quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2
(Tropa de Elite 2, 2010)
Thriller - 115 min.

Direção: José Padilha
Roteiro: Braulio Mantovani
Com: Wagner Moura, Seu Jorge, Milhem Cortaz, André Ramiro, Rod Carvalho, Irandhir Fraga e Pedro Van-Held

Em 2007, a grande sensação do cinema nacional era o filme Tropa de Elite. Cinema entre aspas, pois o filme foi lançado nos cinemas depois de já ter sido assistido pela esmagadora maioria do público por meio da pirataria. Sucesso absoluto, indiscutivelmente, o filme gerou bordões inesquecíveis, personagens contundentes e profundos, e conseguiu mostrar a história da violência urbana de um ponto de vista diferente no país: o da polícia .

Arrasador, todos ficaram extasiados pela quantidade de informações interessantes e de todo um panorama genial que a teia narrativa do filme de José Padilha criava. Mesmo sendo chamado por alguns de fascista, pelos métodos agressivos que os policiais do Bope dispunham, o primeiro Tropa foi abraçado pelo público em geral. Não era por menos - afinal, tudo ali esclarecia o mundo de drogas e violência no Rio de Janeiro, e mostrava suas causas e conseqüências, muitas vezes ligadas ao mundo de quem assiste.

Tropa de Elite 2 não faz diferente. Segue a linha de construir uma história que mistura fatos verídicos com personagens ficcionais (ou quase ficcionais, por referências quase diretas a personas da vida real). Só que desta vez, em 2010, a história é outra . A estrutura montada e desmontada no primeiro longa de anos atrás era de violência urbana mostrada onde ela acontece - nas ruas, nas perseguições, em tiroteios. Nessa seqüência, a estrutura se modifica, os inimigos se diferem, e tão logo também o modo de se mostrar a história. A narrativa agora é muito mais abrangente, abraçando tudo e todos, montando um panorama visto de cima, com mais personagens e mais conexões. Tudo isso se deve ao fato do comando dos campos de batalha - as favelas cariocas - ter mudado. Não são mais os traficantes que comandam o morro, e não mais é o tráfico de entorpecentes que gira a engrenagem do crime organizado. São as milícias, comandos de policias veteranos da PM carioca que asseguram o domínio do morro e se ligam no povo que lá habita através de cobrança de várias taxas - desde o ''gatonet'' até a venda de gás de cozinha. E esse esquema de domínio sobre o povo, é claro, não é feito com as mãos limpas, e está a milhas de se tornar algo legal.

E é esse o inimigo que o subtítulo aponta. Nesse cenário se monta a trama do novo filme de Padilha. Depois de pouco mais de 10 anos desde os acontecimentos do primeiro filme, Nascimento (Wagner Moura) não é mais um dos comandantes do Batalhão, e subiu ao posto de que nenhum Caveira jamais havia chegado - virou Sub-secretário de Segurança. De um posto mais alto, Nascimento começa a ter mais visão de tudo o que ocorre de novo no mundo da violência carioca - e precisa agir contra ela. Só isso já bastaria para causar uma rede de problemas suficientemente grande, mas o nosso herói carrega ainda mais fardos. Seu filho, agora já crescido, não tem uma boa relação com ele, e por vezes escancara para o pai que não é violento, como Nascimento. Tal visão do filho sobre o pai se decorre dos eventos mostrados na televisão, onde em alguns deles seu novo padrasto, o ativista dos diretos humanos Fraga (Irandhir Santos) critica o modo violento pelo qual o Bope opera .

Toda a estrutura de narrativa de Tropa de Elite 2 está mais profunda, mais densa e mais global. Tudo mostra uma grande evolução, uma grande maturidade do novo filme. A observação de Wagner Moura em entrevistas foi muito bem colocada. “Este filme é mais maduro que o primeiro". Afirmativa inegável. No longa, há símbolos que comprovam isso. Se no primeiro filme o calo que era pisado era do playboy maconheiro que financiava o tráfico, no segundo os alvos das críticas são políticos corruptos, ativistas que ''protegem'' bandidos e toda a gama de milicianos que se instaura na gerência do crime organizado.
A diferença estrutural básica desse longa para o anterior está na sua amplitude. Se em 2007 se usava tempo de tela para montar toda mecânica da polícia e do Bope, como em um bom "Full Metal Jacket" brasileiro, agora o Batalhão de Operações Especiais funciona como um dos agentes atuantes em um cenário instaurado pela invasão das milícias nas favelas cariocas. O cenário se amplia, e o roteiro aumenta sua densidade. Cada personagem tem sua função muito bem definida em todo o contexto , tem uma razão de existir, e a tempo de tela sobrando para se desenvolver.

