O Ritual
(The Rite, 2011)Terror/Suspense - 114 min.
Direção: Mikael Hafström
Roteiro: Michael Petroni
Com: Colin O'Donoghue, Anthony Hopkins, Alice Braga
Filmes de exorcismo sempre serão comparados a O Exorcista, de William Friedkin. Talvez pela forma crível com que esse clássico do cinema de horror mostrou as conseqüências de uma possível possessão demoníaca na vida de uma família, ou por explorar com grande sabedoria a perda de fé de seus protagonistas, ou mesmo pelo choque das cenas da "aranha" descendo a escada, o vomito de sopa de ervilha ou a masturbação com o crucifixo.
O Ritual é mais que vem tentar se colocar ao lado como representante dos bons filmes do tema. E não consegue.
O filme começa com Michael Kovak, um rapaz que trabalha com seu pai Istvan Kovak em uma funerária, mas parece sempre ausente e tem uma relação fria com as pessoas a sua volta. É o típico caso de alguém que ainda não se encontrou na vida, que ainda está fazendo escolhas e que não sabe que caminho seguir. Um desses caminhos é a fé, e por isso Michael entra para um seminário. O filme avança quatro anos e vemos Michael no fim do seminário, mas perdendo sua fé e a beira de abandonar os votos. Numa tentativa de mantê-lo na igreja, seu superior o envia até Roma para participar de um curso sobre exorcismo, como forma (obviamente ele não diz isso a Michael) de reacender sua fé em Deus ao confrontá-lo com o Diabo.
Uma vez em Roma, Michael conhece a jornalista Angelina (Alice Braga) e o nada ortodoxo padre Lucas (Anthony Hopkins) que o mostra alguns exemplos de exorcismo que ele pratica.
Na tentativa de soar "real", Hafstrom desmitifica o exorcismo, mostrando-o como uma consulta médica comum, com sessões e retornos graduais para o prosseguimento do tratamento. O primeiro problema já começa ai. Se a idéia é ser real, qual a necessidade de exagerar no uso da música ou mesmo de transformar tudo em um potencial (e não justificado) susto. Por ter em mãos uma história "baseada em fatos reais" o diretor esquece que além de contar aquela história real, é necessário manter o espectador interessado naquelas situações.
Isso não acontece em toda a produção. Se a história e o realismo com que as sessões de exorcismo com a garota Rosaria (parecidíssima com Asia Argento) são mostradas funcionam muito bem, todo o que permeia essa situação não agrada. A personagem de Alice Braga entra muda e sai calada, não tendo nenhuma serventia ao filme. E o ator responsável por carregar o filme nas costas (Colin O 'Donoghue) é muito fraco. Aposto com o leitor que em momento algum - incluindo ai, as revelações traumáticas sobre seu pai - O'Donoghue vai conseguir emocionar o espectador. Estéril, dotado de uma frieza desnecessária e principalmente não conseguindo dar credibilidade a nenhum de seus diálogos, O’Donoghue é um dos responsáveis por derrubar o filme ladeira abaixo.
Anthony Hopkins é "vendido" como o protagonista do filme, e deveria ser. Seu personagem apesar de exagerado em alguns momentos e parecer deslocado em outros, funciona muito bem como condutor da história. Só sua transformação na parte final do filme já vale uma observada mais atenta.
Hafstrom tentou aqui criar algo crível e real, como O Exorcismo de Emily Rose, mas diferente desse filme referenciado esqueceu de se calçar com atores talentosos (Rose tinha Tom Wilkinson como protagonista e Laura Linney e Jennifer Carpenter como coadjuvantes) para seus papéis principais. Aqui, tudo cai e afunda nas costas de seu padre Kovak.
Outro erro é que o filme busca e nunca encontra o susto. Força a barra ao tentar encaixar vozes sombrias, sapos, mulas de olhos vermelhos e uma dezena de artifícios que não causam o menor arrepio no espectador. Faltou uma melhor lapidação do que seu diretor estava procurando. Uma realista história sobre fé e sobre a idéia do exorcismo? Ou um conto de terror com "baseado em fatos reais" estampado só para causar mais comoção?
O fato é que nenhum uma coisa nem outra aconteceram em O Ritual. O filme não é crível o suficiente para vermos algo que poderia acontecer com qualquer um - as interpretações quase teatrais emperram o filme - e não consegue assustar o espectador como um bom conto de terror deveria fazer.
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