Conspiração Americana
(The Conspirator, 2010)
Drama - 122 min.
Direção: Robert Redford
Roteiro: James D. Solomon
Com: James McAvoy, Robin Wright, Kevin Kline, Tom Wilkinson, Evan Rachel Wood, Justin Long, Danny Huston
Robert Redford é
um dos mais politizados personagens do cinema americano. Se em sua carreira a
frente das câmeras não foi sempre que o ator envolveu-se em filmes políticos,
fora dela - sempre que pode - o também diretor e idealizador do mais importante
festival de cinema (fora da Europa) do mundo, gosta de apresentar suas posições
políticas, embora não seja da turma de Sean Penn, que acha que tudo no mundo é
difícil e cinzento.
Mary - mãe de John
Suratt, e que também foi julgado posteriormente pelo mesmo crime - foi acusada de conspiração junto a outros homens para assassinar o presidente americano e Aitken mesmo
indignado assume o caso como manda o ofício que escolheu, afinal segundo a
lei, todos merecem o direito a defesa, por mais culpados que pareçam ou mais
grave seja o delito impingido ao acusado. O filme, e isso é o mais
interessante, não tenta provar ao espectador que Mary é inocente, pelo contrário.
A produção de Redford serve fartamente o espectador com indícios de que - se
Mary não era diretamente cúmplice do atentado - certamente deveria saber em que
seu filho estava metido.
O que Conspiração
Americana quer apresentar é a noção de que mesmo diante de um ato horrível, a
justiça não deve ser dobrada para que a verdade sobressaia. Em suma, o filme
levanta a bandeira de que os fins não podem justificar os meios. Não é
importante provar os fatos apresentados, mas dizer que não podemos nos rebaixar
ao revanchismo ou a vingança, já que o precedente pode - mais tarde - nos
custar caro.
Se hoje, impedimos
um advogado de ter detalhes sobre o caso de um perigoso terrorista, por exemplo,
quem garante que quando alguém incomodar o sistema (por assim dizer) o mesmo
não possa acontecer? Claro, que essa interpretação pode ser exagerada e
dramática, mas o cerne da questão é importante. A liberdade e a justiça devem
sempre ser protegidas mesmo diante dos piores momentos de uma sociedade.
Por isso, que
talvez o filme peque tanto em alguns elementos tradicionais do chamado
"filme de tribunal", como o fato do advogado facilmente encontrar
respostas para sustentar a defesa que faz de Mary, como uma declaração de um médico
que diz que sua cliente tem problemas de visão e que por isso talvez não
pudesse ter reconhecido determinado suspeito, ou que o personagem não se
hospedava no hotel da personagem com seu nome verdadeiro, ou papéis que
incriminariam uma outra testemunha entre outros.
Esse aparente
descaso é apenas para mostrar que mesmo com as muitas dificuldades impingidas
pelo governo (na figura de Edwin Stanton, secretário de Guerra, vivido com vigor e seriedade
por Kevin Kline) Aitken é suficientemente capaz de ao menos colocar em dúvidas as
verdades absolutas ditas pelo governo contra a acusada. Mas, isso enfraquece o
fator de entretenimento da obra, tornando-a mais filosófica e analítica do que
cinematográfica.
O elenco de apoio
é formado por diversas estrelas e talentosos atores, como Tom Wilkinson que
vive o senador que abraça a causa de Mary a primeira vista, e que entrega a Aitken quando percebe que sua figura jamais poderia ser respeitada no tribunal, além
do já citado Kevin Kline, que faz o mais próximo de um vilão que o filme tem
(além é claro dos assassinos de Lincoln) e do sempre competente Danny Huston
como o promotor do caso.
Mas são nos ombros
de Robin Wright e de James McAvoy que o filme se concentra. Mary é fria e
resignada, apoiada em sua fé, como uma mulher dedicada completamente a seus
filhos e capaz de tudo para mantê-los a salvo, mesmo que para isso arrisque sua
própria vida. McAvoy faz de Aitken um idealista , mesmo quando não pretende
defender Mary. Seus ideais de verdade e justiça são mais fortes do que seus pré-conceitos
quanto a sua cliente. Ambos estão bem, apesar de não se destacarem
particularmente, principalmente porque o componente humano serve a causa, e não
o contrário.
A mensagem é mais
importante do que a própria historia e isso sacrifica alguns aspectos dos
personagens, como a relação de Mary e a guerra civil (no que ela acreditava, o
que sentiu ao seu final) ou de Aitken e sua namorada/noiva/esposa, que
simplesmente é ignorada após o segundo ato.
Redford
curiosamente interpretou um personagem (dos mais importantes de sua carreira)
muito ligado a historia do jornal fundado por Aitken. Em Todos os Homens do
Presidente, ele viveu Bob Woodward, um dos jornalistas que denunciaram o Watergate e que
culminou na renuncia do então presidente americano Richard Nixon, e em Conspiração Americana
parece ainda defender os mesmos valores que seu personagem defendia em meados
dos anos 70: a vitória mesmo que justa só pode acontecer se seguirmos os
padrões morais e a justiça, por mais injusta que ela pareça. Pena que esse discurso fique lindo no papel, mas na tela seja enfadonho.
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