sábado, 15 de janeiro de 2011

Incontrolável
(Unstoppable, 2010)
Ação/Thriller - 98 min.

Direção: Tony Scott
Roteiro: Mark Bomback

Com: Denzel Washington, Chris Pine  Rosario Dawson

Velocidade é um dos adjetivos que combinam com a filmografia de Tony Scott. Com a mão boa para ação, é do estilo do diretor filmar com urgência, literalmente ''acelerar'' com a câmera na mão. Nos últimos anos, Scott tem tido chances de variar entre alguns acertos - como o bom Deja Vu - e alguns erros - tome de exemplo o roteiro ruim de O Seqüestro do Metro 123. De fato, estilo o cineasta possui, além de um dom para a ação invejável.



Falte talvez, então ,algum faro para assinar projetos que combinem com seu modo de dirigir. No seu último trabalho, ele fez o que pôde - girou em volta de Denzel Washington milhares de vezes, tentou apelar para closes urgentes, enfim, mas nada funcionou pra valer. Era, afinal, um filme que, além de ter um roteiro falho, retratava um seqüestro, e esse talvez não fosse o tema mais adequado para Scott. Ele se sente em casa quando realiza ação veloz, e nesse aspecto, talvez não houvesse projeto mais acertado do que este Incontrolável.



Á vontade, na sua zona de conforto, com um roteiro bem trabalhado e com um elenco forte - contando com mais uma participação de Denzel Washington - o diretor não decepciona . E por mais que a trama possa parecer um mero repeteco de diversos filmes onde há um veículo desgovernado, - os dois Velocidades Máximas, por exemplo - é preciso dizer que é quase impossível passar incólume a uma sessão de Incontrolável .


A trama conta a história de um trem de carga que, numa viagem na qual estava carregando toneladas de material inflamável, acabou saindo do controle dos maquinistas responsáveis por ele, e deu a partida acelerando sem ninguém na sua cabine de comando . No perigo iminente de um acidente catastrófico caso esse trem chegasse até o seu destino final, dois maquinistas recém conhecidos - o veterano Frank Barnes (Denzel Washington) e o novato Will Colson (Chris Pine) - se sentem na obrigação de tentar fazer algo para frear o trem, usando a locomotiva que têm a disposição.


O grande trunfo disponível no roteiro de Mark Bomback talvez seja o olhar diferenciado na composição dos seus personagens . Onde poderia haver fácil banalização pelo clichê - criando verdadeiros vilões e mocinhos - há um cuidado interessante na humanização das personas em questão, e nesse aspecto, talvez o fato de ser um filme inspirado na realidade atue como fator importante. Logo no início do filme, o trem sai do controle por um erro grotesco de Dewey, o verdadeiro ''culpado'' por toda a aventura posterior. Ao longo do filme, Dewey só é tratado como algo do tipo bobão, o que de fato ele é, mas não há como rotulá-lo de vilão. Do mesmo modo, o diretor da empresa (Kevin Dunn), um capitalista de raiz, não consegue ser vilanizado por completo, até pelo apelo cômico que seu personagem arranca. ''Está demitido'' é a frase-jargão disparada ante qualquer obstáculo. Quer algo mais caricatural que isso? De fato, não há como rotular personagens ''do bem'' ou ''do mal'' em Incontrolável. O que volta os holofotes diretamente sobre o trem em si, criando em cima dele uma vilanização, como no caminhão que inexplicavelmente perseguia o herói no primeiro filme de Steven Spielberg, Encurralado.



O resto, fica pela conta do desenvolvimento acima da média da tensão da perseguição que prende o expectador na cadeira com sucesso . Nisso, Tony Scott não precisa de ajuda alguma. Seu cinema é completamente associável com a velocidade, a adrenalina da correria, o cronômetro na mão, a contagem regressiva para uma possível pirotecnia. Scott respira isso melhor do que ninguém, e Incontrolável se desenha como um excelente exercício de porte mediano para o diretor. Deixando de lado a ação, Scott também consegue dirigir seus atores de forma interessante, deixando tanto Pine quanto Washington muito a vontade nos seus diálogos, e consegue enquadra-los nos seus closes com qualidade acima da média.


Com uma trilha agitada e atuações competentes - menção para Chris Pine, que consegue mais uma vez assegurar merecidamente um lugar de destaque em Hollywood - Incontrolável monta tudo o que Tony Scott pedia desde seu último trabalho. O esquema do diretor é mesmo buscar o movimento, a ação. No início do filme ele já caçava seus protagonistas com zooms rápidos em simples cenas de diálogos. Era a demonstração do apetite do cineasta por um projeto que se ajustasse a seu estilo. E todos devem estar, assim como ele, muito satisfeitos com o resultado final. Afinal, ele está livre pra acelerar.


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