quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Amanhã Nunca Mais
(Amanhã Nunca Mais, 2011)
Drama/Comédia - 78 min.

Direção: Tadeu Jungle
Roteiro: Marcelo Muller, Maurício Arruda e Tadeu Jungle

Com: Lázaro Ramos, Fernanda Machado, Maria Luísa Mendonça e Milhem Cortaz

Quando a sinopse de Amanhã Nunca Mais foi ventilada, minha primeiríssima impressão foi a de que Tadeu Jungle iria transferir a atmosfera da sub-valorizada comédia Depois de Horas, (uma pequena jóia de Martin Scorsese que sempre fica meio de lado quando comparada aos seus filmes mais populares) para a caótica cidade de São Paulo. A história - no papel - de um médico anestesista que com o casamento em crise precisa realizar uma tarefa aparentemente simples (levar o bolo de aniversario de sua filha até sua casa) e que durante uma noite acaba enfrentando uma série de problemas para cumprir seu objetivo, tem um potencial cômico incrível, mas não é dessa forma que Amanhã Nunca Mais é apresentado ao público.

Caracterizado mais como uma comédia involuntária e uma jornada voyeurística ao lado de um patético homem que não consegue se impor sobre sua vida, o filme funciona como auto-ajuda para os travados e como alegoria para o caos urbano disfarçado de crítica social.

Walter (Lázaro Ramos) começa o filme na Praia Grande, reduto (segundo o filme) de tudo que é mais característico na mediocridade do ser humano. Muita gente feia, comida gordurosa, crianças gritando, aquela bagunça típica que retrata uma vida medíocre e óbvia, De cara, Jungle, retrata seu protagonista como alguém preso nessas convenções e que se vê fadado a um casamento em ruínas com Solange (Fernanda Machado). Ao tentar remediar os problemas enfrentando a aventura do tal bolo, Jungle prefere fugir da risada fácil apostando na comédia da "vergonha alheia", nos fazendo acompanhar a trágica trajetória de um homem que não sabe dizer não.


Lázaro, contido, é sempre uma aposta certeira. Aqui, tomado pelo sentimento de vergonha (pela própria vida talvez?) faz de Walter uma mistura de Michael Douglas em Um Dia de Fúria e Nicolas Cage em Vivendo no Limite, dois filmes que tratam da influência do caos urbano nas pessoas.

Diferente dos dois citados, no entanto, Amanhã Nunca Mais é mais leve e coloca a cidade e seus problemas como mais uma questão na vida de Walter. Reside nessa abordagem o principal problema do filme. Ao invés de se manter fiel a sua narrativa sobre o patético personagem, prefere incluir toda uma sorte de coadjuvantes que são caricaturas exageradas que servem para tentar fazer graça, o que conseguem muito raramente.

A montagem do filme também não ajuda. O uso excessivo de fades e os planos em que a câmera subjetiva acompanha o carro de Walter são muito longos, fazendo o ritmo do filme (que é bastante curto) cair.


A opção de usar muito close e câmera na mão é um acerto, já que auxilia a ideia de realismo e de constante tensão na vida do personagem. A cidade sempre fotografada na penumbra consegue surgir ainda mais rígida e sem vida, outra ótima saída do time de fotógrafos.

Uma pena que Amanhã Nunca Mais, seja curto demais e tenha problemas de ritmo, já que a ideia de uma comedia sem risadas e um protagonista tão bobalhão é raro (para não dizer inédito) no recente cinema nacional.


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