segunda-feira, 21 de março de 2011

Exit Through the Gift Shop
(Exit Through the Gift Shop, 2010)
Documentário - 87 min.

Direção: Banksy


Antes de qualquer coisa, declaro que não sou Bansky e essa crítica é isenta e, portanto não estou influenciado pelo artista no momento da escrita da mesma.


Dito isso, Exit Through the Gift Shop é a história do doutor Victor Frankenstein adaptada para a contemporaneidade. Temos esse cinegrafista e pseudo cineasta chamado Thierry Guetta, que obcecado pela street art e seus grandes artistas começa a acompanhar diversos deles - sempre filmando - moldando a idéia de transformar todo o material gravado em um documentário.


A primeira parte - dividamos em duas o filme - mostra Thierry e suas viagens acompanhando diversos desses artistas, a grande maioria deles brilhantes, na criação e "exposição" de sua arte, em diversos pontos do planeta. O filme é entrecortado por uma série de entrevistas mais recentes, com algumas desses personagens, incluindo o misterioso Banksy, que assina a direção e aparece ora com o rosto pixelizado, ora sobre sombras com a voz modificada. Em todas elas algo fica claro que Thierry era um homem obcecado e com alguns problemas emocionais e uma tendência à megalomania, mas era um "brother". Um sujeito boa praça mais meio maluco.



O filme é narrado de forma irônica - na linha Guia do Mochileiro das Galáxias, a série da BBC - por Rhys Ifans (ator conhecido por Notthing Hill) criando pausas dramáticas e constantes clímaxes satíricos que deixam o espectador com sorriso no rosto.


Thierry é mostrado acompanhando esses artistas - os principais do mundo - sem nunca ter conseguido se encontrar e conhecer Banksy, talvez o mais famoso e perturbador dos autores. Sua obsessão é mostrada na tela até o dia em que ele consegue conhecer o misterioso personagem. Dai Banksy assume o show e com certa auto-indulgência mostra seu trabalho e seu "modus operanti". Verdade seja dita que Banksy - com todo o respeito aos demais artistas vistos em tela - é muito mais criativo e crítico em sua arte. A cabine que sangra e o dinheiro da princesa Diana são provas dessa genialidade que culmina na exposição do artista em Los Angeles, causando um impacto fulminante na cabeça já meio "amalucada" de Thierry.


O filme tem um interlúdio involuntário quando apresenta um trecho do "documentário" que reuniu as imagens que Thierry coletou por mais de cinco anos.



Quando essa inserção termina, o filme passa a acompanhar uma das mais engraçadas e apalermadas histórias de construção de personagem do cinema. Entra em cena o Mr. Brainwash e sua patética tentativa - bem sucedida - de produzir arte e seu séqüito de seguidores. Banksy é muito feliz ao debochar da situação mostrando todo o exagero ao culto ao artista - antes mesmo dele existir como tal - e num mea culpa incomum, apresentar-se como o doutor Frankenstein diante de seu Monstro sedento de amor e recheado de individualismos estranhos e ousados.


Mr. Brainwash e sua arte são medíocres e derivativas de tudo o que vimos antes (ou seja, nada original) e é nessa patetice que o filme cresce, pois não tem piedade em achincalhar seu "herói" e mostrar todas as - muitas - imperfeições de sua personalidade e de sua relação com a arte produzida.



Banksy demonstra um controle sutil e inteligente sobre sua narrativa multi-focada e nunca perde o rumo, e auxiliado pela narração acha o tom ideal para o filme, misturando a seriedade do trabalho artístico com o culto ao artista.


Um excelente trabalho, bastante maduro e que mostra que Banksy mesmo sem mostrar a cara tem muito mais personalidade do que metade das starlets do cinemão americano.

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