sexta-feira, 30 de julho de 2010


O Filmes para ver antes de Morrer nunca tentou - e nem vai tentar - criticar ou analisar uma obra que por motivos óbvios está no panteão das maiores (na opinião da equipe) já produzidas pela sétima arte, por isso o espaço aqui é para relembrarmos, homenagearmos e apresentarmos a quem não viu, grandes filmes da história do cinema.

Hora do Lobo 
(Vargtimmen, 1968)

O pesadelo segundo Ingmar Bergman

Ingmar Bergman, o maior e mais famoso cineasta nórdico, sempre tentou dar significados a suas obras, sejam elas comédias, dramas, análises do ser humano e até filmes de terror. Hora do Lobo é um filme de terror, e não é. Uma mistura de filme "sobre" o terror, paranóia e pesadelo com algo a mais. Esse a mais cabe ao espectador entender como quer. 

Diante da escuridão expressa em cada plano do diretor sueco muita interpretações podem ser percebidas e cooptadas a um raciocínio.

No livro 1001 Filmes para ver Antes de Morrer - sempre um bom guia para obras desconhecidas e com textos análiticos interessantes - o crítico Michael Tapper diz que Hora do Lobo pode ser vista como "...o tormento espiritual do artista " e complementa "este é um filme de completo horror sobre um artista sensível (embora não muito simpático) feito espiritualmente em pedaços por seus críticos demoníacos e pela platéia". 

Michael faz uma análise simbólica do que representa o terror e medo e a sensação de paranóia constante enfrentado pelo personagem de Max Von Sidow. No texto, Michael apresenta como argumentos para sua tese o fato do personagem de Von Sidow encarar o mecenato de um casal burgues como elementos de menosprezo a sua arte, como se os dois fossem mortos-vivos, que de forma predatorial usam o artista. Outro elemento apresentado por ele é a sequencia lisérgica e perturbadora no castelo que o autor interpreta como "A humilhação final acontece na cena em que Johan se descobre utilizando uma maquiagem de palhaço, feminina e recebe provocações de sua amante Veronica Vogler (Ingrid Thulin) enquanto seus algozes observam no escuro dando risadas".

Já Adam Simon no livro 101 Horror Movies You Must See Before you Die diz sobre Hora do Lobo: "Verdadeiros filmes de pesadelo nunca são filmes sobre pesadelos em si. Eles se concentram mais na insônia".

As duas interpretações são válidas mas o filme de Bergman é mais do que crítica ao mundo dos espetáculos ou uma visão dolorosa do mundo dos sonhos, é uma viagem pela mente perturbada e paranóica de um homem assustado por seus fantasmas e pela escuridão de sua mente. Isso se reflete em cada atitude do personagem de Von Sidow. Ao mesmo tempo que  sua esposa (Liv Ullman, belíssima) é tão servil e apaixonada que não enxerga e não tenta se desvencilhar dessa condição mental deteriorada que seu marido enfrenta.

Isso regado a um uso da sombra fabuloso, de efeitos visuais inteligentes, de tensão eterna - que não é causada por sustos, mas pela condução do diretor - e um final eliptico.

Afinal com quem Alma sempre conversava? Um diretor de um filme, como a abertura indica? Ou a alguma entidade que veio "buscá-la"? E se falava porque razão? Solidão?

Bergman, como sempre, é vago nas respostas. Deixa o espectador conjecturar e criar suas próprias interpretações. Metafisicas, criticas, científicas, filosóficas ou religiosas. Quase todas válidas e defensáveis pelo próprio filme. Um caso raro de diretor que dizia realmente algo por trás das camadas de significado.




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