domingo, 25 de julho de 2010

Predadores
(Predators, 2010)
Ação/Sci Fi - 107 min.

Direção: Nimrod Antal
Roteiro: Alex Litvak e Michael Finch

Com: Adrien Brody, Topher Grace, Alice Braga, Laurence Fishburne e Danny Trejo

Em 1987, o cinema de ação estava caminhando ao auge. Astros como Schwarzenegger, Sylvester Stallone e Dolph Lundgren estavam no centro do mercado dos filmes blockbuster típicos da época. Após o boom dos blockbusters (que hoje são o carro-chefe dos estúdios e com orçamentos exorbitantes), chegaram as produções mais baratas do cinema, principalmente envolvendo heróis de guerra em conflito com ameaças ao espírito americano (sendo elas vietnamitas, como em Comando para Matar ou alienígenas, como Predador). Após Rambo consagrar Stallone, Schwarzenegger se consagrava com Predador, interessante suspense de ficção-científica, que colocava um time de super mercenários contra uma figura em comum, o Predador, numa floresta na Guatemala. Com o sucesso do filme, vários outros o copiaram nessa fórmula de "carnificina viva", como Doom, Resident Evil e até o derivado Alien vs Predador. Mesmo com Predador sendo um filme original até hoje, apesar de sua previsibilidade de roteiro, o gênero dos action-guys não teve um destino tão generoso, sendo hoje encontrado em apenas produções de orçamento ridículo e lançadas direto em DVD (como os filmes de Wesley Snipes e Steven Seagal).

Em Predador, o diretor John McTiernen esbanjou todo o estilo que tinha e ainda se aproveitou de todos os clichês de ação que tinham (herói escondido na lama virou um clássico) pra criar um filme que marcou época por explicitar a forma irônica de cinema de ação, a que se assume descartável. E ainda criou um invocado personagem icônico. Agora, o conceituado produtor Robert Rodriguez trouxe o Predador de volta aos cinemas, depois de tentativas lastimáveis como Alien vs Predador 1 e 2. E com bastante estilo, diga-se de passagem.


A trama, parecidíssima com o longa de 87, segue Royce (Adrien Brody), um mercenário que cai de pára-quedas em um lugar desconhecido e armado. Enquanto vasculha a selva em busca de respostas, Royce vê que vários outros mercenários também estão na ilha e todos, quando se juntam, tentam achar respostas do porquê de eles estarem ali, enquanto enfrentam uma perigosa raça ali presente: a dos Predadores, que estão em guerra com seus semelhantes e ainda arrumam tempo pra fazer sua "temporada de caça". Aos humanos.

O roteiro, escrito pela dupla Michael Finch e Alex Litvak, é vencedor desde o início em constatar que o icônico Predador tem que voltar ás origens pra encontrar a glória novamente. Enquanto as sequências e crossovers com o personagem flertavam com novos horizontes (muito ruins e que tiravam a identidade do personagem), Predadores resgata a trama pra que o século 21 conheça o espírito de caça do filme de 87. Aqui, o roteiro dá novos toques á franquia (a ausência de um Scwarzenegger, a quantidade enorme de Predadores, a inversão de papéis de caça e caçador) sem se esquecer do passado, trazendo uma continuação-reboot que funciona bem demais. E as falas caricatas fazem parte do pacote. Quando um preocupado Danny Trejo exclama "This is Hell" ou quando Adrien Brody exclama a já famosa frase do trailer "Isso é uma reserva de caça e nós somos a caça", constata-se que Predadores não se leva mesmo a sério, criando um produto que se importa em entreter e nada mais.


Reforçando o lado caricatual, temos a construção de personagens e situações. Temos o homem que "trabalha melhor sozinho" mas que vira líder, o engraçadinho, o asiático, o covarde e até a heroína bad-ass (algo novo e excelente pra franquia). Nas situações, temos o duelo no fogo, o herói escondido na lama (outra homenagem explícita ao primeiro), o homem que conseguiu sobreviver naquele lugar, responsável por explicar o que está acontecendo aos novos habitantes e etc.

