sábado, 19 de dezembro de 2009

Noite dos Mortos Vivos
(Night of the Living Dead, 1968)

De: George A. Romero


Com: Duane Jones, Judith O'Dea, Karl Hardman, Marylin Eastman, Keith Wayne, Judith Riley


Sempre que alguém intitula ou outro de gênio, seja esse dito gênio verdadeiro ou não, você sempre deve ficar com os dois pés atrás.


Não é difícil encontrar na Internet (só pra citar o maior dos exemplos) diversos sites/blogs que tem como hábito endeuzar determinadas celebridades.


Gênio é uma palavra muito forte e que só deve ser usada em casos muito específicos.


Na minha modesta concepção de genialidade, existem alguns poucos cineastas que podem receber essa alcunha: Akira Kurosawa, Steven Spielberg, Fritz Lang, Stanley Kubrick, Federico Fellini, Billy Wilder, Sam Peckinpah, Sergio Leone, Clint Eastwood, Quentin Tarantino, Jean Luc Godard, François Truffaut, Woody Allen, Michelangelo Antonioni, Robert Altman, Dario Argento, Ingmar Bergman, Peter Bogdanovich, Robert Bresson, Luis Bunuel, Frank Capra, John Ford, David Cronenberg, John Cassavetes, Sergei Eisenstein, Mel Brooks, Monty Python, D.W. Griffith, Howard Hawks, Werner Herzog, Alfred Hitchcock, Alejandro Jodorowski, Buster Keaton, Charles Chaplin, Krzysztof Kieslowski, David Lean, David Lynch, Terrence Malick, Jean-Pierre Melville, Takashi Miike, Kenji Mizoguchi, Yasujiro Ozu, Hayao Miyazaki, Pier Paolo Pasolini, Roman Polanski, Nelson Pereira dos Santos, Rogerio Sganzerla, Alain Resnais, Roberto Rossellini, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Robert Siodmark, Andrei Tarkovsky, Paul Verhoeven, Jean Vigo, King Vidor, Andrzej Wajda, Orson Welles, Brian de Palma, Win Wenders, Woody Allen, John Boorman, Milos Forman, Michael Haneke, G.W. Pabst, Eric Rohmer, Ridley Scott, Preston Sturges, Luchino Visconti, Costa - Gravas, Vittorio De Sica, Yimou Zhang, Otto Preminger, Georges Franju, Mario Bava, Jacques Tati, Milos Forman, Mike Nichols, Elia Kazan, Samuel Fuller, John Huston, Jacques Tourneur... esses são meus gênios.


George A. Romero é o nome que completa a lista.






E tudo começa em 1968 com um filme b, com diversos defeitos na construção das imagens (reparem na cena em que o carro bate na árvore no início do filme e percebam como ele já estava amassado antes de se chocar), maquiagem precária, cenografia limitada, interpretações medianas ou medíocres mas ainda sim, estupidamente genial.


Romero põe o pé na porta a manda o planeta as favas, com seu libelo anti-racista, dotado de enorme sensação de desespero e claustrofobia.






Para qualquer análise do filme, é obviamente necessário situar o filme em seu momento histórico. Em 1968 (o ano que nunca terminou, diriam os historiadores) os Estados Unidos e o mundo presenciavam batalhas em todos os setores: sociais, raciais, intelectuais, “musicais” e cinematográficas.


