quinta-feira, 17 de março de 2011

Reencontrando a Felicidade
(Rabbit Hole, 2010)
Drama - 91 min.

Direção: John Cameron Mitchell
Roteiro: David Lindsay-Abaire

Com: Nicole Kidman, Aaron Eckhart e Dianne Wiest



É a volta de Nicole Kidman, depois de papéis fracos e os comentários nada agradáveis a respeito de sua aparência - e sua falta de expressividade. O fato é que Rabbit Hole (ou Reencontrando a Felicidade, no título nacional) é um trabalho bastante convincente e de qualidade da atriz.


Nicole vive Becca, uma mãe traumatizada pela perda precoce do filho há oito meses (quando o filme começa). Ela é casada com Howie, igualmente traumatizado mais aparentemente mais aberto a falar sobre seus sentimentos que sua esposa. Ambos freqüentam um grupo de apoio e tentam voltar a viver (ou como o título nacional tacanho aponta: reencontrar a felicidade).


Interessante notar como não existe uma narrativa em si. Rabbit Hole segue a rotina machucada desse casal sem se importar em apresentar nenhum "grande" evento que os marca. É um filme sobre o dia seguinte, digamos assim. Não se fala sobre o evento - apenas de forma velada, até quase o final do filme - mas sobre as conseqüências dele. É como falarmos de Woodstock sem mostrar um show, falando apenas do que os mais de um milhão de pessoas fizeram à plantação do Sr. Yasgur.



É um filme sobre o levantar depois da queda, nesse caso uma quase fatal. Existem é claro, algumas situações que apressam ou freiam a recuperação do casal. A gravidez de uma personagem machuca de forma intensa Becca, assim como o surgimento - de forma orgânica e muito inteligente - do "assassino" do filho, provoca uma reação intempestiva em Howie e de compreensão em Becca.


Aliás, é muito interessante descobrirmos a motivação pára o titulo do filme, que é muito mais poética e inteligente do que a tacanha idéia nacional. Rabbit Hole - a expressão - exemplifica muito melhor a condição mental do casal Becca e Howie e a paz de espírito improvável que Becca tenta atingir.


Nicole Kidman entrega-se ao papel, um dos mais interessantes de sua carreira. Aparecendo primeiramente como uma mulher fria e fechada a todo tipo de intimidade, transforma-se gradualmente durante o filme. Aaron Eckhart não foi tão falado, principalmente para eventuais premiações, mas seu desempenho é do mesmo nível de Kidman. Eckhart vem relevando-se um ator muito consistente, apresentando atuações seguras e maduras, como essa. Howie é uma bomba relógio prestes a explodir, e quando Becca parece começar a seguir adiante, é Howie quem se mostra inseguro quanto à relação dos dois e o filho falecido.



Dianne Wiest - uma grande atriz, quase sempre sub-valorizada apesar de seus dois Oscars - é outro achado da produção. Acertando em cheio como uma mãe preocupada, mas incapaz de tatear em busca das melhores palavras para descrever sua alegria ou frustração.


John Cameron Mitchell - o diretor - é ator (seu papel mais importante foi Hewdig, em Hewdig - Rock, Amor e Traição) e isso fica claro por seu cuidado em emoldurar cada ator, abraçando-o e dando liberdade e tempo para que cada palavra seja dita com a inflexão correta. São os atores que ditam o ritmo do filme, e não o contrário. A história serve a essa gente que mantém o carro rodando em velocidade constante.


Vale lembrar que Mitchell é o diretor do polêmico Shortbus - defendido por muitos como uma bandeira verdadeira da diversidade sexual e considerado por outros, como eu, uma bobagem chatíssima. O roteiro é David Lindsay-Abbare que tem no currículo obras dispares como Robôs e Coração de Tinta. Rabbit Hole é uma adaptação de sua própria peça e é sem dúvida sem melhor texto.



Rabbit Hole é muito humano em sua visão sobre perdas e mais ainda quando mostra como podemos superá-las e seguir adiante. Somado a uma dupla de atores afinada, um bom texto e um diretor que compreende o material com que trabalha resulta em um filme interessante, que se não tem aquele momento de brilhantismo, ou um trama estupenda, é segura e funciona muito bem.

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