quinta-feira, 27 de junho de 2013

Amantes Passageiros

Amantes Passageiros
(Los Amantes Passajeros, 2013)
Comédia - 90 min.

Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar

com: Antonio de la Torre, Hugo Silva, Miguel Angél Silvestre, Javier Cámara, Carlos Areces, Raúl Arévalo, Guillermo Toledo, José Luís Torrijo, Lola Dueñas, Cecila Roth, Paz Vega

Marcando o retorno de Pedro Almodóvar as comédias rasgadas que beiram o non-sense, Amantes Passageiros não chega a rivalizar com as obras mais antigas do diretor (como Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos, Kika, De Saltos Altos, Ata-me, A Lei do Desejo), mas é uma indicação de que Almodóvar talvez esteja voltando aos temas e ao clima dessas primeiras produções. Um mundo mais ácido e irônico, onde suas críticas a "moral do povo espanhol" eram diluídas pela comédia de diálogos espertos e ágeis.

Amantes Passageiros coloca uma fauna de personagens excêntricos presos dentro de um avião com problemas para pousar. Na primeira sequência do filme, acompanhamos um imprevisto que envolve o responsável por manter as rodas do avião "calçadas" (participação especial de Antonio Banderas) e a responsável por levar as malas para a mesma aeronave (Penelope Cruz). Por causa dessa confusão, o avião parte com o trem de pouso avariado. Para conter o eventual desespero dos passageiros, toda a classe econômica é sedada pela tripulação, restando acordados apenas os pilotos, os comissários de bordo e alguns poucos passageiros da primeira classe. Obviamente, essa também é uma estratégia para diminuir o numero de personagens, deixando-os numa quantidade viável para que conheçamos cada um deles (pelo menos superficialmente).

A partir desse evento - avião com problemas que pode cair e todos morrerem - Almodóvar cria mais uma comédia onde o amor (em todas as suas tendências) é explorado. Desde o capitão casado que tem um caso com um dos comissários, passando pela vidente virgem sedenta pelo passageiro digamos "bem servido", um empresário corrupto com sérios problemas com a filha, o co-piloto que talvez esconda sua bissexualidade, o comissário gay e carola, o outro comissário solitário, o sujeito que tem um relacionamento complicado com uma mulher destrutiva, um misterioso homem, a mulher que esconde segredos de vários poderosos e o casal de recém-casados completamente apaixonados.



Essa fauna de personagens tipicamente "almodovarianos", garante a diversão do publico com ótimos diálogos que abordam a sexualidade, política, amor e sexo, sempre de forma leve e que não cansam o espectador. Almodóvar acerta ao não focar-se em apenas um personagem, e apesar de algumas historias serem mais interessantes que outras, nenhuma delas é ruim. O relacionamento entre o empresário e sua filha e o do homem e sua mulher complicada (que garante o único momento fora do avião após a introdução com os famosos amigos do diretor) são os mais complexos e interessantes, enquanto os demais variam entre a comédia non-sense (como a da vidente virgem e seu interesse no "belo adormecido" na classe econômica) e a comédia de situação.

Entre os atores, é impossível não destacar o trio impagável formado por Javier Cámara, Carlos Areces e Raúl Arévalo, os três comissários quase alcoólatras e gays que tem os momentos mais divertidos do filme, com direito até mesmo a uma apresentação de dança ao som de "I'm so Excited", que apesar de deslocada na história é divertida.

Porém, apesar de divertida, o filme não vai muito além e não parece que Almodóvar queira algo mais do que apenas diversão. Parece que se cansou de tantos filmes com algo muito mais complexo a ser dito, ou de experimentar gêneros. Amantes Passageiros é Almodóvar se divertindo com a situação. Fazendo uma historia leve para resgatar algumas das ideias que eram parte integrante de sua filmografia no início de sua carreira. Apesar de não ser nada demais, é sempre bacana ver um diretor competente e que assina cada um de seus filmes de forma muito clara, produzindo coisa nova.

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