Os roteiristas (roteiro de Mantovani com história de Padilha) desenrolam a saga de uma maneira que remete a um épico. Um verdadeiro épico criminoso, onde o realismo marca presença tão forte, que destinos são traçados pelos realizadores sem medo nem pena, como num digno filme "ensemble cast" - como Traffic e Crash. E o mais interessante disso tudo é o modo como duas coisas quase imiscíveis se encaixam tão bem nessa franquia.


Realidade e ficção. Ora, se o objetivo é contar uma história de uma cidade real, com elementos reais, numa linha cronológica real, como colocar personagens fictícios, e situações por vezes fictícias num roteiro? Pois Padilha e Bráulio Mantovani conseguem arranjar caminhos para encaixar tudo, sem fugir da realidade, mas também sem copiar passagens dignas de ''baseado em fatos''. É genial o modo pelo qual Tropa 2, assim como o 1, respira e vive nesse vai- e- vem entre ficção e realidade. O que nas mãos de alguém com pouco talento podia virar simplesmente um filme-denúncia panfletário, Padilha e Mantovani convertem em material original de primeiríssima linha.

Este longa também é mais bem resolvido quanto ao aspecto da ideologia. Seu predecessor foi atacado veementemente por muitos como um filme extremamente fascista, violento e com métodos extremamente questionáveis. O filme flerta, em seu princípio, com algo parecido, como Direitos Humanos X Pensamento policial. Entretanto, espertamente, essa configuração é apagada ao longo de sua exibição. Fica logicamente prejudicada a discussão, quando um inimigo em comum aparece. É esse o papel da Milícia. Porém, é claro, Padilha e Mantovani, fazem questão de deixar claro suas opiniões a respeito de cada assunto, afinal aquele é o ponto de vista que Nascimento terá, e o personagem não é de desconversar. Tanto não é, que o filme tem a audácia de apontar o rifle da crítica para quem merecer, sem distinção. Certos políticos que assistirem ao filme sairão da sala um tanto quanto agulhados, e sairão agulhados justo numa época de eleição. Sensacional.


Outro ponto positivo é a construção de personagens. Eles são tão profundos e tão realistas - Padilha não os filma e nem os escreve com o mínimo de maniqueísmo - que nos sentimos tocados por eles desde o princípio. De alguns, temos raiva, de outros, adoração. E de alguns, ambos - como o personagem de Irandhir Santos, o deputado Fraga. Todo esse esmero na carpintaria dramática gera uma sensação de tensão constante, desde que o primeiro frame é exibido até o fade-out final.

E o talento de José Padilha na direção ajuda muito o filme. A câmera na mão não cessa, e até em momentos em que a câmera poderia ficar apoiada, Padilha a segura nas mãos. O leve tremer do instrumento que registra a ação gera um tom mais documental, e isto já havia sido testado no primeiro longa. Aqui, ele utiliza desse artifício em larga escala, e o combina com seus closes muito fechados, que acabam criando a sensação de claustrofobia necessária. Na ação, que é pontuada na medida exata, o tremer fica maior, e logo o tom de documentário também. De fato, a imersão que tais artifícios geram já foi testada antes, mas aqui funciona ainda melhor. Pode-se dizer, então, que Padilha não inventa moda, mas que seleciona muito bem o estilo que usar, no momento em que usar .

Acoplados a isso, temos os termos técnicos, que falam por si só . É impossível não olhar para a fotografia belíssima de Lula Carvalho e não ficar encantado. Gera sensações variadas e se adéqua ao momento do filme sem alterar sua paleta. Em determinados momentos, expressa a sujeira, em outros, é árido, e em outros, adota o tom documental. Fora sua beleza contrastante, que já era chamativa logo nos primeiros trailers. A música de Pedro Bronfman também passa a tensão necessária sem abusar e sem descompassar. Serve como pano de fundo muito bem, se entrelaçando ao filme e não se destacando ou parecendo algo aleatório. E por fim, nem se precisa comentar o show comandado por Daniel Rezende na Montagem. Rápida como em Cidade de Deus, ele não foi indicado ao Oscar à toa.

