sábado, 12 de maio de 2012

Battleship - Batalha dos Mares


Battleship - Batalha dos Mares
(Battleship, 2012)
Ação/Sci Fi - 131 min.

Direção: Peter Berg
Roteiro: Erich Hoeber e Jon Hoeber

Com: Taylor Kitsch, Alexander Skarsgard, Rihanna, Liam Neeson, Brooklyn Decker

Com um profundo medo de me arrepender de minhas palavras digo: senti falta de Michael Bay. Senti falta da sua total e completa falta de pudor em destruir uma cidade, seu sexismo idiotizante ou mesmo de seus efeitos visuais grosseiramente exagerados. E o por que dessa declaração mais do que absurda? Por que se Michael Bay fosse o diretor do medonho Battleship, talvez o resultado não fosse tão ruim.

A ideia, que é a principio muito absurda, de adaptar para o cinema o clássico jogo de tabuleiro Batalha Naval peca primeiramente por ignorar os principais elementos do próprio jogo: a estratégia e a disputa entre dois comandantes marinhos em guerra.

O filme prefere, no entanto, usar o jogo apenas para justificar o uso de navios na produção, já que a historia fala sobre uma invasão - injustificada e não explicada em momento algum no filme - alienígena que apenas alguns poucos navios podem enfrentar. O que me deixa a impressão que o estúdio deve ter sido procurado pela marinha americana, preocupada com um baixo numero de alistados para suas filas e que ao lado da gigante dos brinquedos (Hasbro) decidiram unir o útil ao agradável: produzir um filme pipoca da pior qualidade e que também pode ser visto como o maior vídeo de alistamento militar da historia.


O nível dos diálogos prejulga que o público atingido diretamente pela "mensagem" é de quase neandertais, tamanha a incapacidade de formular uma frase que não fuja do lugar comum. Pior do que ser apenas ruim, o filme é daquele tipo que deixa dúvidas causadas pela incapacidade de seu texto em não explicar pontos apresentados pelo próprio filme. Correndo o risco de soltar alguns spoilers, explico: em determinado momento, por exemplo, vemos três navios entrando em contato com uma gigantesca nave alienígena. Pois bem, a nave ataca a minúscula frota destruindo alguns de seus navios. O filme passa a acompanhar outro núcleo e quando volta a navio sobrevivente, e sem nenhuma explicação, a gigantesca nave some. Simplesmente some e deixa a tripulação principal questionando porque a gigantesca nave não enxerga a embarcação. Ora, se os alienígenas viram a pequena frota anteriormente, porque deixariam de ver agora? A impressão é que alguém esqueceu um rolo de filme, parecendo que falta um pedaço do filme.

Outro problema crônico reside na apresentação do personagem principal, vivido pelo péssimo Taylor Kitsch (de John Carter). Quando o filme começa, ele é praticamente um vegetal, e é representado por um longo cabelo e uma barba mal feita (o que já é um estereótipo para os conservadores, para mim, o alvo claro da produção). Alex Hopper é um perdedor completo, sem emprego e nenhuma perspectiva de vida, enquanto seu irmão Stone (Alexander Skarsgard) é o perfeito Mister América, afinal ele está na marinha (nada sutil). Depois que o sujeito apronta mais uma imbecilidade tentando impressionar a típica americana de filme de Hollywood (gigantescos seios e nenhum carisma ou inteligência), seu irmão decide que o único jeito de mudá-lo é alistá-lo na marinha. Sério. Em pleno século XXI.

Quando o filme retoma, Alex já é um oficial e - pasmem - está namorando a mesma garota da primeira cena do filme. E para melhorar ainda mais o clima, tem como grande desafio, pedir a mão em casamento para o sério Almirante Shane (Liam Neeson passando muita vergonha). Novamente. Em pleno século XXI. E para piorar, nunca fica claro de quem é essa ideia de "pedir a mão em casamento". Alex parece não ver necessidade disso (quem em sã consciência vê a necessidade disso?) e nem sua namorada (Sam, vivida pela linda mais fraquinha Brooklyn Decker) parece se importar também.


Como então torcer por um sujeito que é tão bobo como esse? Que não tem nenhuma personalidade e que apenas e o típico esquentadinho, por que afinal, os americanos não podem ser certinhos. O "homem de verdade" tem que cuspir na cara e peitar a autoridade.

Os demais atores atuam no modo "militar revoltado" ou "militar cego" ou "péssimo ator fazendo bico". Em um dos momentos que melhor exemplifica essa impressão, um dos marinheiros chega para o nosso "herói" e mesmo sabendo o que fazer diz: "eu não sei o que fazer senhor, afinal o senhor está no comando". Quando Alex toma uma decisão, no entanto, o mesmo personagem passa a questionar a ideia de seu comandante. Esses vícios do militarismo (seguimos regras sem questionar) são - além de na vida real serem profundamente perigosos - imbecil, pois apenas comprova o quanto o texto parece não entender que, em uma situação como aquela a hierarquia dificilmente seria seguida.

Os alienígenas por sua vez são muito mal construídos. A qualidade da animação (sim, os alienígenas são feitos em CG) é baixa e me faz questionar os motivos para essa escolha. Por que não colocar atores maquiados? Por que optar por uma técnica tão arriscada? O resultado não convence absolutamente ninguém. A personalidade daqueles invasores também é muito mal desenvolvida. Não se explica o porquê eles estão na terra, nem o que pretende fazer e muito menos o porquê eles tomam uma determinada atitude em relação aos humanos.


Para deixar o caldo ainda mais indigesto, o filme ainda insere um outro núcleo formado pela namorada loira do herói, um ex-marinheiro ("interpretado" por um marinheiro real) que é deficiente físico e um nerd de laboratório que, evidentemente, precisa ser meio covarde e o pseudo alívio cômico da história.

Nem mesmo as cenas de ação - que geralmente salvam esse tipo de bobagem - funcionam na totalidade. São navios destruídos, naves espaciais razoáveis e muito ferro retorcido. Nada do que o nosso amigo Michael já não tenha nos mostrado. O "diretor" Peter Berg tem uma única vantagem em uma comparação com seu inspirador: não fica balançando a câmera freneticamente a cada take. Uma qualidade é verdade, mas a serviço de um produto muito fraco.

E o final? Amigos, por respeito a vocês que imagino tenham ficado curiosos pela bizarrice, não entrarei em detalhes. Apenas peço para que atentem para a participação de mais um grupo de marinheiros, digamos, inusitados. Ali, o caixão que já estava pregado foi baixado a sete palmos do chão.


Battleship tem apenas um pequeno momento feliz. Quando o filme "brinca de Batalha Naval", ao colocar personagens precisando descobrir inimigos usando bóias de medição de mares e que deixa o navio "às cegas". Uma boa ideia que não salvam os mais de duas horas de martírio.

Se o filme fosse um documentário sobre uma partida real de Batalha Naval não seria tão irritante. Com louvor, um dos piores filmes de 2012.

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