1967/1968 marcaram os lançamentos de: No Calor da Noite (Norman Jewison), Quem Tem Medo de Virginia Woolf ? (Mike Nichols), A Primeira Noite de Um Homem (Mike Nichols), A Bela da Tarde (Luis Bunuel), Week-End a Francesa (Jean Luc Godard), O Samurai (Jean-Pierre Melville), Rebeldia Indomável (Stuart Rosenborg), Bonnie e Clyde (Arthur Penn), Baile dos Bombeiros (Milos Forman), Terra em Transe (Glauber Rocha), Trens Estreitamente Vigiados (Jiri Menzel), Era Uma Vez no Oeste (Sergio Leone), Planeta dos Macacos (Franklin J. Schaffner), Faces (John Cassavetes), Bebê de Rosemary (Roman Polanski), Se... (Lindsay Anderson), Primavera Para Hitler (Mel Brooks), Vergonha (Ingmar Bergman), 2001 (Stanley Kubrick), Hora do Lobo (Ingmar Bergman), Na Mira da Morte (Peter Bogdanovich) e o fabuloso Noite dos Mortos Vivos.







Todas obras que de uma forma ou outra representam quebras de paradigmas cinematográficos, criação de imagens únicas, inovações tecnológicas ou narrativas, ou mesmo grandes momentos de gênios.


Noite fala dos irmãos que ao visitarem o túmulo de sua mãe, encontram-se com um morto vivo e partem em fuga. O irmão não consegue escapar, mas a mulher refugia-se em uma casa. Lá verifica que está sozinha e encontra Paul (Duane Jones) que transforma-se em líder do reduzido grupo de pessoas que no decorrer da noite se juntam aos dois.







A primeira “quebra” estabelecida por Romero é a figura de seu herói e líder da minúscula resistência. Paul é negro, assume posição dominante em relação aos demais e tão logo transforma-se no líder. Se hoje, essa situação ainda causa estranhamento (notem quantos filmes, excetuando-se os filmes destinados aos negros, tem como líder um negro) imaginem em 1968. Outro ponto que Romero pincela é o rompimento dos valores do “american way of life” nos personagens do casal que não se ama e mantém a relação por puro comodismo.


Todas essas idéias “subversivas” são empregadas na criação da atmosfera de claustrofobia, medo, suspense e da transposição do horror para a realidade pautável e acinzentada dos dias modernos.







A todos aqueles que teimam (ainda) em enxergar os filmes do mestre Romero como “filmes de zumbi” fica o meu pedido para que revejam suas obras com esse olhar.


Romero não fala de zumbis, fala do homem que muita vezes é mais medonho e apavorante do que uma horda de zumbis sedentos por carne humana.


Se ainda têm dúvidas, é só acompanhar os últimos 5 minutos do filme e perceber como a humanidade pode ser tão estúpida, mesmo quando bem intencionada.


(Obs: Para uma análise mais aprofundada esperem o livro “O Cemitério dos Filmes B” do César Almeida que também escreve no blog: B Movie Box Car Blues sair.)

 

4 comentários:

  1. É um caso raro, não há um filme do Romero que eu não goste, e isso inclui os mais atuais, como Diário dos Mortos.
    Aliás, a refilmagem desse clássico aqui, feita pelo Savini em 1990, também ficou maravilhosa

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  2. Romero é um genio cara ... ele sabe usar a metalinguagem muito bem. O remake também é bem legal, eu gostei da abordagem do Savini, gostaria de ver o cara fazendo mais coisas.

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  3. Eu me lembro de que quando vi esse filme era menor e ele me causou medo. Eu o vi com minha mãe e fiquei pensando nele por dias.
    Faz muito tempo que não e definitivamente preciso revê-lo. Certamente é válido chamar Romero de gênio, afinal ele não somente acrescentou um gênero ao cinema como também o condensou, tornando-o sério e eficiente. Vi os filmes mais recentes dele, como Madrugada dos Mortos e O Diário dos Mortos, mas acho que, de certa forma, a tecnologia atual interfere na qualidade da obra, fazendo com que ela fique meio "fantasiada" com muitos efeitos. A maneira rudimentar desse filme o torna mais simpático, até mesmo mais assustador - essa fotografia em preto e branco, muitos closes, maquiagem interessante, etc.
    Vou revê-lo!
    =)

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  4. Mais um pra lista de filmes que eu nunca vi e tenho que conferir!

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