Para coroar o filme, temos as atuações. Mais uma vez, sem nenhum erro, sem nenhum ator mal escolhido, e com talento de sobra. Destaque óbvio para Wagner Moura, que parece ter absorvido por completo a experiência do filme. O perfil de seu personagem está gravado não só por suas expressões faciais ou falas orgânicas. Sua postura corporal está modificada. O velho Nascimento firme e forte do primeiro filme está um trapo fisicamente, e sua atuação é a personificação perfeita. Os atores Irandhir Santos e Sandro Rocha também são espetaculares em seus papéis, e conseguem passar o filme todo sem derrapar, sem saltar caricaturas e costurar uma tridimensionalidade respeitável. O mesmo também vale para o sempre dedicado Milhem Cortaz. Quem também merece citação rápida aqui é o ator André Mattos. Quem conhece sabe que ele imitou perfeitamente o estilo de Wagner Montes, apresentador do Balanço Geral carioca, capturando seus trejeitos de forma muito verossímil.

De fato, Tropa de Elite 2 supera o seu original. Por ter mais maturidade, maior visão e maior apuro técnico. Uma verdadeira obra-prima do cinema nacional, que não existe por acaso, e que sabe explorar da maneira mais clara o possível os acontecimentos do dia-a-dia do Rio de Janeiro. Mais uma vez, Padilha e Cia jogam na nossa cara a realidade com toques de ficção muito bem caracterizados, passando informação e entretenimento simultaneamente, sem soar panfletário em momento algum. Filmes nacionais desse porte, que conseguem dosar sem exageros elementos variados, merecem ser vistos. E esse novo caminho tortuoso do nosso herói trágico Nascimento merece ser visto e revisto, definitivamente



 
 
 
 



Capitão Nascimento. Talvez o maior personagem brasileiro de cinema de todos os tempos. Não apenas em ser reconhecido pelo público e ter suas frases na boca de milhões de brasileiros, mas por causa da espetacular densidade dramática criada por esse personagem único e com pensamento singular, que parece ter todas as responsabilidades possíveis explodindo na sua cabeça. No primeiro filme, depois de cerca de 20 milhões de pessoas terem visto-o (contando as cópias piratas), Nascimento procurava um substituto á sua altura, que pudesse fazer suas funções com a mesma dedicação. Missão dada, missão cumprida, o sucesso do filme fez com que uma seqüência fosse anunciada. Como o primeiro filme introduziu uma excelente história, apresentou personagens carismáticos e ainda implantou uma realista discussão moral, uma margem para um segundo era óbvia. Porém, as seqüências de sucessos, como Transformers, se demonstraram ser apenas uma colagem de cenas de ação sem sentido apenas pra atrair público e dar diversão desregulada a eles.

Tropa de Elite 2 parecia seguir esse rumo, como apontava o primeiro trailer lançado (que mostrava o BOPE resolvendo um problema numa prisão, o que parecia ser algo trivial e clichê, que só acrescentaria ação a uma trama tão rica). Porém, José Padilha e Bráulio Mantovani perceberam que a situação no Rio de Janeiro atual poderia ser utilizada como pano de fundo para um legítimo filme-panorama, mostrando todos os espectros de uma organização muito maior do que aparentava ser no primeiro filme: o Sistema. E, sem deixar se levar pela tendência de elevar a ação, elevar as frases de efeito e elevar tudo para a seqüência, os roteiristas criaram uma película inesquecível, com ação pontuada e diálogos excelentes. Portanto, Tropa de Elite 2 pode carregar a imensa qualidade adquirida em Tropa 1, mas pelas suas melhorias técnicas, de atuação e roteiro, é um filme totalmente diferente. Difícil comparar duas obras tão distintas, mas se formos usar um linguajar mais fácil, diria que Tropa 2 supera o original.

A trama, contada de diversos pontos de vista, segue o Capitão (agora Tenente-Coronel) Nascimento (Wagner Moura) em uma cruzada pela justiça no Rio de Janeiro. Apesar de deixar André Matias (André Ramiro) no seu posto, uma pessoa digna em sua avaliação, Nascimento se viu obrigado a continuar chefiando as operações, mesmo que não atue mais nas ruas. O antes tensionado e pilhado Capitão viu a idade chegando, está mais calmo mas continua irredutível em sua filosofia de vida. Após alguns problemas em uma prisão no início do filme, o BOPE ganhou repercussão internacional ao ter que bater de frente com o ativista dos direitos humanos Diogo Braga (Irandhir Santos). Com o apoio do governador, os direitos humanos começam a ser mais avaliados e, apesar do povo estar do lado de Nascimento, o BOPE perde força. Porém, quando Nascimento é chamado (pela pressão pública no governo) a ser subsecretário de segurança, o BOPE volta com força total e acaba inteiramente com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Era Nascimento criando uma máquina de guerra, como ele sempre idealizou.

