segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Morte do Superman(Superman/Doomsday, 2007)
Aventura - 75 min.

Direção: Lauren Montgomery, Bruce Timm e Brandon Vietti
Roteiro: Duanne Capizzi e Bruce Timm

Com as vozes de : Adam Baldwin, Anne Heche e James Marsters

O primeiro filme da nova leva das animações da Warner/DC adapta para as telas a discutível (para os fãs das hq's) saga da Morte e do Retorno do "Homem de Aço". Na história original dos quadrinhos após enfrentar "na mão" o monstro espacial Apocalipse - que simplesmente surge na terra, sem grandes explicações sobre - o herói cai desfalecido nos braços de sua amada, Lois Lane, numa das grandes cenas dos quadrinhos dos anos noventa - não entrando no mérito da qualidade da história até ali.

O que segue na HQ é o funeral e o eventual retorno, que nos quadrinhos acontece numa mini-série intitulada "O Retorno do Superman" que apresenta não um, mas quatro postulantes ao cargo de Superman. Dentre eles temos um jovem herói intitulado posteriormente de Superboy, um cientista negro brilhante que vem a ser chamado de Aço, um misto de homem e máquina que - durante a série - é chamado de Superman-Ciborgue e um quarto personagem que usa óculos escuros e que - durante a série também - vem a ser chamado de Erradicador.


Pois bem, nos quadrinhos a série se desenvolve até o surgimento do verdadeiro Superman , que volta dos mortos - com uma explicação fajuta - e enfrenta alguns desses novos heróis com resultados seminais para a continuidade de outros personagens da editora.

O que a produção de Lauren Montgomery, Bruce Timm e Brandon Vietti fez foi limar o que para eles era considerado exagerado, transformando quase 200 páginas de histórias em uma animação de 70 minutos. As mudanças partem do básico. Existe uma motivação para Apocalipse ter ido parar na Terra, não existe esse batalhão de outros heróis que querem tomar o nome do Homem de Aço e Lex Luthor tem um papel mais importante na trama do que no original.

Optando por adaptar uma "saga", o filme também foge da história tradicional de origem do herói, principalmente porque no caso de um personagem tão poderoso culturalmente quanto o Superman, torna-se dispensável esse tipo de história, levando-se em conta principalmente dois fatores: a história de origem do herói já foi contada no cinema no clássico Superman de Richard Donner e o público a que essas animações é destinada já conhece o herói, sua identidade secreta, aliados e a maioria dos vilões.


As mudanças da HQ para a tela surgem de forma inteligente e que dão mais fluência ao texto original, além de trazer a história - originalmente dos anos 90 - para os dias de hoje, com uma série de referências ao período. Outra característica, que veio a se tornar marca importante das animações da DC, é a tentativa quase sempre feliz em jogar os personagens num contexto mais adulto, com maior desenvolvimento dos personagens e de suas ações.

Por exemplo, de cara somos apresentados a notícia de que Clark Kent - o Superman - está a serviço do jornal que trabalha no Afeganistão e que Lex Luthor lucra com a solução de doenças (como câncer e AIDS). Mesmo a primeira apresentação do Superman foge do que o público poderia esperar. O herói não surge enfrentando algum super-vilão, mas a caça da cura do câncer.

Agindo assim, o filme sedimenta sua base no realismo e foge do infantil. Seu foco é no fã de HQ, que há muito tempo deixou de ser o moleque de 10 anos, e passou a ser o jovem adulto/adulta que tem conhecimento do que ocorre ao seu redor.


Outra característica que reforça ainda mais essa intenção do estúdio em transformar seus personagens em pessoas mais críveis e a forma com esses se relacionam. A relação de Lois e Superman por exemplo é um triunfo enorme, em especial na primeira parte da história. Apresentados como um casal normal, que tem como principal problema (e uma eventual DR por isso) o fato de Superman mal ter tempo pra cultivar essa relação, algo que os quadrinhos exploraram com competência, mas que as outras mídias ainda não tinham abordado. Outra curiosidade é que os diretores não fugiram da óbvia malicia presente na relação do casal, com direito a conversinhas de duplo sentido sobre "a noite anterior".

O plot básico é o mesmo da HQ, em tese. Apocalipse surge - dessa vez com uma explicação para sua chegada - e devasta Metropolis. Superman parte para impedi-lo e por fim tomba.


A primeira parte do filme, que apresenta todas as características interessantes que citei acima e que culmina com a queda do herói é extremamente competente. Apesar de durar cerca de trinta minutos, o ritmo ágil, o bom humor e o sentimento de urgência fazem a longa seqüência da briga entre o vilão e o Homem de Aço - e que ocupa quase metade dessa primeira parte - um triunfo. Seguindo esteticamente o padrão Warner que veio da série de TV do Batman (falarei dela no futuro aqui no especial) apresenta seqüências de ação bem montadas e que procura mostrar ao público a força descomunal dos dois combatentes.

O problema é que a partir da morte do herói, o filme perde terreno. Exatamente no momento em que passamos a parte do Retorno, a produção não consegue manter o mesmo ritmo ágil e interessante. Mesmo assim, o segundo ato guarda a cena mais bonita e tocante de toda a produção e uma das mais impressionantes nesses anos de longa da DC em animação. Quando Lois finalmente percebe a identidade de Superman e procura a mãe de Clark, desaba em lágrimas colocando pra fora sua sensação de perda que até aquele momento parecia derradeira. Parabéns a equipe e a atriz Anne Heche (de diversos papéis importantes no cinema) pela composição e pela entrega emocional.

E paramos por ai. Apesar das mudanças - em relação a HQ - serem interessantes e mais plausíveis, além de não superlotar a tela com dezenas de outros personagens, o filme cai na vala comum, de perseguições, explosões, tiros, batalhas exageradas e tudo mais que compõe o pacote da diversão escapista.


O retorno do Superman também surge de maneira pouco convincente, com um fiapo (frouxo) de justificativa e que não convence o espectador mais exigente, assim como todo o desenvolvimento do arco final que peca pela correria. Mais vinte minutos a história - e isso vai ser uma reclamação recorrente nas críticas das animações DC - e talvez tivéssemos uma história melhor.

A questão técnica não modifica o que a Warner vinha fazendo até então em suas séries de TV. Como disse acima, é o mesmo padrão de qualidade da série de Batman/Superman/Liga da Justiça com algumas pequenas e sutis alterações nos personagens. Nesse primeiro filme, ainda vemos muito pouco de CG nas construções dos cenários e na ação o que é mais um elemento que dialoga com as séries da Warner.



O elenco da versão original também é muito bom e recheado de nomes interessantes. Além de Anne Heche como Lois Lane, Adam Baldwin é o Superman e James Marsters é Lex Luthor. Dos três senti falta do vozeirão grave e soturno de Clancy Brown, que habitualmente faz a voz do vilão.

Esse é o primeiro, e serve como rito de passagem das séries de TV para o mundo das animações em longa metragem. Uma pena que o começo tão inspirador não é mantido durante toda a produção, resultando em um filme divertido mas esquecível.

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