Happy Feet 2
(Happy Feet 2, 2011)
Comédia - 100 min.
Direção: George Miller
Roteiro: George Miller, Warren Coleman, Gary Eck e Paul Livingston
Com as vozes de: Elijah Wood, Robin Williams, Pink, Common, Sofia Vergara, Hugo Weaving, Hank Azaria, Matt Damon e Brad Pitt
O que me incomoda em Happy Feet 2 (para já abrir a discussão) é o excesso. Tudo é exagerado, em doses cavalares, como se cada frame e cada segmento do filme precisasse ser espetacular, tanto visualmente quanto como conceito. Tudo precisa brilhar, tudo precisa ser mágico. E todo esse excesso só prejudica a história que poderia a princípio ser até mais impactante do que a do filme original.
Se o discurso "verde" era escancarado no primeiro filme, nesse ele aparece de forma muito mais sutil, deixando aos mais velhos (e espertos em teoria) o trabalho de perceber que a base da história continua a ser um manifesto cheio de cantoria pela preservação da natureza.
Dessa vez acompanhamos Erik, o pequeno e gorducho pinguim Imperador filho de Mano, o herói do filme original, que assim como o pai enfrenta problemas por ser diferente. Se Mano não sabia cantar no original e aceita sua condição de sapateador, Erik não canta, nem dança e portanto é ainda mais excluído que o pai, que por sua vez demonstra não ter muito tato para lidar com os problemas do filho. Quem o ajuda é sua esposa Glória, sempre amorosa e paciente.
Durante uma crise de auto-afirmação do garoto, Erik se vê inspirado pelo amalucado Ramón, a partir de sua tribo e buscar um lugar onde "ninguém mais possa rir de suas diferenças". Ao seu lado os também pequenos, roliços e certamente objetos de desejo de dez entre dez crianças do mundo, Bo e Atticus partem para a terra de Ramón, onde conhecem O Incrível Sven, um pretenso pinguim que tem a capacidade de voar, e que conta a história do salvamento de Lovelace, o líder espiritual do bando de Ramón. Inspirado pelo discurso de Sven, que repete a ladainha de auto-ajuda "se você quiser, você consegue", Erik passa a admirar o penoso.
Ao mesmo tempo (e aí entra o discurso disfarçado) as calotas da Antártica estão em processo de derretimento e um gigantesco iceberg impede que os pinguins Imperadores de saírem de seu habitat em busca de comida. Logo Mano e os pequenos pinguins precisam encontrar uma forma de ajudar os demais pinguins presos.
Visualmente, Happy Feet é espetacular. Talvez a animação mais bonita do ano, com um cuidado assombroso no tocante aos detalhes dos cenários em que o filme se passa e na construção dos personagens, tanto os principais (pinguins), quanto na fauna de animais que povoam o filme, sejam eles elefantes marinhos, gaivotas, baleias, águas-vivas, e os hilários Will e Bill, dois krills que roubam a cena, fazendo dos personagens aquele alívio cômico e mais cínico destinado aos adultos.
Ainda sobre o visual, o escopo que George Miller consegue dar ao seu filme é mais intenso e vasto do que a maioria dos filmes ditos épicos que o cinema apresenta dia a dia. São planícies vastas, icebergs realmente gigantescos, navios que - na perspectiva dos animais - são maiores que a vida e um cardume de krills que tinge de laranja a imensidão escura do mar do Pólo Sul.
Outra qualidade visual é o cuidado na confecção do gelo e da água, que quando são focalizados - ou estão em primeiro plano - surgem individualizados, diferenciados. É como se cada cristal de gelo fosse diferente de seu "irmão" e cada trecho do mar também tivesse uma solução química diferente. O 3D, aqui é bem empregado, resultado em uma experiência muito satisfatória, não só nas ótimas sequencias de ação, mas nas mais épicas que dão ainda mais dimensão ao que é visto na tela.
Como disse no começo da crítica, o calcanhar de Aquiles do filme são os excessos. Aqui é o excesso de personagens e de canções. Se no primeiro filme, a ideia da cantoria fazia total sentido já que é uma característica dos pinguins Imperadores, aqui é tudo usado de forma exagerada, com um leque melódico que vai do hip hop a ópera, passando por versões de bandas de rock, música pop e até country music. A impressão que dá é que existia um roteiro sem as canções, e que elas foram sendo encaixadas a partir do momento em que elas pudessem - em teoria - substituir alguns diálogos.
As canções pop e conhecidas são descoladas do restante da história, tendo função de "surpreender" o público, fazendo-o notar - talvez - as referencias e o gosto musical de quem produziu o filme. Já as canções originais (se minha memória não falha, três) são infelizmente medianas. Se a canção de Lovelace (cantada por Magal na versão em português) tem bom ritmo, uma letra divertida e momentos visuais ótimos, a canção de Glória para seu filho é uma cafonice inacreditável, uma mistura sem gosto de música gospel e R&B, com uma letra que tenta ser profunda. Mas nada é mais exagerado e mal realizado (pelo menos na versão em português, já que a cabine de imprensa não ofereceu a versão legendada) do que a canção que Erik canta para seu pai. Se a letra é tocante e a melodia muito boa, a sensação Chimpmunck da execução deixa tudo a perder.
A dublagem não é ruim, embora os pequenos pinguins sofram um pouco com a juventude (óbvia) de seus interpretes. Já Daniel de Oliveira e Sidney Magal (os dois famosos do projeto) tem bons momentos, em especial Magal que até canta. Dá turma em inglês - que pudemos ouvir em apenas algumas canções - Pink é de longe o grande destaque. Além de ser dotada de uma voz única, interpreta com grande intensidade.
Happy Feet 2 é para a criançada. Os excessos incomodam e os adultos devem estar preparados para a obsessão da criançada pelos redondos e saltitantes pinguins.
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