quarta-feira, 16 de março de 2011

GasLand
(GasLand, 2010)
Documentário - 107 min.

Direção: Josh Fox
Roteiro: Josh Fox



Um tema verdadeiramente importante não disfarça um filme confuso e quase professoral. Esse é o problema de GasLand, que tem um tema muito interessante que aflige boa parte de um país, mas que tem como resultado um documentário moroso, cansativo e repetitivo.

GasLand fala sobre a indústria do gás nos Estados Unidos, e como por uma série de fatores vem envenenando os rios e as pessoas por todo o país. O filme obviamente, é uma denúncia contra essa situação e apresenta o trivial em documentários dessa natureza: entrevistas com os que sofrem com o envenenamento pontuam todo o filme, exemplificando na prática os efeitos nocivos dessa situação.


O problema é que tudo soa lento e caso o espectador não tenha interesse especial na situação, não consegue se envolver naquelas histórias, que são recortadas da mesma maneira, quase como seqüências uma da outra, sem muito critério. Existem pelo menos quatro (ou cinco) imagens iguais de água pegando fogo e de inserções de imagens com rios e animais.



Talvez uma diminuição do tempo de muitas dessas histórias ajudaria no impacto das mais interessantes, como a da senhora que depois de uma explosão de gás natural recuperou os corpos de animais mortos, e os guarda a mais de dois anos em seu freezer, como prova - em caso de uma autópsia - do envenenamento.


Mas o impacto é diluído em dezenas de outras histórias, basicamente iguais, que se do ponto de vista da denúncia apontam a vastidão do problema, do ponto de vista cinematográfico emperram o ritmo do filme.


Outros problemas - esses mais pontuais - residem no próprio criador do documentário (Josh Fox), que na onda Michael Moore é um personagem de seu próprio projeto. Só que diferente do bonachão americano e de alguns outros documentaristas, Fox não tem o menor carisma, tem uma dicção enrolada (como se estivesse o tempo todo chapado) e tem a cara de pau de fazer "graça" tocando banjo - a foto que ilustra a maioria dos pôsteres - na frente de uma usina de gás. O efeito no filme é chato, pedante e não acrescenta absolutamente nada.



Esse é o principal problema desse e de vários documentários, mundo afora. Transformar um tema de interesse mediano em uma experiência cinematográfica interessante. Recentemente A Enseada, filme que conta a matança dos golfinhos no Japão, foi aclamado mundialmente, por conseguir transmitir o choque da matança e ainda transformando-o em um filme interessante para quem não tem o menor interesse no assunto.


GasLand falha nos dois aspectos. Apesar da denúncia e das palavras daquela gente, você só se choca realmente quando vê os poços explodindo, ou os animais congelados ou a "água que pega fogo", que são momentos pontuais que são diluídos num emaranhado de termos tecnicistas e sonolentos.


Nem mesmo o fato de conseguir cobrir uma importante reunião do conselho de Meio Ambiente (ou algo assim) do estado de Nova York com os representantes das empresas de gás é interessante.Prejudicado pela idéia de sangrar cada um dos participantes, na tentativa mal sucedida de perceber eventuais nuances da linguagem corporal dos entrevistados.



GasLand tinha tudo para ser um grande documentário. Tem um tema palpitante, e nas mãos de alguém mais ousado e criativo poderia ter se tornado uma experiência cinematográfica muito mais rica.


Ficou apenas na denuncia, e para ver denuncia sem nenhum tratamento digno de cinema, prefira ver uma matéria inteligente na televisão.

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