e o espectador se pergunta: "o que eu perdi?" A resposta é cortante e objetiva: "Absolutamente nada". A excessão de uma tentativa de sequência de matança na metade do filme e de um ataque do nosso "herói" a dois traficantes, nada de mais acontece. Nem mesmo os dez minutos finais, que tradicionalmente são cercados de adrenalina e visceralidade conseguem convencer. Tudo é muito esteril e ainda ousa machucar quem assiste com uma revelação inoportuna - para ser delicado.

Nem tecnicamente Brown consegue sair do marasmo narrativo. Trilha (de Ruth Barrett e Martin Philips) mediana, edição (Joe Walker) e estilo de direção clássico e fotografia (Martin Ruhe) que apenas tenta ampliar os cenários, tranformando-os em grandes quadros. O problema é que estamos num filme urbano, cinzento e escuro e esse recurso não funciona tão bem. Talvez uma aposta mais "suja" funcionasse melhor.


Harry Brown tinha muito potencial. A dupla Caine/filme policial já foi brilhante. Uma pena que esse não será lembrado como um dos trabalhos a se juntar na galeria do grande ator inglês.

2 comentários:

  1. Apostava muitas fichas nesse, mas desanimei de vez de ver.

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  2. Adorei o filme!! Achei o ritmo do filme ótimo, envolvente; e a atuação do Michael Caine é jóia! Para quem tiver interesse, eu mesmo escrevi uma pequena crítica no meu blog em janeiro (www.midnightdrivein.blogspot.com). Além disso, uma pequena correção: a série Desejo de Matar teve 5 filmes, sendo o último o mais violento, na minha opinião.

    No mais, parabéns pelo ótimo blog!

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