sexta-feira, 13 de maio de 2011


Agentes do Destino
(The Adjustment Bureau, 2011)
Thriller - 106 min.

Direção: George Nolfi
Roteiro: George Nolfi

Com: Matt Damon, Emily Blunt, Anthony McKee, Terence Stamp

Antes de tudo é preciso dizer que Agentes do Destino não é um filme ruim. Apesar de não atingir as expectativas que seu trailer produziu, não deixa de ser inteligente e ter boas sacadas para resolver seus enigmas, embora o final do filme seja bastante irregular e destoe do clima de mistério e perseguição do filme.

Apesar do título em português - que já entrega a função dos tais agentes - é interessante notar como o diretor George Nolfi (em sua estréia na função, tendo escrito filmes como Linha do Tempo, Ultimato Bourne e Doze Homens e um Segredo) cria toda uma mitologia baseado no conto de Philip K. Dick, que confesso ao leitor que não li, para mascarar quem são essas figuras estranhas de sobretudo e chapéu.

Temos esse congressista americano (David Norris, interpretado por Matt Damon em "Bourne Mode") notório dínamo de confusões desde sua infância que parece estar muito perto da eleição para o Senado. Quando o filme começa, a maré muda e Norris sofre uma inesperada virada e perde a eleição. Quando está preparando seu discurso para aceitar a derrota conhece a linda Elise (Emily Blunt) que o inspira a criar um discurso mais realista e que catapulta suas intenções políticas para as próximas eleições.


Esse clima de comédia romântica é misturado com a ficção científica, representados pela presença constante dos agentes, seres/pessoas que zelam para que "o plano" (escrito pelo que eles chamam de presidente) seja rigorosamente seguido. Trocando em miúdos: nossa vida, e cada passo dela não passa de uma história já escrita e que cabe a nós interpretar esse papel com sabedoria e inteligência, sendo assistidos pelos agentes, responsáveis pelos acertos aqui e ali, quando por ventura nos desviamos do caminho original.

A mitologia criada para os agentes mistura Asas do Desejo (pela melancolia do agente Harris, que parece cansado de sua tarefa/função), Matrix (pela questão de uma realidade por trás da nossa), Cidade das Sombras (por apresentar uma organização que controla a nossa realidade) e A Origem (pela tentativa de criar diversas camadas de percepção, pela linguagem, pela direção de arte e paleta de cores - azulada - usada durante o filme todo).

Consciente talvez de que não estava criando a roda e com menos pretensão do que o mundo estéril e matematicamente perfeito de Christopher Nolan, Agentes do Destino consegue entreter o espectador cético e principalmente apostar suas fichas em atingir um público mais geral, incluindo até aqueles que não têm o menos interesse por ficção científica. O problema reside na forma como esse produto chegou até o espectador. Em cada trailer apresentado, a atmosfera de perseguição e ficção científica prevaleceu frente às idéias que o filme defende o que pode desagradar aos fãs do gênero e não conseguir soar agradável a um público mais geral.


Tecnicamente o filme tem grandes momentos. A direção de arte é muito inteligente e abusa dos cenários de Nova York e criam ambientes que apostam ora nos cinzas ora nos dourados e ainda tem tempo de diferenciar cada ambiente utilizado. A precisão dos cortes para criar transições entre as passagens pelas portas, em especial nos últimos vinte minutos, é estupenda e criar a sensação de urgência típica de um filme de espionagem ou ação.

Nolfi - talvez inspirado por Greengrass - faz aqui o único uso da câmera na mão, apostando - felizmente - na construção dos planos de forma a intensificar a grandiosidade da agencia e da presença constante e incessante desses personagens na vida de nosso personagem principal.

A química - essencial na história - entre Damon e Blunt funciona muito bem. Ambos parecem estar tremendamente a vontade na condição de amantes apaixonados e Blunt consegue - se é possível - aparentar mais beleza ainda.


Os coadjuvantes completam o bom elenco de Agentes do Destino. Anthony McKay (como Harry) e John Slattery (como Harry Mitchell) e a figura sempre forte de Terence Stamp (Thompson) conseguem criar personagens tridimensionais e completamente diferentes entre si, tendo anseios e desejos diferentes uns dos outros.

Mas, infelizmente Nolfi se rende ao comodismo e encerra seu filme com uma dose de ingenuidade e conto de fadas que quase destrói seu filme. Talvez pensando que terminar sua produção de forma amarga afugentaria os espectadores, opta por uma solução convencional para resolver seus problemas que apesar de ser plausível, depõe contra seu trabalho mais cético.

Nolfi debuta demonstrando talento atrás das câmeras também e apesar da conclusão equivocada, Agentes do Destino é um dos melhores filmes do semestre vindo da terra das estrelas.



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