terça-feira, 13 de julho de 2010

Genova
(Genova, 2008)
Drama - 94 min.

Direção: Michael Winterbottom
Roteiro: Michael Winterbottom e Laurence Coriat

Com: Colin Firth, Perla Haney-Jardine, Willa Holland, Catherine Keener

A irregularidade de Michael Winterbottom (dos excelentes: Festa que Nunca Termina, Bem Vindo a Sarajevo, Código 46 e dos fracos ou medianos, Estrada para Guantánamo, 9 Canções e O Preço da Coragem) fica mais uma vez clara nesse pequeno filme de 2008, intitulado Genova.

Um misto estranho de filme de agência de viagens com análise psicológica rasa sobre traumas com toques metafísicos e levemente sobrenaturais é um Frankenstein desgovernado com muito estilo e pouco conteúdo.

Nele acompanhamos Joe (Colin Firth) um homem que sofre uma tragédia pessoal que faz com que aceite um cargo numa universidade da cidade italiana de Genova, levando a tiracolo suas duas filhas : Kelly (Willa Holland) e Mary (Perla-Haney Jardine).


E é só. As três linhas acima resumem basicamente sobre o que - e o leitor mais inteligente já imagina o que vai acontecer - Winterbottom (também roteirista com auxílio de Laurence Coriat) quer tratar. Superação, aprendizado, descoberta e tudo o que todos os filmes com o plot básico "estrangeiro muda-se para lugar estranho a seus olhos" já mostraram.

Nesse, Winterbottom acrescentou ao molho seus maneirismos estéticos e sua tradicional habilidade para diálogos naturais e infalível capacidade de encerrar seus filmes antes da hora.

Narrativamente o filme apresenta alguns problemas claros e incômodos. A obviedade dos acontecimentos, resultado de uma falta de sutileza impressionante faz com que o espectador telegrafe com razoável acuidade os acontecimentos vindouros. Durante a projeção Bottom reforça a cada segundo possível a sensação de lugar desconhecido e dificuldade de compreensão em sua totalidade daquele ambiente estranho aos seus personagens.


Se anteriormente disse que o diretor é um brilhante criador de diálogos naturais que auxiliam a credibilidade de seus atores para com o público, nesse ele escorrega quando tenta inserir um que espiritualista desnecessário e brega, causando uma quebra clara entre os diálogos "reais" e os - dito - imaginários.

Outro problema da narrativa é a falta de - na falta de palavra melhor - conceito e sentido. O que Bottom quer realmente contar? Uma história de superação? Crescimento? Amadurecimento? Fetiche pela cidade de Genova? Tudo isso junto e misturado?

A opção mais óbvia seria um misto de fetichismo quase pornográfico pelas belezas e mistérios da cidade, com direito a quilos de diálogos irrelevantes para a história, que servem apenas para demonstrar que os personagens, e obviamente quem escreveu, pesquisou sobre a cidade e suas conquistas e personalidades importantes e uma tentativa muito juvenil de a partir dessa viagem apresentar o momento de amadurecimento daqueles personagens. Isso tudo ainda tentando ser pop e inserindo pequenos eventos que tentam causar algum grau de tensão, mas que causam apenas desconforto.


Os personagens sofrem com essa falta de foco. O professor Joe é um estereótipo de inglês, apesar de não o ser. Todos os defeitos que foram estereotipados sobre a fleuma e a capacidade desse povo em não demonstrar seus sentimentos, amores e medos estão aqui. Um personagem assimétrico, que tende a ser confundido com um "banana", tal sua falta de capacidade de ação. Um observador se formos delicados, ou um completo pamonha se quisermos ser mais contundentes. Firth tenta o possível, mas a "persona" cinematográfica do ator é vislumbrada a cada take o que enfraquece qualquer tentativa de indentificação do espectador com o personagem ou mesmo um trabalho mais profundo.

