domingo, 1 de maio de 2011

Poesia
(Shi, 2010)
Drama - 139 min.

Direção: Chang-dong Lee
Roteiro: Chang-dong Lee

Com: Jeong-hie Yun, Da-wit Lee e Nae-sang Ahn



Poesia guarda muitos paralelos com Mother, também coreano, por suas linhas narrativas semelhantes. Ambos têm jovens ou adolescentes retraídos e cheios de segredos e mulheres fortes que tentam compreendê-los e lidar com as dificuldades que as atitudes que esses jovens são acusados de tomar.


Mother falava de uma mãe que faz de tudo para ajudar seu filho, e Poesia fala de uma avó (Mija) que cuida do neto adolescente e que tenta seguir sua vida como empregada de um idoso com problemas de saúde. Enquanto esperava o ônibus em seu ponto, descobre um curso de poesia e resolve participar. Durante quase uma hora acompanhamos a rotineira vida da personagem, entre seus afazeres com a casa, seu trabalho, sua tentativa de escrever uma poesia e sua relação com um adolescente fútil, banal e desrespeitoso.


Um fato - tratado com naturalidade pelos envolvidos - muda sua rotina e a personagem passa a correr contra o tempo para ajudar seu neto envolvido em uma tragédia. O diretor Chang-dong Lee é muito sutil ao revelar as impressões de Mija sobre o fato, mas não alivia ao apresentar todos os envolvidos como interesseiros e problemáticos homens insensíveis e motivados a apenas em manter as aparências.


Um triunfo ao conseguir sobressaltar o espectador da cadeira que acompanha uma hora de vertigem - ao modo oriental, que fique claro - em que torcemos com dubiedade para que a sensível e amorosa avó consiga ajudar seu neto, que fica cada vez mais claro ao espectador - outro acerto do diretor - não merece ser ajudado.



A questão da poesia é apresentada de forma tão bela e natural e em nenhum momento torna moroso o filme. Poesia é deslumbrante fotograficamente, em especial nas seqüências que tem como plano de fundo o interior do páis, com pastos e plantações verdes. Lá, o diretor abusa das belas imagens para - talvez - contrastar com as impressões que tem de sua personagem, uma mulher dolorida e em dúvida entre seguir sua consciência e ajudar seu ente mais querido.


Ao mesmo tempo, o filme também fala da dificuldade da relação entre gerações - aqui se utilizando da poesia, gênero literário zumbificado - e na forma com que agimos de forma natural diante de situações absurdas e que deveriam chocar uma sociedade.



A cena em que se revela a trama macabra que envolve o filme é um exemplo poderoso dessa crítica do diretor Chang dong-Lee a sociedade. Notem a revolta contida e a vergonha e embaraço com que a personagem de Jeong-hie Yun recebe as notícias enquanto seus companheiros de mesa bebem e tratam da situação com enorme tranqüilidade.


A interpretação da atriz é muito interessante, sabendo mesclar uma graciosa ingenuidade com uma amargura e desapontamento. Há meia hora final do filme é recheada por momentos como esse, onde a atriz mostra-se fragilizada pelas situações a seu redor e sem saber como agir diante das dolorosas conseqüências de seus atos.



Poesia é dramático sem apelar para o melodrama e consegue ser intenso e (er...) poético sem apelar para o intelectualismo barato, tem grande interpretação de sua atriz principal e uma história que mistura a delicadeza com a mágoa em doses iguais criando um filme delicioso e poderoso. Forte candidato a entrar em uma lista de melhores do ano.

2 comentários:

  1. Assisti a este filme por ver uma indicação sua na TV. Muito obrigada! Não tenho palavras pra dizer o quanto me emocionei ao assisti-lo. O blog é excelente e as críticas são escritas de uma forma muito bonita. De agora em diante, vou sempre acompanhar o blog.

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  2. onde conseguimos esses filmes orientais do blog? sou muito fã de filmes orientais...


    PS: Vocês têm canal no youtube? sempre perco vc no todo seu,vocês não tem o video de suas indicações la não, era uma boa e ajuda a divulgar o blog que é muito bom,vocês escrevem muito bem...

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