sexta-feira, 4 de maio de 2012

Conspiração Americana


Conspiração Americana
(The Conspirator, 2010)
Drama - 122 min.

Direção: Robert Redford
Roteiro: James D. Solomon

Com: James McAvoy, Robin Wright, Kevin Kline, Tom Wilkinson, Evan Rachel Wood, Justin Long, Danny Huston


Robert Redford é um dos mais politizados personagens do cinema americano. Se em sua carreira a frente das câmeras não foi sempre que o ator envolveu-se em filmes políticos, fora dela - sempre que pode - o também diretor e idealizador do mais importante festival de cinema (fora da Europa) do mundo, gosta de apresentar suas posições políticas, embora não seja da turma de Sean Penn, que acha que tudo no mundo é difícil e cinzento.

Em Conspiração Americana, Redford aponta seu gatilho para o assassinato do presidente norte americano Abraham Lincoln, fazendo do julgamento de Mary Suratt (Robin Wright) o estopim para falar sobre o idealista fundador do jornal Washington Post, Frederick Aitken (interpretado por James McAvoy) que na época acabara de voltar da Guerra Civil americana e foi designado como advogado de Mary.

Mary - mãe de John Suratt, e que também foi julgado posteriormente pelo mesmo crime - foi acusada de conspiração junto a outros homens para assassinar o presidente americano e Aitken mesmo indignado assume o caso como manda o ofício que escolheu, afinal segundo a lei, todos merecem o direito a defesa, por mais culpados que pareçam ou mais grave seja o delito impingido ao acusado. O filme, e isso é o mais interessante, não tenta provar ao espectador que Mary é inocente, pelo contrário. A produção de Redford serve fartamente o espectador com indícios de que - se Mary não era diretamente cúmplice do atentado - certamente deveria saber em que seu filho estava metido.


O que Conspiração Americana quer apresentar é a noção de que mesmo diante de um ato horrível, a justiça não deve ser dobrada para que a verdade sobressaia. Em suma, o filme levanta a bandeira de que os fins não podem justificar os meios. Não é importante provar os fatos apresentados, mas dizer que não podemos nos rebaixar ao revanchismo ou a vingança, já que o precedente pode - mais tarde - nos custar caro.

Se hoje, impedimos um advogado de ter detalhes sobre o caso de um perigoso terrorista, por exemplo, quem garante que quando alguém incomodar o sistema (por assim dizer) o mesmo não possa acontecer? Claro, que essa interpretação pode ser exagerada e dramática, mas o cerne da questão é importante. A liberdade e a justiça devem sempre ser protegidas mesmo diante dos piores momentos de uma sociedade.

Por isso, que talvez o filme peque tanto em alguns elementos tradicionais do chamado "filme de tribunal", como o fato do advogado facilmente encontrar respostas para sustentar a defesa que faz de Mary, como uma declaração de um médico que diz que sua cliente tem problemas de visão e que por isso talvez não pudesse ter reconhecido determinado suspeito, ou que o personagem não se hospedava no hotel da personagem com seu nome verdadeiro, ou papéis que incriminariam uma outra testemunha entre outros.


Esse aparente descaso é apenas para mostrar que mesmo com as muitas dificuldades impingidas pelo governo (na figura de Edwin Stanton, secretário de Guerra, vivido com vigor e seriedade por Kevin Kline) Aitken é suficientemente capaz de ao menos colocar em dúvidas as verdades absolutas ditas pelo governo contra a acusada. Mas, isso enfraquece o fator de entretenimento da obra, tornando-a mais filosófica e analítica do que cinematográfica.

O elenco de apoio é formado por diversas estrelas e talentosos atores, como Tom Wilkinson que vive o senador que abraça a causa de Mary a primeira vista, e que entrega a Aitken quando percebe que sua figura jamais poderia ser respeitada no tribunal, além do já citado Kevin Kline, que faz o mais próximo de um vilão que o filme tem (além é claro dos assassinos de Lincoln) e do sempre competente Danny Huston como o promotor do caso.

Mas são nos ombros de Robin Wright e de James McAvoy que o filme se concentra. Mary é fria e resignada, apoiada em sua fé, como uma mulher dedicada completamente a seus filhos e capaz de tudo para mantê-los a salvo, mesmo que para isso arrisque sua própria vida. McAvoy faz de Aitken um idealista , mesmo quando não pretende defender Mary. Seus ideais de verdade e justiça são mais fortes do que seus pré-conceitos quanto a sua cliente. Ambos estão bem, apesar de não se destacarem particularmente, principalmente porque o componente humano serve a causa, e não o contrário.


A mensagem é mais importante do que a própria historia e isso sacrifica alguns aspectos dos personagens, como a relação de Mary e a guerra civil (no que ela acreditava, o que sentiu ao seu final) ou de Aitken e sua namorada/noiva/esposa, que simplesmente é ignorada após o segundo ato.

Redford curiosamente interpretou um personagem (dos mais importantes de sua carreira) muito ligado a historia do jornal fundado por Aitken. Em Todos os Homens do Presidente, ele viveu Bob Woodward, um dos jornalistas que denunciaram o Watergate e que culminou na renuncia do então presidente americano Richard Nixon, e em Conspiração Americana parece ainda defender os mesmos valores que seu personagem defendia em meados dos anos 70: a vitória mesmo que justa só pode acontecer se seguirmos os padrões morais e a justiça, por mais injusta que ela pareça. Pena que esse discurso fique lindo no papel, mas na tela seja enfadonho.



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