quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Grande Gatsby

O Grande Gatsby
(The Great Gatsby, 2013)
Drama/Romance - 142 min.

Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann e Craig Pearce

com: Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Elizabeth Debicki, Isla Fisher.

Pedante, exagerado, muito histérico, com problemas de ritmo enormes, O Grande Gatsby se arrasta como uma lesma por suas longíssimas duas horas e vinte e dois minutos, que passam ainda mais lentamente do que a duração sugere. Essa é a terceira vez que a obra de F. Scott Fitzgerald ganha as telas (quatro se contarmos um filme para TV de 2000). Confesso que nunca vi a versão de 1926, mas lembro-me da versão de 1974, vencedora de dois Oscar, que tinha roteiro de Coppola e Robert Redford e Mia Farrow como protagonistas. O Gatsby de 74 é um filme solene, "classudo" e que no meio da revolução da Nova Hollywood americana é quase um alienígena. Não que seja um filme ruim (não o é), mas é bastante datado.

A abordagem de Baz Luhrmann ao romance é curiosa. Conhecido por seus exageros visuais de produções como Moulin Rouge e Romeu e Julieta e do excesso de duração de abacaxis como Australia, Luhrmann mistura o pior desses dois mundos em uma produção que acerta na reconstrução de época, mas erra na forma como mostra esse mundo decadente.

Que se leve em consideração à ousadia ao ignorar a forma como a música da época soava, e apostar em uma trilha moderna (como Sofia Coppola fez em Maria Antonieta), é impossível para mim, não relatar um completo desconforto com a ideia, já que esse mundo exagerado e histérico de Luhrmann apenas camufla uma dificuldade crônica em apresentar seus personagens de maneira convincente. Em maio a tanto barulho e cores e som e glitter, ele tenta nos fazer esquecer da escolha equivocada do limitado Tobey Maguire para a função mais importante da historia, a do narrador Nick Carraday.



Assim como em Moulin Rouge - e sejamos justos, no livro também - a trama começa com o relato de Nick em um sanatório, onde o rapaz se recupera de uma crise nervosa, causada pelo desenrolar dos eventos que são relatados no filme. Luhrmann se apóia na muleta irritante da narração em off, que em geral sempre significa que o sujeito que fez o filme não tem muita confiança naquilo que filmou. Aqui, eu acrescentaria o fetiche de narrar trechos de um livro clássico. Luhrmann leva seu fetichismo ao pico quando ainda filma - no melhor estilo mensagens de corrente - as palavras (literalmente) cruzando a tela em determinado momento da trama.

Trama essa que fala do misterioso Gatsby (DiCaprio), um sujeito rico e que guarda segredos de seu passado, que envolvem Daisy Buchanan (Carey Mulligan). Maguire/Carraday é o primo da garota que aluga a casa ao lado da de Gatsby e se transforma em grande amigo e parceiro do milionário em sua historia trágica. Sem dar muito detalhes da historia, basta dizer que Gatsby está em busca de um amor perdido e que em sua ânsia de conquista descobre que a diferença entre as classes sociais e o orgulho, se sobrepõe às noções mais básicas da decência e de caráter.

A trama continua sendo muito interessante, mas Luhrmann faz de tudo para transformá-la em uma experiência muito difícil de ser apreciada. Quando não apela para o histerismo de cores e sons (em especial na primeira metade do filme), usa e abusa dos muitos zooms e efeitos visuais de gosto duvidoso para ilustrar os faraônicos cenários da historia, incluindo ai uma cidadela empobrecida, que ganha ares de futuro pós-apocaliptico pelo exagero nas diferenças entre os mais ricos e abastados e os trabalhadores comuns.



Isso sem contar o excesso de lentidão com que a trama se desenvolve. Apaixonado pelo texto de Fitzgerald, ao mesmo tempo em que visualmente até ousa, é reverente aos diálogos e trechos do livro de forma a transformá-lo em maçante, já que a experiência de saborear as palavras no papel - ao seu ritmo - é muito diferente do que ver uma serie de atores (alguns bastante questionáveis) vomitando sem muita noção as palavras do autor americano. Isso ocasiona uma quebra de ritmo assustadora, que racha a estrutura do filme em duas de forma muito clara. O histerismo da abertura - que eu até aceitaria se fosse constante - cede espaço a reverencia chata e pedante da segunda metade da trama quando os eventos emocionalmente mais expressivos acontecem. Uma narrativa esquizofrênica e morosa que só é mais prejudicada pela escolha equivocada de certos atores.

Não sou do tipo que ainda tem problemas com Di Caprio, mas vejo-o profundamente deslocado nessa produção. O ator tem m problema crônico (e genético) de nunca parecer ter a idade que tem de verdade. Se isso era um problema - pra mim ao menos - em J.Edgar e sua maquiagem medíocre, e em Ilha do Medo, aqui essa sensação ainda é mais intensa. Di Caprio precisa nos convencer de ser um homem calejado pela vida e que venceu depois de muita luta e de aproveitar suas oportunidades, o que não parece ser o caso, já que o garoto - eterno - deixou o sex-appeal juvenil que fez suspirar platéias em Titanic há tempos e hoje depende muito de um papel adequado a sua figura de garoto que não fica velho nunca. Mas, apesar desse incomodo estético - digamos assim - Leonardo é um bom ator e não compromete, embora não tenha o impacto do livro e da figura de Redford na encarnação mais famosa do cinema.

Carey Mulligan graciosamente dividida entre o presente/futuro e o passado acerta na composição, mas não é ajudada pela forma com que Luhrmann contou sua historia, deixando-a ainda mais desagradável que o é no papel. Uma garotinha mimada que não tem coragem para seguir um sonho e se apega a obviedade do lugar comum. Joe Edgerton me pareceu caricato com seu sotaque forçosamente exagerado, cheio de inflexões comuns às interpretações do início do cinema falado, o que não ganhou eco em nenhum dos outros atores do filme. E por fim Maguire, errado do inicio ao fim. Nunca fui do time que o considera grande ator, embora goste de Regras da Vida, Tempestade do Século e de sua versão sem sal para Peter Parker. Talvez por essa sensação constante de sujeito insosso e de voz monótona é que não me convenci com seu Nick Carraday, que parece constantemente inebriado e abobado diante dos fatos que ocorrem na sua frente.  A bela Jordan Baker (Elizabeth Debicki) e a elétrica Myrtle Wilson (Isla Fisher) completam o elenco e não se destacam embora suas personagens sejam importantes - em alguns momentos fundamentais - para o andamento da trama.



Baz Luhrmann fez aqui seu costumeiro carnaval e novamente não conseguiu ir além do kitsch e excêntrico. Quando optou pela ideia de deixar seu filme longuíssimo e com problemas de ritmo enormes, rachando-o em duas produções de visual e forma praticamente diferentes (uma cheia de cores e exagerada e outra "séria" e cheia de diálogos empolados e atores medianos deslocados) transformou a experiência de Grande Gatsby é uma bobagem. Sem o impacto de crítica aos mais ricos pretendido e sem emocionar como uma tragédia anunciada. Tolo e vazio, como boa parte da filmografia de seu realizador.

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