quinta-feira, 27 de janeiro de 2011


The Killer Inside Me
(The Killer Inside Me, 2010)
Drama/Thriller - 109 min.

Direção: Michael Winterbottom
Roteiro: John Curran

Com: Casey Affleck, Kate Hudson, Jessica Alba, Ned Beatty, Elias Koteas, Tom Bower e Simon Baker



Michael Winterbottom é um dos meus diretores favoritos. Por isso cada uma de suas novas incursões na sétima arte são aguardadas por mim com grande interesse. Seu filme anterior Genova, criticado aqui foi uma grande decepção e quando o primeiro trailer desse thriller de suspense com a marca da perturbação do diretor inglês saiu a expectativa só aumentou.


O livro de Jim Thompson (autor dos livros que deu origem a Os Imorais e autor do roteiro de Glória Feita de Sangue) já teve uma adaptação anterior em 1976, estrelada por Stacy Keach que infelizmente não vi, mas o que circulou antes da estréia do filme, foi que essa é uma daquelas obras ditas "inadaptáveis", complicadas de reproduzir como um filme.


Winterbottom topou a tarefa e auxiliado pelo roteiro de John Curran e por um elenco afinado conseguiu se não uma obra prima, um filme deverás interessante e impactante sobre a insanidade e a constatação de que os traços da loucura e das perversões estão em todos os lares.



Sem entrar no mérito do "um tapinha não dói", o que Winterbottom discute aqui não é o hábito do sadomasoquismo ou do sexo selvagem, mas da psicopatia que pode surgir a partir de uma "dieta" de violência, repressão e abusos sexuais.


O personagem de Casey Affleck , o xerife Lou Ford, é dos mais perturbados da recente safra do cinema. Affleck, que é melhor ator que o irmão mais famoso, consegue mais um desempenho poderoso como o psicopata boa praça que esconde sua indiferença para com o mundo ao seu redor com uma fachada de bom moço.


Sem medo de expor seus atores aos castigos físicos (com direito a uma violentíssima cena com Jessica Alba, que abusa da sensualidade em seu desempenho) e a expor seus atores a dificuldades óbvias da construção de seus personagens.



Winterbottom não facilita a compreensão do espectador, não expondo a linha narrativa de forma clara. Os primeiros trinta minutos que estabelecem a história do xerife Ford que vai atrás da garota de programa Joyce (Alba) e acaba entrando numa relação sexual doentia e violenta é mostrada de forma direta e sem rodeios. Winterbottom mostra sem muitos pudores para os padrões americanos esse relacionamento. Curioso notar como os cortes de "censura" foram feitos no sexo mas na violência estúpida contra a personagem de Alba nada foi cortado. Tudo aparece com uma crueza até desnecessária a princípio, mas que reforça o caráter doentio do personagem de Affleck.


Os coadjuvantes são todos muito bons. Desde a estrela de TV Simon Baker (da série The Mentalist) vivendo um investigador, passando pelo excelente Elias Koteas (de Crash, Anjos Rebeldes e da série Law & Order: Special Victims Unit), os veteranos Ned Beatty (Rede de Intrigas, Amargo Pesadelo) e Tom Bower e a bela Kate Hudson, que assim como Alba sai da zona de conforto e apresentando um trabalho bastante consistente.



Mas nada seria tão interessante, caso a história contada fosse frágil. E isso não acontece. Winterbottom brinca com nossas expectativas, fazendo o espectador se sentir incomodado por apresentar simpatia pelo personagem doentio vivido por Affleck a principio. Quando vemos o resultado de suas ações e sua posterior tentativa de encobrir suas falhas de caráter, o diretor mostra seu personagem não como um monstro, mas como um homem "comum" cheio de falhas.


O problema que o filme apresenta, o que motiva a nota não ser maior, é que na metade final essa dubiedade moral termina, e a loucura pura e simples toma conta do personagem o que enfraquece a sensação de incomodo que era o charme do filme, que não é nada mais do que uma versão mais sexy de Henry- Desejos de um Assassino, com a mão de Winterbottom.


Interessante como outros filmes do diretor mas ainda espero ver o mesmo diretor de Código 46 e principalmente de Festa Nunca Termina, (um dos maiores filmes da década) de volta. Ou será que depois do seu projeto pornográfico 9 Canções, Michael desaprendeu? Espero que não.


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