Vendo que os traficantes estavam nas vacas magras, os policiais corruptos arrumaram um novo jeito de arrecadar dinheiro ilegal: a prestação de serviços a comunidade em troca de segurança, as polêmicas milícias. Poderia ser apenas um novo problema para Nascimento, algo a ser resolvido com força e inteligência, mas o buraco é ainda maior. Apoiados secretamente por políticos e gente muito influente, os milicianos mandam e desmandam em vários locais e só crescem com o passar do tempo. Encurralado por todos os lados e com sua pressão afetando até o lado pessoal, em suas relações com o filho (que cresce achando o pai um assassino), Nascimento percebe que o Sistema vai além da polícia corrupta e sua guerrinha com os traficantes. O Sistema tem origem em Brasília.

Nesse poderoso cenário político, que concilia ficção e realidade com uma destreza impecável, Tropa de Elite 2 se transforma num grande jogo de tabuleiro. Se antes era retratado o cotidiano dos policiais, dos personagens, com um filme que os privilegiava, agora a situação é vista de cima, com inúmeros personagens (prepare-se para cerca de 10 coadjuvantes realmente relevantes). A história do primeiro se focava em Nascimento, Matias e Neto contra a corrupção. Agora, temos todos os lados dessa guerra, com personagens políticos, da polícia, jornalistas, bandidos e até a família de Nascimento. E nisso, talvez o público se decepcione: não há mais frases de efeitos, nem um monte de bandidos sendo mortos. Agora, o que dá as cartas é o drama, é a manipulação de pessoas em prol de alguma coisa. Tropa 2 até toca em quesitos emocionais fortes, como a briga de Nascimento e André, a sua instável relação com o filho e a rivalidade grandiosa entre Braga e o Capitão. E tudo isso é bem realizado pelos roteiristas, que elevam os nossos conhecidos personagens a situações tão extremas que é como se cada minuto do filme fosse uma missa de Requiem para cada um deles.

Fora o núcleo do filme anterior, Tropa 2 ainda apresenta os outros personagens do panorama com bastante felicidade e nenhum didatismo desnecessário. Mais que isso, os inteligentes diálogos criados variam de cenários constantemente, justificando os incríveis 16 milhões que o filme custou. Dividido em diversos atos, passados em cerca de 5 anos, o roteiro alcança um equilíbrio perfeito entre personagens bem construídos e situações críveis e interessantes. Vendo Tropa 2 até parece que Padilha e Mantovani viram muito Traffic, filme de Steven Soderbergh. O que Traffic representou para as drogas, Tropa 2 representará para a política brasileira. Até mesmo semelhanças de personagem acontecem. Nascimento é o Robert Wakefield da vez, o homem responsável por controlar uma força que ele não conhece completamente e começa a repensar tudo quando problemas pessoais o atingem. Como Traffic, Tropa 2 ganha um elogio que não poderia ser melhor: obteve êxito em organizar tantas informações em tão pouco tempo. Outro ponto ótimo é a construção de personagens, que não poderia ser melhor.

Mais uma diferença monstruosa para o primeiro Tropa é seu discurso moral. Antes imparcial, o discurso do filme, legitimado pela precisa narração em off de Nascimento, apresenta variações. Nascimento poderia sim falar tudo o que ele disse da corrupção no Rio (e, na minha visão, está totalmente certo). Porém, quando descobre que o Sistema (nomenclatura para o sistema da corrupção) é muito maior que ele imaginou, Nascimento repensa seu discurso. Sua moral de bandido bom é bandido morto continua intocável, mas seu discurso precisa ser mudado visto que seus inimigos agora não são meros traficantes e playboys que podem ser muito bem mortos. Ganhando evidência no povo e na mídia, agora Nascimento tem que enfrentar de frente os poderosos.

E não basta apenas dar um tiro na cabeça de cada um deles para o problema ser resolvido, afinal, como aprendemos no primeiro filme, o líder muda mas o Sistema continua. O peso que o Capitão carrega é gigantesco e as dúvidas quanto ao mundo que ele vive são tantas que a pressão só piora sua cabeça e ele se mostra cada vez mais abatido. Espetacular esse tal Nascimento. Personagem forte, esplêndido, que não se deixa perder e simplesmente levanta e continua. Mesmo sendo pisoteado, ele permanece vivo na cruzada pra salvar o Rio. Essa mudança de postura poderia soar frouxa, mas vendo com mais cuidado, percebemos que tudo aquilo continua intocável e a postura precisa ser abrandada apenas para o panorama funcionar, sem tomar decisões precipitadas. É emocionante ver que ainda temos cineastas talentosos a ponto de construir uma cadeia de eventos diversos, sem julgar ninguém e ainda assim tomar uma posição diante daquilo tudo. E quanto ao Capitão ter se afrouxado, acredite, não poderia soar mais incorreto. Basta vermos o GENIAL discurso final dele no filme para percebermos que ele permanece o mesmo cara, mas o inimigo agora é alguém vulnerável as suas balas.

