sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Exam
(Exam, 2009)
Suspense - 101 min.

Direção: Stuart Hazeldine
Roteiro: Simon Garrity e Stuart Hazeldine

Com: Adar Beck, Nathalie Cox, John Lloyd Fillingham, Chukwudi Iwuji, Luke Mably, Pollyana McIntosh, Jimi Mistry, Colin Salmon

Algum tempo atrás escrevi sobre um pequeno e interessantíssimo filme espanhol chamado El Metodo. Naquele filme, que discutia a questão da selvageria que geria as grandes corporações, homens e mulheres eram colocados numa sala para uma pretensa entrevista de emprego, que no fundo era uma grande análise comportamental daqueles personagens e de quem os contratava.

Pois bem, a princípio Exam é a mesma coisa. Oito candidatos, completamente estranhos uns aos outros, são colocados numa sala fechada. Após receberem a orientação de que durante o tempo transcorrido da "prova" ficariam incomunicáveis, não podendo se dirigir ao guarda (armado) que faria a segurança e ao aplicador - chamado Vigilante e que não fica presente na sala - são deixados com a afirmação de que a prova era composta de apenas uma pergunta que resultaria apenas uma reposta.


Logo, os oito personagens (ou melhor sete, já que nos primeiros três minutos uma das candidatas é eliminada) passam a interagir (o que era permitido pelas regras) e tentar descobrir a pergunta e por conseqüência a resposta a um teste em branco.

O diretor Stuart Hazeldine consegue por boa parte da narrativa, manter a tensão e a expectativa da audiência sobre as revelações que acompanham aquelas pessoas. Por outro lado, a construção dramática de cada um dos sete remanescentes é rasa e não passa de uma coleção de estereótipos dos mais comuns e vazios. Temos a mulher calada, o misterioso, o intenso e apaixonado, a nerd sexy e metida, o cafajeste, o trapaceiro e a líder. Tudo facilmente lido com pouco mais de meia hora de projeção por qualquer um com um pouco mais de atenção. Dessa forma, fica óbvio que o diretor dividiu sua "equipe" em mocinhos - nem tão inocentes - e vilões - canastrões - deixando a tensão e a sensação de mistério e os diálogos virulentos e inteligentes de El Metodo (por exemplo) para escanteio.


Exam é uma tentativa de encontrar essa tal pergunta e de falar - bem genericamente - sobre aquela gente. Hazeldine no entanto não soube como conduzir e principalmente responder a tal pergunta - e muito menos elaborá-la. Quando chegamos ao desfecho (que não vou revelar) notamos que as respostas surgem de forma tão bruscas e corridas que não são compreensíveis e principalmente mal fazem sentido.

O diretor apela covardemente para os "mini-flashbacks" para recontar trechos em que - para ele - ficaram claras as "dicas" para a solução de seu mistério. Esse recurso, se usado com elegância (como Shyamalan fez em Sexto Sentido, só pra ficar num exemplo bem óbvio) fazem o espectador revistar o filme notando essas tais referências e entendendo totalmente as sacadas inteligentes do diretor.

Hazeldine - que não parece ser um diretor com tal imaginação - fez uso desses elementos de forma grosseira e ainda com cara-de-pau suficiente para chamar (na falta de palavra melhor) o espectador de palhaço, ao resolver o mistério da pergunta e da resposta do tal exame.


Mas, muito mais ofensivo do que uma eventual escorregada final de um thriller que vinha caminhando sem ofender ninguém, é sua moralidade - no mínimo - discutível. Durante o filme somos bombardeados com seqüências que cinematograficamente são interessantes, mas que se formos pensar de forma objetiva, sacramenta a frase feita: os fins justificam os meios.

São personagens que estão dispostos a tudo pela vaga em um emprego. Somente isso. Um emprego. Não estão em situação de extrema necessidade, de vida ou morte, mas sim disputando uma vaga no mercado de trabalho.

Para que o espectador não fique com asco dessa questão de imediato, o diretor e roteirista Hazeldine, tenta inserir algumas motivações mais passionais naquela gente para justificar o comportamento deles. Uma tentativa frustrada, pois além de não causar nenhuma comoção ainda ajuda a reforçar mais ainda os estereótipos de alguns personagens.


Porém, quando as luzes se apagam e o espectador deixa o filme para trás é que ele parece se tornar ainda mais ofensivo. A justificativa doentia para a empresa agir daquela forma e submeter às pessoas as humilhações e a tensão desnecessária surge para "um bem maior". É a pá de cal, que faz qualquer um com um pouco de bom senso e que acha que os fins jamais podem justificar os meios, sepultarem a frágil história apresentada.

Talvez muitas empresas fabulosas achem realmente que "apertando" e levando o funcionário aos extremos é que conseguirão que seu desempenho seja melhorado e por que não, que ele transforme-se em um ser dependente de seu trabalho. Que sua rotina no emprego seja sua total e completa realização e que outros aspectos "menores" como família, conhecimento, amor e afins sejam deixados de lado em favor da companhia.


Exam parece querer defender essa idéia, travestindo-se de filme cool. Vinha indo muitíssimo bem até que a canalhice é mostrada e o espectador descobre a verdade. Aí é difícil não se sentir ofendido moralmente (no meu caso) e intelectualmente (já que o filme usa de um recurso fajuto e infeliz para apresentar soluções, que por sua vez podem ser questionadas quanto a sua lógica e veracidade).

Apesar disso, os atores tentam defender seus rasos pratos de sopa com dignidade. Luke Mably, vivendo o asqueroso White, parece se divertir muito em cena, lembrando Sam Rockwell em diversos momentos e é o grande destaque.

O filme brinca com grande felicidade com a fotografia e a iluminação que alterna o mono cromatismo, para o azulado, para o avermelhado e para a penumbra com bons resultados e principalmente ligados ao que o filme pede, não soando forçado.


Hazeldine por sua vez, destaca-se apenas com sua inventiva abertura, mostrando cada personagem por detalhes de seu vestuário ou dos rostos de cada um, o que insinua um mistério que o filme faz questão de abandonar.

Exam é uma tentativa frustrada. Não funciona como thriller e muito menos como estudo de "alguma coisa". É fútil, moralmente condenável e intelectualmente de baixo nível. Uma bobagem.


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