Battleship - Batalha dos Mares
(Battleship, 2012)
Ação/Sci Fi - 131 min.
Direção: Peter Berg
Roteiro: Erich Hoeber e Jon Hoeber
Com: Taylor Kitsch, Alexander Skarsgard, Rihanna, Liam Neeson, Brooklyn Decker
Com um profundo
medo de me arrepender de minhas palavras digo: senti falta de Michael Bay. Senti
falta da sua total e completa falta de pudor em destruir uma cidade, seu
sexismo idiotizante ou mesmo de seus efeitos visuais grosseiramente
exagerados. E o por que dessa declaração mais do que absurda? Por que se
Michael Bay fosse o diretor do medonho Battleship, talvez o resultado não fosse
tão ruim.
A ideia, que é a
principio muito absurda, de adaptar para o cinema o clássico jogo de tabuleiro
Batalha Naval peca primeiramente por ignorar os principais elementos do próprio
jogo: a estratégia e a disputa entre dois comandantes marinhos em guerra.
O filme prefere,
no entanto, usar o jogo apenas para justificar o uso de navios na produção, já
que a historia fala sobre uma invasão - injustificada e não explicada em momento
algum no filme - alienígena que apenas alguns poucos navios podem enfrentar. O
que me deixa a impressão que o estúdio deve ter sido procurado pela marinha
americana, preocupada com um baixo numero de alistados para suas filas e que ao
lado da gigante dos brinquedos (Hasbro) decidiram unir o útil ao agradável:
produzir um filme pipoca da pior qualidade e que também pode ser visto como o
maior vídeo de alistamento militar da historia.
O nível dos diálogos
prejulga que o público atingido diretamente pela "mensagem" é de
quase neandertais, tamanha a incapacidade de formular uma frase que não fuja do
lugar comum. Pior do que ser apenas ruim, o filme é daquele tipo que deixa
dúvidas causadas pela incapacidade de seu texto em não explicar pontos
apresentados pelo próprio filme. Correndo o risco de soltar alguns spoilers,
explico: em determinado momento, por exemplo, vemos três navios entrando em
contato com uma gigantesca nave alienígena. Pois bem, a nave ataca a minúscula
frota destruindo alguns de seus navios. O filme passa a acompanhar outro núcleo
e quando volta a navio sobrevivente, e sem nenhuma explicação, a gigantesca nave some. Simplesmente some e deixa a tripulação principal questionando porque a gigantesca nave não enxerga
a embarcação. Ora, se os alienígenas viram a pequena frota anteriormente,
porque deixariam de ver agora? A impressão é que alguém esqueceu um rolo de
filme, parecendo que falta um pedaço do filme.
Outro problema
crônico reside na apresentação do personagem principal, vivido pelo péssimo Taylor Kitsch (de John Carter). Quando o filme começa, ele é praticamente um vegetal, e é
representado por um longo cabelo e uma barba mal feita (o que já é um estereótipo
para os conservadores, para mim, o alvo claro da produção). Alex Hopper é um perdedor
completo, sem emprego e nenhuma perspectiva de vida, enquanto seu irmão Stone (Alexander Skarsgard) é o perfeito Mister América, afinal ele está na marinha (nada sutil).
Depois que o sujeito apronta mais uma imbecilidade tentando impressionar a
típica americana de filme de Hollywood (gigantescos seios e nenhum carisma ou inteligência),
seu irmão decide que o único jeito de mudá-lo é alistá-lo na marinha. Sério. Em
pleno século XXI.
Quando o filme
retoma, Alex já é um oficial e - pasmem - está namorando a mesma garota da
primeira cena do filme. E para melhorar ainda mais o clima, tem como grande
desafio, pedir a mão em casamento para o sério Almirante Shane (Liam Neeson passando muita
vergonha). Novamente. Em pleno século XXI. E para piorar, nunca fica claro de quem
é essa ideia de "pedir a mão em casamento". Alex parece não ver
necessidade disso (quem em sã consciência vê a necessidade disso?) e nem sua namorada (Sam, vivida pela linda mais fraquinha Brooklyn Decker) parece se importar também.
Como então torcer
por um sujeito que é tão bobo como esse? Que não tem nenhuma personalidade e
que apenas e o típico esquentadinho, por que afinal, os americanos não podem
ser certinhos. O "homem de verdade" tem que cuspir na cara e peitar a
autoridade.
Os demais atores
atuam no modo "militar revoltado" ou "militar cego" ou
"péssimo ator fazendo bico". Em um dos momentos que melhor
exemplifica essa impressão, um dos marinheiros chega para o nosso
"herói" e mesmo sabendo o que fazer diz: "eu não sei o que fazer
senhor, afinal o senhor está no comando". Quando Alex toma uma decisão, no
entanto, o mesmo personagem passa a questionar a ideia de seu comandante. Esses vícios do
militarismo (seguimos regras sem questionar) são - além de na vida real serem profundamente perigosos - imbecil, pois apenas comprova o quanto o texto parece
não entender que, em uma situação como aquela a hierarquia dificilmente seria
seguida.
Os alienígenas por
sua vez são muito mal construídos. A qualidade da animação (sim, os alienígenas
são feitos em CG) é baixa e me faz questionar os motivos para essa escolha. Por
que não colocar atores maquiados? Por que optar por uma técnica tão arriscada?
O resultado não convence absolutamente ninguém. A personalidade daqueles
invasores também é muito mal desenvolvida. Não se explica o porquê eles estão
na terra, nem o que pretende fazer e muito menos o porquê eles tomam uma
determinada atitude em relação aos humanos.
Para deixar o
caldo ainda mais indigesto, o filme ainda insere um outro núcleo formado pela
namorada loira do herói, um ex-marinheiro ("interpretado" por um
marinheiro real) que é deficiente físico e um nerd de laboratório que,
evidentemente, precisa ser meio covarde e o pseudo alívio cômico da história.
Nem mesmo as cenas
de ação - que geralmente salvam esse tipo de bobagem - funcionam na totalidade.
São navios destruídos, naves espaciais razoáveis e muito ferro retorcido. Nada
do que o nosso amigo Michael já não tenha nos mostrado. O "diretor"
Peter Berg tem uma única vantagem em uma comparação com seu inspirador: não fica balançando a câmera
freneticamente a cada take. Uma qualidade é verdade, mas a serviço de um
produto muito fraco.
E o final? Amigos,
por respeito a vocês que imagino tenham ficado curiosos pela bizarrice, não
entrarei em detalhes.
Apenas peço para que atentem para a participação de mais um
grupo de marinheiros, digamos, inusitados. Ali, o caixão que já estava pregado
foi baixado a sete palmos do chão.
Battleship tem
apenas um pequeno momento feliz. Quando o filme "brinca de Batalha
Naval", ao colocar personagens precisando descobrir inimigos usando bóias
de medição de mares e que deixa o navio "às cegas". Uma boa ideia que
não salvam os mais de duas horas de martírio.
Se o filme fosse
um documentário sobre uma partida real de Batalha Naval não seria tão
irritante. Com louvor, um dos piores filmes de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário