O Corvo
(The Raven, 2012)
Thriller - 110 min.
Direção: James McTeigue
Roteiro: Ben Livingstone e Hannah Shakespeare
Com: John Cusack, Luke Evans, Brendan Gleeson e Alice Eve
Edgar Allan Poe é
um dos maiores autores da historia do planeta. Sim, sem exageros. Sua mistura
do lúgubre, macabro e sangrento em historias que deixavam seus personagens a
beira do abismo emocional ainda hoje tem impacto em leitores de todas as
idades.
No cinema, Poe já
foi adaptado e vivido muitas e muitas vezes. Segundo o IMDB (o maior banco de dados
sobre cinema do planeta) Edgar Allan Poe já foi interpretado na tela grande 54
vezes até agora, enquanto seus livros e contos deram origem a mais de 250 filmes,
curtas, vídeos e series de tv.
Entre os mais
famosos destacam-se aqueles estrelados por Vincent Price, como O Solar Maldito,
A Mansão do Terror, A Orgia da Morte, The Raven (estrelada por Bel Lugosi e
Boris Karloff). Além dos igualmente interessantes The Black Cat (com o Sherlock Holmes do cinema Basil Rathbone), Túmulo Sinistro, Dois Olhos Satânicos (em que o mestre Dario Argento adapta
como um média metragem o clássico, O Corvo) entre muitos outros.
Portanto, era de
se esperar uma deferência e respeito à obra e ao personagem nessa biografia
ficcional dirigida por James McTeigue (de V de Vingança), estrelada por John
Cusack (de filmes tão diversos como 2012 e Alta Fidelidade, por exemplo) e que
mistura a vida real do biografado com a criação de um serial killer que
assassina pessoas baseando-se em contos e livros do escritor.
Pois bem, o
primeiro problema do filme é que o Poe de Cusack parece um maluco perturbado e
sem nenhum carisma. Cusack parece viver Poe como um sujeito contemporâneo,
cheio de manias e trejeitos de um homem do século XXI. Apesar do filme não ter
essa pretensão de ser um retrato histórico de um período, mas uma divertida homenagem
aos escritos do autor, fica claro que McTeigue imaginou Poe mais como um
personagem de quadrinhos ou livros pulp do que um sujeito de carne e osso. Estereotipado
como o gênio incompreendido, cheio de problemas e mentalmente instável, o autor
não é um personagem facilmente amável no filme, e isso dificulta com que o filme
engrene.
A trama é até
divertida, pois vai misturando diversas historias de Poe, incluindo ai os clássicos Assassinato na Rua Morgue, O Corvo e o Poço e o Pêndulo (essa última
violenta e suja como o conto original, embora prefira o que Argento fez em Dois Olhos Satânicos ),
mas esbarra no maior defeito de todas as produções desse gênero: a expectativa.
Cria-se um mundo
de idéias e criativas soluções para uma historia de gato e rato, mas a solução
é pedestre e praticamente sem justificativa alguma. Não ajuda também o fato de
Luke Evans (de Imortais, Três Mosqueteiros entre outros) não convencer como o
detetive que pede ao autor que ajude nas investigações. O romance forçado
também não ajuda em nada e apesar de ser fundamental para a trama, não existe química
alguma entre Cusack e a bela Alice Eve.
McTeigue apresenta
uma reconstrução de época eficiente, bons efeitos visuais e uma fotografia que
ajuda a compor o clima de mistério, mas esbarra na tentativa de transformar Poe
em uma figura de ação, algo próximo do que Guy Ritchie fez com Sherlock Holmes
ou mesmo o que Alan Moore fez com seus personagens dos quadrinhos de A Liga
Extraordinária, porém, com um componente bastante perigoso: Poe é um homem
real, enquanto os demais são personagens ficcionais.
Tentar impingir características
a uma figura pública é muito perigoso e precisa ser muito bem dosado para não
parecer uma vontade de reescrever a historia. McTeigue esbarra nisso, mas
parece um exagero crer que essa tenha sido uma ideia consciente. Prefiro
acreditar que McTeigue tratou Poe como mais um personagem ficcional, e como tal
fez o que quis com o escritor.
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