segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Resident Evil 4: O Recomeço
(Resident Evil: Afterlife, 2010)
Terror/Suspense - 97 min.

Direção: Paul W.S. Anderson
Roteiro: Paul W.S. Anderson

Com: Milla Jovovich, Ali Larter, Kim Coates, Wenthworth Miller, Sienna Guillory e Shawn Roberts

Em 2002, começava no cinema a franquia Resident Evil, baseada na série de videogames da empresa japonesa Capcom . O sucesso dos jogos era grande e exponencial, e obviamente Hollywood esperava a mesma coisa nas telonas . Dito e feito, o filme não fez feio nas bilheterias, arrecadando um pouco mais que 100 milhões de dólares, tendo como orçamento um pouco mais de 30 milhões. Paul W.S. estava nesse filme, como diretor , escritor e produtor, e talvez por esse mesmo motivo, a película não se saiu bem nas críticas mundias . Afinal, é um fato e uma constatação quase unânime que W.S. Anderson não possui competencia atrás das câmeras, o que só viria a ser evidenciado nos seus trabalhos seguintes, como a franquia risível Alien Vs. Predador . Infelizmente, o mesmo ocorreu com Resident Evil . Seguiram-se os anos , e foram lançados mais produtos da saga, entre animações, quadrinhos, video-games, e obviamente, mais filmes. Depois das sequencias Apocalypse, em 2004, e Extinção, em 2007, Resident Evil se tornou uma daquelas franquias onde é preciso ser muito fã, e ter muita força de vontade para acompanhar.

Portanto , como o próprio Anderson já disse em entrevistas, era preciso algo novo para se comercializar a franquia novamente nos cinemas . Afinal, repetição após repetição, filme após filme, uma hora os fãs se cansariam . E é aí que a modernidade chega para ajudar o quarto capítulo da série. Nos últimos anos, com a popularização definitiva do 3D , e com o fenômeno tridimensional Avatar, a maioria dos blockbusters passaram a introduzir o 3D nas suas histórias, como método de atrair mais público, e mais dinheiro - já que o ingresso é bem mais caro . Não é diferente o que passou pela cabeça de Anderson, e como diretor,escritor e produtor, novamente, ele tomou a decisão mais esperta para uma estratégia de mercado - colocou a novidade de três dimensões no seu filme, e utilizou a elogiadíssima câmera do ''pioneiro" James Cameron.



E o resultado final é o mesmo que o cineasta queria. Seu plano deu certo, e saiu melhor até do que o esperado. O dinheiro chega, o público se atrai pelo filme, e o 3D funciona. E paremos por aí. Resident Evil 4 - Recomeço , é estranho , pois reúne as melhores e as piores características de seu realizador, e por mais que seja divertido e utilize seus efeitos tridimensionais de maneira muito esperta, também é mais um roteiro falho de Anderson.

A trama é quase a mesma de todos os outros filmes. Alice ( Milla Jovovich) continua na sua jornada de procura de sobreviventes do vírus mortal que transforma pessoas em zumbis. Ao mesmo tempo, também busca destruir e se vingar da empresa Umbrella, responsável pela contaminação, que tem como chefe o agente sem emoção Wesker .

Raso desta maneira, o filme se baseia nos pilares básicos dos filmes de terror e de sobreviventes a infestações zumbis. Após chegar ao encontro de um grupo de sobreviventes, Alice tem que levar seus - agora companheiros - até um local seguro, e lá manter a ''resistencia'' da espécie humana . Desta forma, eles vão enfrentando dezenas de zumbis no seu caminho - inclusive o gigante Executioner - seguindo a fórmula de mortes dos filmes de terror , onde um por um morre até que apenas os protagonistas sobrevivam.


Não podia se esperar nada além disso num filme desses, mas o roteiro ainda apresenta erros dispensáveis. Flashbacks surgem sem necessidade, e acabam irritando. Ora, quem já conhece a série, não precisa deles, e quem não conhece, não fica sabendo de nada, nada se esclarece. Outro problema se dá pela excessiva "mastigação" do roteiro, que se concentra principalmente na parte inicial do filme. Nos momentos onde a protagonista registra suas falas para a câmera, a explicação de narrativa fica explicitada. Isso também atrapalha o produto, afinal, não peço que o filme seja inteligente , mas que apenas não julgue seu espectador por imbecil. Isso tudo somado aos já clássicos buracos de roteiro que produções assim necessitam para viver, já quebra qualquer estrutura narrativa no meio.

Mas tudo que citei já era de se esperar. A história não era definitivamente o ponto forte do filme, e o seu diferecial é, como todos sabem , o 3D . Utilizando-se das super-câmeras criadas por James Cameron , que permitem registrar o longa já em 3D, Paul W.S.Anderson consegue criar um filme que tem nas cenas de ação qualidade considerável . Com coreografias interessantes e bem executadas, as cenas de ação se saem realmente muito bem, com uma direção que foge do padrão - afinal o cineasta precisa filmar com takes mais longos para que o 3D possa funcionar. A tridimensionalidade em si, é muito bem explorada por Anderson . Existem bons takes, com boa profundidade , que consegue criar uma imersão similar a de Avatar , por exemplo .


Os conceitos de chuva e de fumaça também são testados de maneira muito eficiente, mas é claro que Anderson não deixaria o filme passar sem os seus toques pessoais. Para cada cena de profundidade bem explorada, há duas de objetos voando na tela. Nada que desfavoreça o longa, obviamente, e no geral, a tridimensionalidade entretem de maneira muito eficaz.

O problema para as cenas de ação é, com certeza, o fundo musical . A trilha de Tomandandy (Tom and Andy, mas optaram pela tosqueira do nome conjugado sabe -se lá porque) é pra lá de estranha e descompassada . Assistir as belas sequencias de ação com as musicas estranhas ao fundo nao é muito agradável, e a trilha só se salva com a música final e a da cena de luta com o Executioner . A fotografia teria méritos principalmente pela cena dentro da Arcadia, onde tudo é branco e muito mais claro. Infortuitamente, fora dali, a fotografia é escura, e com a presença dos óculos 3D tudo fica mais escurecido ainda. Porém, os efeitos especiais tem resultado abaixo da média. Em certos pontos, parece que os efeitos eram maiores do que o orçamento de 60 milhões , o que gera certa queda na qualidade gráfica. Felizmente, isso não prejudica a diversão no cinema .

Num apanhado geral, podemos dizer que nada mudou na franquia Resident Evil como base para história. Seguem-se as mesmas linhas narrativas, os mesmos confrontos, e os mesmos ganchos pra prolongar a franquia. Não parece passar pela cabeça de W.S.Anderson finalizar a série agora. Entretanto, é importante ir começando a pensar nisso, pois daqui a uns anos, o 3D vai ser artifício comum no cinema, e se foi só ele que salvou o Recomeço do fracasso total, o que vai salvar o próximo filme?

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