Um Novo Despertar
(The Beaver, 2011)Drama - 91 min.
Direção: Jodie Foster
Roteiro: Kyle Killen
Com: Mel Gibson, Jodie Foster, Anton Yelchin e Jennifer Lawrence
Jodie Foster é muito corajosa. É somente entendendo isso que podemos imaginar seu envolvimento nesse arriscadíssimo e potencial fracasso retumbante (em termos comerciais e até mesmo crítico) chamado Um Novo Despertar.
Um Novo Despertar causa estranhamento e apesar de tentar por diversos momentos soar interessante, é no contexto geral, um longa muito irregular, pois não consegue defender suas idéias com credibilidade e não consegue se livrar do incomodo inicial de acompanhar um homem usando um fantoche de pelúcia na mão durante todo o filme. Falha também ao tentar seguir os passos de Clint Eastwood que sempre - ou melhor, na grande maioria das vezes - utiliza um plot "raso" para discutir algum assunto sério e bastante contundente.
Apesar dos filmes não apresentarem nenhum relação, tentem imaginar esse Um Novo Despertar como a versão Menina de Ouro de Foster. Na superfície, Foster conta a história insana do homem que fala pelo fantoche, mas na verdade ela quer falar sobre outra coisa: a depressão. Clint apresentava a discussão sobre a eutanásia a partir da história de superação da boxeadora Maggie Fitzgerald.
No filme de Foster, nosso primeiro contato com esse mundo vem por meio do altamente depressivo Walter Black (Mel Gibson) um executivo que herdou uma companhia de brinquedos do pai e que vive flutuando acima da realidade. Sua esposa (Meredith, interpretada pela própria Jodie) o deixa, seus filhos (o pequeno Henry interpretado por Riley Thomas Stewart e Porter interpretado por Anton Yelchin) sentem vergonha do pai e sua companhia está indo ladeira abaixo.
Quando o filme engrena (após um off que explica todos esses detalhes que mencionei acima) Walter está tentando o suicídio. Ao não conseguir concluí-lo acaba se acidentando e ao acordar decide enfrentar sua depressão dividindo sua personalidade (pois é), dando vazão a sua ira, entusiasmo e espontaneidade na forma de um fantoche intitulado "The Beaver" (simplesmente O Castor em português) que passa a gerir sua vida e negócios.
A primeira hora do filme mistura a gerencia do Castor com a figura trágica do garoto Porter, um especialista em recriar/reproduzir os sentimentos alheios em forma de texto (habilidade responsável por lhe prover dinheiro) e que detesta perceber suas inúmeras similaridades com seu pai.
O trabalho de Anton Yelchin aqui é muito bom, sendo seu personagem o verdadeiro (ou deveria ser pelo menos) interesse da história. Seu estado de apatia que aos poucos vai se transformando em depressão é brilhantemente ilustrado pela diretora. O problema do longa é que a figura de um homem usando um fantoche como meio de comunicação é absurda e causa - acho até que de forma proposital - incomodo em quem assiste. Impossível evitar rir quando Mel surge na tela e é acordado por sua mão... quer dizer Castor.
Mas não é nem o Castor que quebra o realismo do filme, ou a figura "queimada" de Gibson que deixam o gosto de "podiam ter feito bem melhor" na boca. São nos últimos minutos, que começam com uma insólita briga entre cérebro e corpo (rivalizando com a briga da mão perdida em Hora do Espanto 2) apresenta um ínterim estúpido (no sentido da gravidade da situação) e culminam em um adocicado epílogo, que não combina com a seriedade que o assunto vinha sendo apresentado até então.
Não que ele seja um happy ending, mas não combina com a idéia defendida pelo filme até aquele momento. Parece que Foster quis mostrar um pouco de esperança em meio à situação que é muito mais complexa de ser resolvida do que o filme mostra.
Esse é um filme de ator (dirigido por um inclusive) e são eles que roubam a cena. Gibson repete seus tiques de interpretação que todos conhecemos de todos os outros filmes de sua carreira. Foster é uma atriz de muita garra e consegue dar realismo a sua personagem que é de longe a que tem menos tempo de tela e mais trabalho, como mediadora entre os dois mundos que passam todo o filme em constante choque.
Anton Yelchin mata a pau e demonstra um talento até então adormecido por seus papéis mais mainstream. Contido em seus gestos e profundamente atento a sua linguagem corporal, ao mesmo tempo em que incorpora alguns maneirismos de Gibson (fundamentais a trama) desenvolve com independência seu personagem e suas neuroses. Completando o bom elenco, a belíssima e talentosa Jennifer Lawrence mais uma vez mostra porque devemos ficar de olhos abertos e sempre aguardando seus próximos projetos. Surgindo como interesse romântico de Porter, demonstra muito mais a cada minuto de tela. Complexa, cheia de "sapos" presos na garganta e com uma profunda vontade de crescer, funciona tão bem quanto o personagem de Yelchin.
É uma pena que dois personagens tão interessantes sejam mastigados com desdém pela direção de Foster, que foca sua história por muito tempo em quem não deveria ter tanto espaço assim. Caso o filme mantivesse seu interesse visual - e falo mesmo em tempo de tela e exposição do personagem - em Porter e nos primeiros passos rumo à destruição total vista no personagem de Walter, Um Novo Despertar (título fraco) seria muito mais interessante do que é. Por apostar nesse caminho, surge como uma versão cheia de psicoterapia de boteco da clássica história do Médico e o Monstro.
Caramba, acabei de assistir vc no programa "Mulheres" gostei muito de suas críticas.
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