Isso poderia soar um tanto ridículo e até mesmo trash, mas Rodriguez e os roteiristas dosam de uma forma em que o filme homenageie o original e não saia datado. Pras platéias de multiplexes, a ação também é bem escrita e tem passagens ótimas, como a fuga na água dos mercenários. E o melhor: tendo a completa ciência de que aquilo é um filme de ação e terror. Mesmo esse sendo o primeiro filme e sendo responsável pela criação de um novo mundo, Predadores se sai bem em recolocar a franquia nos trilhos e ainda propor novas sequências áquele ambiente bem construído.


Já que não cuidaria da direção, Rodriguez deveria chamar um diretor que compartilhasse de seu amor ao filme original. E a escolha de Nimród Antal não poderia ter sido melhor. O diretor, responsável por filmes melhores e de locadoras, como Assalto ao Carro Blindado e Temos Vagas, já mostrava um pouco de talento nesses filmes. Porém, a liberdade criativa, sem pressão de estúdio, que Antal teve aqui favoreceu muito á sua direção, competente e ágil. Mesmo sem cortar um milhão de vezes, Antal impõe agilidade na direção e ainda organiza planos interessantes, como na já citada fuga dos mercenários na água. Fora isso, sua direção de atores e diálogos é boa, sem fazer grandes takes, mas enquadrando bem os atores. Além disso, extrai boas atuações de todos os presentes.

A edição de Dan Zimmerman compreende a direção de Antal e corta com calma, dando a fluência necessária pras cenas. A fotografia de Gyula Pados também é interessante, pois cria um clima como o do Predador original, mas com tons mais escuros e que dão a estranheza necessária ao planeta desconhecido. E a homenagem se intensifica na gloriosa trilha de um John Debney influenciado por Alan Silvestri. Usando uma trilha extremamente oitentista e com instrumentos tradicionais (harpas, trompetes), Debney não copia a trilha do original, mas capta o modo como ela foi feita e a reinventa de forma interessante.



Porém, é nas atuações que o filme se distancia mais do original. Enquanto no longínquo 87 tínhamos um halterofilista carismático e brucutu de ação e um time de super mercenários (que de super não tinham nada, todos apenas servem de corpos pra carnificina), aqui temos um Adrien Brody inspirado comandando um time mais humano, sem deixar a caricatura de lado. Brody é mais imprevisível que Schwarzenegger, pois tem um biotipo bem mais contido e uma vulnerabilidade maior. Quem tem mais chance de morrer? Um franzino pianista ou um nato exterminador? Logo, Brody tem liberdade de ser um anti-herói mais real e menos ameaçador, sem deixar as frases icônicas de efeito de lado. Alice Braga, quase uma co-protagonista, também atua muito bem e dando o frescor novo feminino a franquia, sem ser o mero par romântico do herói. Das outras atuações, nada além do bom, com exceção do instável Topher Grace, que faz o papel do médico covarde que tem um final que exigia alguma competência artística do ator, que infelizmente carece dela.

Logo, há de se admirar (mas não muito) esse Predadores. Além de trazer a iniciativa oitentista de ação barata, algo que Rodriguez é mestre, o filme serve de diversão como é sempre bom ver no cinema. E traz um icônico personagem de volta ao reinado que o pertence, após os crossovers anteriores com o Alien de Ridley Scott. Sem dúvida, um deleite aos olhos dos fãs originais (a sequência de citação aos eventos na Guatemala é sensacional) e um gás a um mundo tão interessante (a guerra civil dos Predadores diferentes pode ser explorada num confirmado segundo filme). É diversão descerebrada? Sim. Mas foi isso que ela nos propôs a dar. E é incrível e brilhante ver como Rodriguez usou 40 Milhões num filme de criação de mundo e com florestas, enquanto outros cineastas gastam 237 Milhões em mesmos cenários, mas em CGI. Um brinde ao saudosista Rodriguez, que traz os cenários reais e a maquiagem de volta.


Um comentário:

  1. As crítica sobre este filme não estão tão ruim, mas não sei se realmente encaro uma sessão com um filme desses, rs
    Ótimo texto!

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