quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Lugar Onde Tudo Termina

O Lugar Onde Tudo Termina
(The Place Beyond the Pines, 2013)
Drama - 140 min.

Direção: Derek Cianfrance
Roteiro: Derek Cianfrance, Ben Coccio e Darius Marder

com: Ryan Gosling, Bradley Cooper, Eva Mendes, Dane DeHaan, Ray Liotta, Ben Mendelsohn, Rose Byrne.

(Devido à natureza da historia, alguns pequenos spoilers se fazem necessários. Nada que prejudique as surpresas do filme).

"O Lugar onde Tudo Termina", tradução ruim para Place Beyond the Pines, novo trabalho do já interessante realizador Derek Cianfrance (Blue Valentine, outro filme com tradução nacional bisonha: Namorados para Sempre) é daqueles filmes surpreendentes por não ter pudor em transformar-se em melodrama. Narra uma epopéia de cidade pequena que envolve um motociclista que trabalha no globo da morte em um circo itinerante e que descobre que em uma das passagens por um das muitas cidades visitadas por seu emprego, deixou uma "semente plantada" em uma bela jovem local. Ousando ao não deixar clara a passagem de tempo nos primeiros dois terços do filme (que não por acaso são os mais interessantes), Luke/Ryan Gosling em mais uma "interpretação" praticamente muda, o que vem limitando o ator desde Drive, é o motociclista que em sua primeira aparição é visto em sua rotina pré-apresentação culminando em um belo plano sequência que o acompanha de seu trailer ao inicio de seu show.

Ao final deste segmento é visitado pela bela jovem citada, (Romina/Eva Mendes) que parece apreensiva, mais que não entrega noticias ao homem que ela sabe não ter uma vida fixa e muito menos a possibilidade de criar um filho. Essa curta sequência inicial nos dá as bases daquele relacionamento estranho e da psicologia de Luke, um sujeito sem nada a oferecer e sem nenhuma pretensão na vida. O filme salta no tempo e vemos o jovem motociclista indo visitar sua eventual amante e descobrindo que tem um filho. A partir dai sua vida precisa forçosamente mudar. Vendo-se como aquele bebe num passado não tão distante, ele não quer que a criança cresça sem um pai presente e portanto decide ajeitar-se na vida. Larga a existência nômade e arruma um emprego numa oficina empobrecida e sem muitos clientes. Em uma conversa aparentemente banal descobre que pode conseguir dinheiro - olha só que descoberta - assaltando bancos e é aí que sua vida se entrelaça de forma brutal com a de Avery/Bradley Cooper, um policial que acaba perseguindo-o.

Cianfrance é ousado ao quebrar a expectativa dos espectadores de forma "Hitchcokiana" e subverter o protagonismo do filme, que ganha aí sim ares de melodrama mais óbvio. Tira um pouco o brilho do drama com ares de tragédia - já que ela chega de forma antecipada - mas ganha em profundidade na sua discussão sobre a natureza do local onde tudo aquilo se passa. Em vez de O Lugar onde Tudo Termina, um bom título nacional - e que faz sentido diante da morosidade local - seria O Lugar onde Tudo Para, já que a cidadezinha é uma das muitas cidades empobrecidas onde se passam dez, quinze, trinta anos e nada parece de fato mudar.



Outra coisa positiva da produção é que Cianfrance não opta pela santificação de seus personagens. Se Luke é claramente um anti-herói que simpatizamos (afinal seus roubos são motivados pela tentativa de dar um futuro para o filho), Avery não é um "herói", mas um sujeito que usa o sistema para conseguir o que quer, mesmo que precise delatar e usar de seu "pistolão" para atingir seus objetivos. O grande problema do filme é o salto de tempo que Cianfrance dá entre o fim do segundo ato e o inicio do terceiro. A ideia das dificuldades que são enfrentadas pelo personagem de Cooper são manjadíssimas e por mais que revelem a falta de heroísmo de seu personagem esbarram nas obviedades do digamos, "gênero". Bradley Cooper está contido e seguro, mas esbarra na dificuldade de desenvolver seu personagem para além do estereotipo. Mesmo evitando o heroísmo do personagem ele se mantém preso às obviedades e portanto seu desespero não parece genuíno.

Com três atos divididos rigidamente (um deles com fade e letreiro de passagem de tempo), o filme ganha em impacto, já que tem de fato três protagonistas, mas perde uma grande chance ao apostar na obviedade das ligações entre os personagens. A entrada de Dane DeHaan, jovem ator de Poder sem Limites e que estará no novo filme do Homem-Aranha é um acréscimo já que o garoto é bom ator, mas seu personagem é daqueles que parece ter sido criado para justificar os "pecados do passado", já que não existe a não ser para cumprir a função de julgamento moral das consequências e dos acontecimentos do segundo ato.

Cianfrance não tem medo de abraçar o melodrama e o faz com algum sucesso. Que pese sua dificuldade de fugir de certos clichês e de querer entrelaçar tudo como uma grande tragédia familiar, o filme é superior à média do que vem sendo produzido nos Estados Unidos.

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