sábado, 12 de novembro de 2011

Os 3
(Os 3, 2011)
Drama - 80 min.

Direção: Nando Olival
Roteiro: Nando Olival e Thiago Dottori

Com: Gabriel Godoy, Victor Mendes e Juliana Schalch

Mistura de drama indie com crítica a cultura dos realities shows, Os 3 é uma aposta em jovens interpretes (quase todos iniciantes) e em uma história que pretende ser moderna e ousada, mas que esbarra nas limitações de seus próprios atores, em relações humanas que escorregam no melodrama e que deixam o discurso critico ao reality show vazio.

Os 3 são Cazé (Gabriel Godoy), Camila (Juliana Schalch) e Rafael (Victor Mendes), jovens recém chegados à selva de pedra de São Paulo para estudar em uma universidade, que decidem morar juntos, por comodidade, por se darem bem e por entenderem que apenas juntos poderão vencer suas carências, problemas e sobreviver em mundo duro. Durante os quatro anos que passam juntos, a única regra do relacionamento entre eles é de que não pode haver nenhum envolvimento sexual/amoroso entre os 3.

Claro que, sendo Camila uma mulher interessante e Rafael e Cazé, dois jovens com os hormônios a flor da pele, que essa regra é quebrada. A primeira parte do filme se ocupa de nos apresentar os personagens e a dinâmica da relação entre os três. Para isso, usa uma didática e desnecessária narração em off, que além de encher o filme de frases de efeito piegas ainda é mal realizada, já que soa como um jogral.


Os personagens são vazios e pouco nos é dito ou mostrado que desfaça a impressão de que estamos lidando com garotos mimados, sustentados pelos pais e que estão na capital para se livrarem do tédio do interior enquanto fumam, bebem e fazem nada.

Essa idéia é quase 100% verdadeira, se não fosse a solução inteligente e criativa apresentada pelos três durante sua espécie de trabalho de conclusão de curso na universidade. A idéia é acompanhar a rotina de pessoas comuns com câmeras "escondidas" ao mesmo tempo em que tudo na casa habitada estaria à venda via e-commerce. Uma mistura de Big Brother com Polishop.

Um inescrupuloso diretor de marketing de uma empresa, que acompanhava a apresentação propõe ao trio que eles protagonizem esse bizarro reality show. Desesperados com falta de dinheiro e com a possibilidade de continuarem juntos longe do mundo real, e trancados na redoma de proteção e alegria, os três topam. Essa crítica ao reality show, como novela da vida real, com gente ganhando muita grana com a "verdade" alheia é muito inteligente. Além de ser facilmente compreendida, garante momentos de muita ironia, com os três planejando uma série de reviravoltas dramáticas e realmente tentando criar personagens, tudo com a intenção de ganhar views. Todo o arco desenvolvido aqui é muito bom, com um destaque especial para os coadjuvantes que servem como base para a criação desse pequeno show de horrores na internet.


Mas, novamente deixando claro, que apesar de vender-se como modernoso (com direito a mulher dividindo cama com dois caras, numa mistura de Aline com Dona Flor e beijo gay no melhor estilo E Sua Mãe Também) no fundo, o filme fala sobre um casal que se ama e tem medo de se assumir e de uma terceira força que merece o carinho e o respeito do casal. Quando o "objeto estranho" é introduzido na realidade desse triângulo amoroso estranhíssimo e muito mal resolvido, a reação é a catarse e a explosão de sentimentos.

Os 3 é um filme pela metade. Não conseguimos torcer por aqueles personagens pois não os conhecemos de verdade, e aquilo que nos é mostrado é fútil e vazio. São jovens fracos e perdidos que não conseguem conquistar nosso afeto e atenção. Por outro lado, a crítica mais do que justa ao mundo da tv "real" é ainda atual e ressonante. Não chega aos pés da ironia presente na obra prima de Peter Weir, Show de Truman (ainda a quintessência do "gênero"), mas tem momentos inspirados e sequências interessantes, soando assim como uma obra diferente dentre as muitas lançadas comercialmente no país, que em geral, apostam na comédia rasa e no humor vulgar.

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