quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Assalto em Dose Dupla

(Flypaper, 2011)
Comédia/Thriller - 87 min.

Direção: Rob Minkoff
Roteiro: Jon Lucas e Scott Moore

Com: Patrick Dempsey, Ashley Judd, Pruitt Taylor Vince, Jeffrey Tambor, Tim Blake Nelson e Curtis Armstrong

Filmes de assalto podem ser divididos em dois grupos: aqueles que querem trazer realismo a tela, por meio de ações elaboradas, críticas a sociedade, violência gráfica, desenvolvimento de personagens e tensão, e aqueles que colocam os assaltos em meio a um clima de charme condescendente tendo como única intenção divertir o espectador em meio a uma história cheia de idas e vindas, escondendo buracos no roteiro com atores carismáticos e ação bem realizada.

É o caso de Assalto em Dose Dupla, que aposta suas fichas no carisma de Patrick Dempsey como um Sherlock Holmes hiperativo que se vê no meio de dois assaltos (daí a tradução "comédia da sessão da tarde") que acontecem simultaneamente no mesmo banco. Enquanto o grupo liderado por Darrien (Mekhi Phifer) planeja com esmero e muita tecnologia a invasão de um banco, a dupla de rednecks (ou caipiras no português claro) tenta o mesmo golpe usando roupas chamativas, bermudas, visual exótico e sem nem se preocupar com esconder sua identidade.

E no meio dessa baderna generalizada estão os "reféns", gente comum (ou não) que teve como único pecado estar na hora errada e no lugar errado. Mas é claro que em filme que não se leva em momento algum a sério (mesmo as mortes e acidentes são apresentados de forma a ressaltar o humor negro presente no filme) aquelas figuras teriam de ser excêntricas. Desde o guarda "chicano" metido a galã, passando pela caixa gordinha, o responsável pela segurança eletrônica do banco (o eterno Boomer de Vingança dos Nerds), o funcionário modelo cheio de tiques, a caixa muito bonita e que está para se casar com um milionário (Ashley Judd) e o perturbado personagem de Dempsey, que mesmo sendo profundamente destemperado e falar mais rápido que uma bala, é o mais inteligente dos personagens e o único que percebe de saída que aquilo é algo mais do que assalto a banco.


A trama passa a lembrar uma mistura rala e sem muito açúcar de Assassinato sem Morte (Cult em que um milionário misterioso convoca uma série de detetives - entre eles variações de Columbo, Miss Marple e Fu Manchu - para solucionar o crime mais perfeito da história, culminando em uma história que parodia os milhões de plot twists e revelações no último minuto típicas da literatura e do cinema de mistério) e dos mistérios de Agatha Christie, com uma pitada de Sherlock Holmes e coberto da comédia de humor negro que aqui não soa engraçada em quase nenhum momento.

A dupla formada por Tim Blake Nelson e Pruitt Taylor Prince não funciona em momento algum, e não será difícil imaginar o espectador torcendo para algum deles ser morto acidentalmente, tamanha torrente de vergonha alheia produzida pela dupla. Enquanto isso, Dempsey está profundamente afetado e auxiliado pelos didáticos flashbacks (que estão em p&b e são parecidos na forma, com aqueles que fazem da serie de tv britânica Sherlock tão incrível) se transforma no foco dos problemas e soluções do longa, que tecnicamente ainda tem problemas com as transições, que estão truncadas entre esses flashbacks e a realidade da história e um abuso desnecessário dos fast-frames, que prejudicam também o andamento do filme.

Se o humor do filme é medíocre, o quesito ação também não vai muito melhor. As sequencias de tiroteio são confusas sendo uma delas crucial para o plot do filme, prejudicando a compreensão da história. As muitas idas e vindas na realidade do filme, são provocadas para causar dúvida e tensão no espectador, embora as explicações (sempre um problema e uma dificuldade nesse tipo de produção) forcem a suspensão de descrença do espectador a níveis inacreditáveis, em especial a que envolve a personagem de Ashley Judd.


Dentre os atores, fora Blake Nelson e Taylor Prince, atores medíocres que não conseguem nem ser engraçados ou assustadores, ficando ali no marasmo do patético e do infame, Judd e Dempsey estão razoáveis, apesar do histrionismo do galã de Grey's Anatomy. Como dupla, o casal não tem funciona. Falta química e a própria mecânica de sua paixonite é mal realizada.

A direção é de Rob Minkoff (de Stuart Little e que foi um dos diretores do clássico Rei Leão) que apesar dos problemas em suas escolhas visuais, tem o mérito de conseguir manter o interesse naquela quantidade incrível de personagens sem se afobar e sem confundir o espectador. 

Isso é resultado de estereótipos claros desde o primeiro frame, não dando espaço para desenvolvimento de personagens, já que isso não é necessário para o filme (em teoria). Quando se opta por essa saída se perde muito quando estes personagens precisam "mudar de pele" e se transformar em algo que até então não sabíamos, ou que o filme não nos indicou.


Esse tipo de solução simplista atrapalha a credibilidade do filme, já que, quando as revelações começam a surgir na tela, o espectador não consegue crer realmente naquelas mudanças nos personagens. Assalto em Dose Dupla, faz isso em diversos momentos, e ainda apela para a solução do "culpado é o mordomo", o que até poderia funcionar como paródia, caso (e deixei isso claro acima) o humor negro do filme funcionasse minimamente bem.

Apesar de ter uma metragem curta, o filme é cansativo (uma tragédia para uma comédia que pretende ser leve e ágil) e prejudicado pelas inúmeras tentativas de fazer sentido graças a um roteiro (da mesma dupla dos dois Se Beber Não Case) que não consegue unir as pontas soltas dando coesão a tantas idas e vindas na história. Em resumo, Assalto em Dose Dupla não consegue ser nem uma comédia leve e divertida, ou mesmo uma homenagem ao gênero de mistério, sendo relegado a alguns pequenos espasmos de humor e a graça da dupla Dempsey-Judd.

3 comentários:

  1. Vocês não tem canal no youtube não? sempre perco no Todo Seu mas queria rever as indicações de lá, e seria bom pra divulgar o excelente blog, com seus ótimos textos


    Filmes que queria ver as criticas:
    historias cruzadas
    toda forma de amor
    Eu Sou Uma Escrava Pra Você
    The Sorcerer and the White Snake
    11-11-11
    Colombiana
    Um Método Perigoso

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  2. Marcílio, tudo bem? Primeiro muito obrigado por ter comentado em várias de nossas críticas. Sobre o canal, infelizmente não temos, as participações no Mulheres ainda estão (por enquanto) restritas ao vivo mesmo.

    Sobre os filmes que você gostaria de ver críticas: 11-11-11 sairá em breve, como não rolou cabine de imprensa, demoramos mesmo para publicar, assim como Colombiana. Método Perigoso já tem crítica durante o festival do Rio. Quanto aos demais não temos previsão por enquanto.

    Obrigado novamente pela atenção

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  3. Infelizmente o gênero comédia está sendo muito mal tratado nos últimos anos. Faltam roteiros inteligentes.

    Parabéns pelo blog e pela participação no programa Mulheres.

    Estou linkando seu endereço endereço no meu blog.

    Abraço

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