As meninas Kelly e Mary são espelhos dos arquétipos representativos as suas respectivas idades. Kelly é um adolescente descobrindo a vida e seus prazeres e Mary é a pré-adolescente curiosa e impertinente que - para ajudar - sofre com um profundo trauma que a acompanha, e motiva alguns eventos, durante o filme.

Kelly é interpretada por Tom Holland, lindíssima mas muito limitada. Apesar de seu personagem não ser só a adolescente rebelde sem causa, a atriz encanta por sua beleza e só. Os belos olhos claros não transmitem emoção, tristeza ou qualquer outro sentimento além da completa apatia. Mesmo quando ela começa a se envolver com a "fauna" local fica claro que tudo surge muito artificialmente e que a atriz não sabe muito bem o que está fazendo.


Já a menina Mary, interpretada por Perla Haney-Jardine, apesar de ser o personagem mais denso e complicado dos três principais é a que se sai melhor. A pequena Perla já havia mostrado em Kill Bill (sim ela é a pequena filha da "Noiva" do filme de Tarantino) que tinha condições de crescer e aqui essa impressão só se amplificou. Muito segura em suas ações, e principalmente em suas reações emocionais a menina é o achado do filme e quase toda a força do irregular filme de Winterbottom.

O filme ainda conta com a talentosa atriz Catherine Keener, que teve a ingrata tarefa de ser a porta voz das tais informações de guia de viagens que o diretor enfiou goela abaixo de seu filme. Porém, quando foge desse papel infeliz ela apresenta sua habitual competência. Nada de extraordinário é verdade, mas com naturalidade e sensibilidade suficiente para não cair nos clichês.


Os clichês permeiam a parte técnica do filme. Winterbottom se referencia a cada tomada, o que é um perigo já que a abordagem urbana e moderna do diretor não combina com um drama familiar sem grandes momentos que pedem sua habitual câmera tremida, mudanças de foco durante a ação, cortes secos e "estúpidos" entrecortando ações dissonantes entre outras características. Mas estão todas lá, infelizes escolhas para um filme que pedia calma e observação.

O que se observa com extrema facilidade é o cuidado em retratar a bela cidade de Genova com toda a pompa que ela tem - ou não - direito. Desde os créditos de abertura com uma tomada aérea muito bonita mostrando o litoral e as casas tradicionais, como construções de Lego sobrepostas na paisagem, passando pelo retrato das ruas e vielas da cidade numa tradução narrativa dos perigos daquele lugar novo, que pode ser descrito como rotas do desconhecido para seus personagens estrangeiros ou como as veias que fazem correr a cidade para os habitantes locais. São personagens tão importantes quanto os atores do filme. Excelente trabalho de Marcel Zyskind.


Outro ponto sempre importante nos filmes de Winterbottom é a trilha sonora. Sempre com cuidado especial, a trilha original de Melissa Parmenter é eficiente e minimalista nas suas intenções enquanto as canções pop que o diretor escolhe tentam aproximar o status de cool do diretor da proposta mais tradicional que o filme abraça. A edição de Paul Monaghan também é eficiente e é outro que tenta juntar o tema com o estilo do diretor.

Genova é um amalgama distorcido que é mais uma nota de rodapé da carreira de Winterbottom, Firth e Keener. Apenas a pequena Perla conseguiu se sobressair em mais um passo em falso do diretor inglês.

(Obs: alguém mais notou as óbvias referências ao fabuloso Inverno de Sangue em Veneza no filme? Aquelas perseguições nas ruelas foram copiadas sem dó pelo diretor).


2 comentários:

  1. Apesar de você considerar medianos, gosto bastante de Estrada para Guantanamo e Preço da Coragem.

    Pretendo ver os outros dele em breve.

    Abraços.

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  2. Meu problema com Guantanamo é que (pra mim) ele é panfletário e esquece da história que quer contar. O Preço eu acho extremamente arrastado. Não sei, talvez uma edição diferente ajudasse. Mesmo assim Winterbottom é um diretor que sempre vejo coisa nova quando sai, mesmo não gostando .

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