quinta-feira, 10 de maio de 2012

O Exótico Hotel Marigold


O Exótico Hotel Marigold
(The Best Exotic Marigold Hotel, 2011)
Comédia/Drama - 124 min.

Direção: John Madden
Roteiro: Ol Parker

Com: Judi Dench, Tom Wilkinson, Maggie Smith, Bill Nighy, Dev Patel, Penelope Wilton, Ronald Pickup e Celia Imre

O público da chamada terceira idade tem muito pouca chance de se ver retratado no cinema de forma mais ativa. Em geral, o cinema costuma retratar os mais velhos como coadjuvantes engraçados ou como cidadãos em final de vida, ou mesmo como conselheiros. Assuntos como amor, sexualidade e sonhos quase nunca têm vez na produção cinematográfica contemporânea.

Por isso, por mais que seja cheio de mensagens que beiram a fábula, O Exótico Hotel Marigold é um dos filmes mais gostosos de assistir que vi nesse princípio de 2012. Apostando em uma história ora tocante, ora singela, ora simplesmente direta e engraçada, o filme consegue ilustrar uma serie de sentimentos inerentes a qualquer um de nós, independente de idade.

A historia fala de um grupo de idosos que infelizes, traumatizados ou simplesmente entediados decidem atender ao chamado visto na internet - sim, olha só, idosos que usam computador - de um hotel encravado na Índia que oferece aquela dose de aventura que muita gente sente falta na vida.


Evelyn (Judi Dench) é uma recém viúva que luta para descobrir como fazer sua vida funcionar depois que seu marido falece e a deixa completamente perdida e sem dinheiro. Graham (Tom Wilkinson) acaba de se aposentar como juiz da suprema corte inglesa e parece partir para a inevitável jornada rumo ao esquecimento. Douglas (Bill Nighy) e Jean (Penelope Wilton) são um casal juntos há muitos anos que estão vendendo sua casa e muito possivelmente a caminho de um asilo. Muriel (Maggie Smith) é uma senhora com um grave problema no quadril que precisa desesperadamente de uma cirurgia. Norman (Ronald Pickup) é um solteirão que vive - sem sucesso - tentando encontrar uma mulher e Madge (Celia Imrie) faz o mesmo, só que a procura de homens solteiros e ricos.

Essas muitas histórias se interligam quando todos partem com destino ao Hotel Marigold, um decadente e quase arruinado lugar administrado pelo sonhador - e nada prático - Sonny (Dev Patel) que vende um lugar que não existe e que causa o primeiro choque cultural para os recém chegados britânicos.

Choque cultural é outro assunto abordado no filme, que mesmo que esbarre no colonialismo para colocar os personagens ingleses como "salvadores" em alguns plots da historia, é respeitoso com os indianos e sua cultura, mesmo quando coloca alguns de seus personagens - a de Maggie Smith em especial - como ferrenhos críticos daquela gente.


A direção é do mediano John Madden - o mesmo do insuportável Shakespeare Apaixonado - e que aqui faz seu melhor filme. Longe de ser uma obra prima, mas é simpático, emocionante, divertido e direto. Hotel Marigold é uma boa historia sobre envelhecer com dignidade sem tentar catequizar ninguém.

Porém, as muitas linhas narrativas se atrapalham em certo momento do filme. A eliminação de um ou dois personagens do filme faria bem a fluência do material. Os personagens de Norman e Madge apesar de serem razoavelmente engraçados são os mais desnecessários e a supressão deles faria bem aos demais personagens. A historia do personagem de Dev Patel (esforçado, mas mesmo assim, a pior coisa do filme) é outra que poderia ser eliminada. Apesar de apresentar ao publico as tradições de um pais, mais uma historia clichê de "amor proibido" não ajuda em nada o filme, apenas o arrasta por mais do que o necessário, já que o importante são as historias daqueles hospedes no hotel.

Muita gente também pode torcer o nariz para a ideia de fábula que o filme parece propor. O personagem de Patel vive usando a frase: "Na Índia, temos um ditado: tudo vai dar certo no final. Então, se não estiver tudo certo, é porque ainda não é o final". Uma ótima frase de efeito, digna do melhor da auto-ajuda diriam os mais cínicos (eu me incluo nesse grupo), mas que no contexto do filme é simpático.


Apesar da falta de pretensão do filme (que não quer mais do que apenas nos divertir e passar sua mensagem) o elenco é dos melhores reunidos. A excelente Judi Dench - que funciona como a protagonista do filme - está muito segura como Evelyn, que passa por transformações maravilhosamente retratadas pela atriz. Se surge aborrecida ou lutando contra suas memórias ou o amor, a brilhante atriz faz um trabalho glorioso. Bill Nighy é outro que se destaca, principalmente quando foge das caretas que muita gente não consegue desassociar ao ator. Douglas é outro personagem que cresce demais durante o filme, principalmente em relação a seu relacionamento com Jean, a ótima Penelope Wilton. Já Maggie Smith é o alivio cômico (que funciona) do filme. Dona de um timing para a comédia invejável, ela faz da sua personagem uma mulher cínica, amarga, mas profundamente divertida. E Tom Wilkinson tem o arco mais dramático e surpreendente, delicadamente retratado pelo ator. Infelizmente, é uma pena que a produção opte pela saída mais covarde possível para seu personagem. Uma pena, já que sua história - ao lado da de Evelyn - é a mais interessante do filme.

O Exótico Hotel Marigold é um "feel good movie" dos melhores. Sincero sobre sua ideia de dignidade até o fim da vida, sobre aprender e - por que não - mudar sempre e sobre aproveitar cada segundo nesse planeta para encontrar e manter a felicidade.

Um comentário:

  1. Saiba mais sobre o filme e veja detalhes dos bastidores na página oficial: https://www.facebook.com/oexoticohotelmarigold

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