quarta-feira, 30 de março de 2011

Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles
(Battle: Los Angeles, 2011)
Ação/Sci Fi - 116 min.

Direção: Jonathan Liebesman
Roteiro: Christopher Bertolini

Com: Aaron Eckhart e Michelle Rodriguez

Antes mesmo do logo da Columbia Pictures desaparecer no fade-out que precede o primeiro fotograma de Batalha de Los Angeles , já escutamos aquele som típico dos longas de Rolland Emmerich: algum jornalista alegando um desastre sem precedentes em algumas regiões do planeta. Então, quando o filme de Jonathan Liebesman realmente começa, somos jogados em um redemoinho de imagens tremidas, dentro do foco do desastre, para depois sermos enviados ao arco que interessa ao filme - um helicóptero recheado de marines que sobrevoa uma área onde naves alienígenas caem aos montes. Gerando uma tensão interessante, o título aparece em tela numa imagem aérea épica e desoladora. Tudo fica preto. Então o filme começa de fato. E não demora mais que um minuto para ter-se idéia da hecatombe nuclear que Batalha de Los Angeles realmente é.



Dentro desses poucos minutos de filmagem interessante e agressiva, fomos claramente enganados, mas talvez seja apenas uma dose irrelevante de enganação comparada a daqueles que aguardavam euforicamente pelo filme - criando um hype que se revela obviamente falso - devido aos trailers bem montados e cartazes no mínimo criativos. Perante a película, porém, não há como ser enganado - a babaquice de níveis estrondosos que essa produção mostra ser, não pode se esconder de ninguém. Um erro em cima do outro, tudo que poderia implodir qualquer filme, foi introduzido á mistura, e o mínimo que poderia dar certo, foi elevado a níveis de uma overdose fatal.



Explico. Batalha de Los Angeles utiliza uma trama extremamente simples - dignas de filmes de Michael Bay ou Rolland Emmerich - mas extrapola qualquer ponto, não usa nenhuma medida para estacionar sua cotação em apenas ''ruim'', não controla qualquer perímetro de qualquer que seja o aspecto, resultando numa verdadeira catástrofe. Os clichês de Bay e sua excitação com o exército americano - o diretor de Armaggedon deveria ter sido um pseudo-personagem tipo Tio Sam, e não um cineasta - se fazem presente de maneira exponencial, e Jonatahn Liebesman mostra seu apreço incondicional ao ridículo. A máxima antológica do sargento batendo continência em frente à bandeira americana, é, acreditem, uma das passagens patrióticas mais leves do filme. A saudação aos marines é intensa, sufocante, angustiante de tão inflada. Assim como outros pontos do filme, esse nacionalismo inchado, que em dosagem baixa pode até ser engraçadinho, se torna nocivo com o passar do tempo de exibição .


E se Jonathan Liebesman tem um amor incondicional ao exército americano - mesmo sendo sul-africano - parece não possuir tanto apreço a materiais básicos e essenciais para a vida de qualquer cineasta - como um mero tripé, por exemplo. É a única explicação para tamanho descaso e desuso de qualquer apoio ou sustentação de sua câmera. Talvez seja mais fácil encontrar diálogos decentes no filme - e olha que esta é uma tarefa árdua e complexa - do que apontar um take estático que seja. Nada contra a câmera na mão. Quando bem usada, é fundamental para a respiração de um filme, como na urgência brilhante da câmera de Lee Daniels em Precious, para citar algum exemplo mais recente . Mas aqui, Liebesman exacerba. Demais.



Não é mera implicância, o projeto de diretor faz Michael Bay parecer cauteloso em seus cortes se comparado ao seu modo de filmagem em Batalha de Los Angeles. A urgência em alguns pontos é adequado. Usar o leve tremor da câmera e zooms intimistas em conversas descontraídas e nada importantes é, no mínimo, inadmissível. Sem falar que esses mesmos zooms intimistas acabam proporcionando um ar documental - e nem preciso dizer que tentar enxergar algo documental no exagero maniqueísta que Batalha de Los Angeles é simplesmente estapafúrdio. Pra encurtar, Liebesman usa câmera na mão o filme todo, perde qualquer potencial dessa técnica ao empregá-la durante modorrentos 116 minutos, e ainda de quebra deixa seus espectadores com dor nos olhos .


Mas se havia algum ponto que poderia dar certo no longa, talvez fosse a diversão de um filme de pancadaria entre aliens e humanos. Entra em cena aí, então, o outro carrasco de Batalha de Los Angeles : Christopher Bertolini. O cidadão que criou o script do filme - não acho que chamá-lo de roteirista seja prudente - deve possuir sérios danos mentais ou então fez o roteiro (roteiro?) para curtir com a cara do sagaz espectador. Aposto numa terceira opção, a pura falta de compreensão do que é bom, do que é ruim, e do que é desastroso. O último adjetivo, aliás, é perfeito para caracterizar o... Err... Hmm... roteiro, de Bertolini. Como um adolescente com ejaculação precoce, Bertolini inicia a pancadaria sem fim com uns 20 minutos - se muito - de filme. Pelos meus cálculos, tirando créditos, são mais de 95 minutos de pura ação, correria, tiroteio, explosões, etc.



Obviamente, em 20 minutos ele não explora adequadamente os personagens - e pelo o que o filme se propõe, isso nem era necessário - mas faz questão de colocar letreiros com nomes das personas quando elas aparecem - tomando a inteligência do espectador pela burrice que apodera sua mente. E no que se refere a esse espaço de pancadaria que toma conta da maioria do filme, deve-se dizer que, mais uma vez, há o claro exagero. Mesmo aquele que é mais aficionado por ação, achará Batalha de Los Angeles insuportável. Até determinado ponto, a loucura da batalha sem fim parece palatável, mas a partir de um determinado momento - principalmente nos 40 minutos finais - tudo começa a ficar extremamente enfadonho, cansativo, repetitivo e sem a menor graça. Ter sono nessa parte, e se sentir perdido, sem foco e sem atenção, não é difícil.


Tomando exagero e extrapolação como palavras de ordem básicas, Batalha de Los Angeles vai além de qualquer limite que qualquer cineasta ruim já teve. E se vai além no aspecto do absurdo, da ruindade, não tem nem a vergonha na cara de ser escrachado - como Michael Bay e Rolland Emmerich tantas vezes fazem. Não tem aquele ar de descontração dos filmes de Bay, por exemplo. Leva-se a sério, e isso culmina com uma sensação perversa, mas verdadeira: a de que estamos assistindo a uma sátira de filmes de guerra , no estilo Trovão Tropical.



Não se espante se não perceber o quão ofensivo é o filme enquanto o está assistindo. O teor exacerbado é tanto, que só adquirimos consciência de seu ultraje a nossas mentes quando ele se encerra. Catarticamente, percebemos o terror que assistimos de maneira hipnótica. A sensação é de ter sido estuprado, não por um alien, mas por todo um pelotão americano patriótico. Agora, não sou eu que estou exagerando. É só o resultado do crime de Jonathan Liebesman, um verdadeiro violentador de mentes e de qualquer senso de sanidade intelectual.


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