quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Festival do Rio: Sapi


Sapi
(Sapi, 2013)
Terror - 102 min.

Direção: Brillante Mendoza
Roteiro: Henry Burgos

com: Dennis Trillo, Meryll Soriano, Baron Geisler

Brillante Mendoza foi premiado por diversos festivais. Já ganhou Palma de Ouro, inclusive. Com a credibilidade de diretor das Filipinas mais conhecido internacionalmente (junto à Lav Diaz), Mendoza se aventurou pela primeira vez em um filme de horror. A direção focada em câmera na mão, com muito naturalismo e tentativa de emular o documental, já é conhecida em sua carreira. Porém, aqui o trabalho de câmera gradativamente se revela primário - e a boa (ou má) notícia é que, pelo menos, o roteiro é igualmente abominável.

Sapi começa envolvente. A atmosfera sombria, capturada por um digital feio e sem cores vivas, concede um teor documental forte para onde o filme se passa o que casa com o duelo jornalístico que moverá a trama. Mendoza se esforça para encaixar os primeiros traços fora do comum naquele ambiente, como a cobra no estúdio ou a violenta chuva constante, o que agrada na introdução. O filme mostra Manila como uma cidade caótica, suja e super populosa, casando bem com a proposta.

E quando o roteiro de Henry Burgos começa a revelar sua estrutura, e Sapi se transforma num intragável filme de horror, que soa esdrúxulo a cada virada de trama. A estética, antes moderadamente condizente com a proposta, vai se afetando cada vez mais. O filipino parece ter contratado um diretor de fotografia amador, que mal consegue enquadrar atores direito, beirando a sátira em diversas passagens. As cenas de possessão são criadas com tamanha falta de criatividade que qualquer um que tenha assistido um terror barato na vida já consegue prever os rumos da cena. Não adianta nada Mendoza tratar o sobrenatural como algo comum no noticiário se, durante o ato em si, vai florear seu trabalho de câmera até torná-lo incompreensível.




Quando a desgraça toma conta, e a realidade é plenamente afetada pelo Mal, Burgos abandona qualquer coerência estrutural. O roteiro já parecia desfocado demais (Sapi fala sobre possessões ou os "perigos do jornalismo"?) no início, mas seu segundo ato generaliza a bagunça. Basicamente, o roteiro se propõe apenas a mostrar seus personagens, por uns quarenta minutos, sofrendo diversos sustos pregados por quem-se-importa. Mendoza resolve apostar na tensão filmada que mesmo Atividade Paranormal já usava como clichê: portas se abrem barulhos estranhos pela casa, virada dramática do protagonista para a câmera; é o mesmo fantasma estúpido da cinessérie, que parece muito concentrado na tarefa de bater as portas dos cômodos.

Estourando o som sempre que pode, exagerando na pavorosa trilha sonora, Mendoza ainda faz parecer que Sapi é algum especial de TV tosco, com seus inúmeros (infinitos) establishment shots na emissora e noção nula de mise-en-scene (a mesa se consertou sozinha? Flores estava na cena da demissão?).

Um apanhado de cenas desconexas, procurando choque em humor involuntário (cobra entre as pernas), usando até mesmo o som de maneira preguiçosa. Grosseiro e inexplicavelmente sisudo. 


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