Se o roteiro é tão espetacular em equilibrar situações políticas e uma tensão gigantesca na ação pontuada durante o filme, temos uma técnica á altura. A direção de José Padilha é de tirar o fôlego, com uma ação coordenada de forma concisa e que é fácil de acompanhar, sem precisar cortar um milhão de vezes e impedir o público de saber o que está acontecendo. O plano seqüência não é utilizado, mas os cortes ocorrem de forma natural. Fora isso, os ângulos obtidos nas partes dramáticas e a constante utilização de mudança de foco de zoom nas cenas só auxiliam o filme a ficar melhor. Juntando isso a planos grandiosos (inéditos no Brasil) e uma genial seqüência pré-créditos em que a câmera vai se aproximando, em câmera super lenta, ao Honda Fit metralhado, temos uma direção perfeita. Sem medo de repetir, perfeita mesmo. Mas talvez ela não seria nada sem a edição do indicado ao Oscar Daniel Rezende. Repetindo o excelente ritmo adquirido no primeiro longa, Daniel melhora sua edição e seria facilmente indicado novamente se o filme não tivesse negado a inscrição ao prêmio. Aliando-se a direção, a edição pontua a tensão GIGANTESCA que o filme impõe.

A direção de fotografia de Lula Carvalho melhora ainda mais o tom realista e saturado do primeiro longa, fazendo algo muito profissional e causando inveja tecnicamente a filmes como Se eu Fosse Você ou Olga. Já a trilha de Pedro Bronfman extrapola. Sendo excelente de ouvir separadamente, ela ainda é perfeita pro filme. Criando melodias extraordinárias e que elevam a supracitada tensão do filme à milésima potência, Bronfman ainda reutiliza alguns acordes do primeiro filme. E não há acordes de violão mais tensos do que os usados pelo compositor. Outros dois ótimos elementos são os efeitos visuais e a direção de arte, que dão um toque mais bonito e profissional ao filme, de fazer inveja a filme estrangeiro.

As atuações são a cereja do bolo. Wagner Moura mais uma vez atua de forma hipnótica como o Capitão. Entrando no personagem novamente de forma hercúlea, o ator ainda cria novos sentimentos a Nascimento, apresentando um personagem mais humano e maduro, que descobriu esses tais sentimentos que eram desconhecidos por ele até 15 anos atrás. Mesmo só passando três anos desde o lançamento de Tropa 1, Wagner faz parecer que se passaram quinze. Que profissional invejável.

André Ramiro chega também com sua essência de antes e nos faz lembrar e ter novamente os laços afetivos com o personagem, criados em 2007. Irandhir Santos faz o ativista com uma entrega muito boa, dando seus argumentos de forma coesa e quase apaixonada. Mesmo seu personagem começando como "intelectualizinho de esquerda" no filme, ele começa a ganhar uma visão maior e melhor dos fatos, porém cometendo os mesmos erros do início. Tudo isso captado com precisão pelo profissional. Fora os três, os excelentes outros atores fazem seu papel com a mesma precisão.

Sendo assim, Tropa de Elite 2 é vitorioso e, um cru e realista panorama do crime e política no Brasil. Corajoso principalmente, lançado na época das eleições, mostrando verdadeiras facetas de inúmeros políticos. Não tem a tendência de ser chamado de fascista como o primeiro foi, mas permanece tendo uma visão particular de todos os fatos ali descritos. Impressionantemente, a ideologia do primeiro continua em menor escala, mas continua, mesmo sendo sufocada pelo panorama ali imposto. Um completo caos, como o panorama descrito pelo filme. Essa é a cabeça de Nascimento, o Rio de Janeiro e o intrigante tabuleiro de idéias e corrupção que é a política no Brasil. Vá com fé ao cinema e tenha uma aula do que está ocorrendo no Brasil atualmente, veja um excelente filme e torça muito pelos personagens que aprendemos a apreciar há 3 anos atrás. Tropa 1 já oferecia uma visão singular das coisas, mas Tropa 2 é superior pelo fato de mostrar isso de cima, do espaço.

Faca na Caveira. Nascimento acredita nisso e continuará acreditando. Mas muitos querem que ele se cale. Resta a nós, como a ele, um grito sufocado.



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