O Exótico Hotel Marigold
(The Best Exotic Marigold Hotel, 2011)
Comédia/Drama - 124 min.
Direção: John Madden
Roteiro: Ol Parker
Com: Judi Dench, Tom Wilkinson, Maggie Smith, Bill Nighy, Dev Patel, Penelope Wilton, Ronald Pickup e Celia Imre
O público da
chamada terceira idade tem muito pouca chance de se ver retratado no cinema de
forma mais ativa. Em geral, o cinema costuma retratar os mais velhos como
coadjuvantes engraçados ou como cidadãos em final de vida, ou mesmo como
conselheiros. Assuntos como amor, sexualidade e sonhos quase nunca têm vez
na produção cinematográfica contemporânea.
Por isso, por mais
que seja cheio de mensagens que beiram a fábula, O Exótico Hotel Marigold é um
dos filmes mais gostosos de assistir que vi nesse princípio de 2012. Apostando
em uma história ora tocante, ora singela, ora simplesmente direta e
engraçada, o filme consegue ilustrar uma serie de sentimentos inerentes a
qualquer um de nós, independente de idade.
A historia fala de
um grupo de idosos que infelizes, traumatizados ou simplesmente entediados
decidem atender ao chamado visto na internet - sim, olha só, idosos que usam
computador - de um hotel encravado na Índia que oferece aquela dose de aventura
que muita gente sente falta na vida.
Evelyn (Judi
Dench) é uma recém viúva que luta para descobrir como fazer sua vida funcionar
depois que seu marido falece e a deixa completamente perdida e sem dinheiro.
Graham (Tom Wilkinson) acaba de se aposentar como juiz da suprema corte inglesa
e parece partir para a inevitável jornada rumo ao esquecimento. Douglas (Bill
Nighy) e Jean (Penelope Wilton) são um casal juntos há muitos anos que estão
vendendo sua casa e muito possivelmente a caminho de um asilo. Muriel (Maggie
Smith) é uma senhora com um grave problema no quadril que precisa
desesperadamente de uma cirurgia. Norman (Ronald Pickup) é um solteirão que
vive - sem sucesso - tentando encontrar uma mulher e Madge (Celia Imrie) faz o
mesmo, só que a procura de homens solteiros e ricos.
Essas muitas histórias
se interligam quando todos partem com destino ao Hotel Marigold, um decadente e
quase arruinado lugar administrado pelo sonhador - e nada prático - Sonny (Dev
Patel) que vende um lugar que não existe e que causa o primeiro choque cultural
para os recém chegados britânicos.
Choque cultural é
outro assunto abordado no filme, que mesmo que esbarre no colonialismo para colocar os personagens ingleses como "salvadores" em alguns plots da historia, é respeitoso com os indianos e sua cultura, mesmo
quando coloca alguns de seus personagens - a de Maggie Smith em especial - como
ferrenhos críticos daquela gente.
A direção é do
mediano John Madden - o mesmo do insuportável Shakespeare Apaixonado - e que
aqui faz seu melhor filme. Longe de ser uma obra prima, mas é simpático,
emocionante, divertido e direto. Hotel Marigold é uma boa historia sobre
envelhecer com dignidade sem tentar catequizar ninguém.
Porém, as muitas
linhas narrativas se atrapalham em certo momento do filme. A eliminação de um
ou dois personagens do filme faria bem a fluência do material. Os personagens
de Norman e Madge apesar de serem razoavelmente engraçados são os mais
desnecessários e a supressão deles faria bem aos demais personagens. A historia
do personagem de Dev Patel (esforçado, mas mesmo assim, a pior coisa do filme)
é outra que poderia ser eliminada. Apesar de apresentar ao publico as tradições
de um pais, mais uma historia clichê de "amor proibido" não ajuda em
nada o filme, apenas o arrasta por mais do que o necessário, já que o
importante são as historias daqueles hospedes no hotel.
Muita gente também
pode torcer o nariz para a ideia de fábula que o filme parece propor. O
personagem de Patel vive usando a frase: "Na Índia, temos um ditado: tudo
vai dar certo no final. Então, se não estiver tudo certo, é porque ainda não é
o final". Uma ótima frase de efeito, digna do melhor da auto-ajuda diriam
os mais cínicos (eu me incluo nesse grupo), mas que no contexto do filme é
simpático.
Apesar da falta de
pretensão do filme (que não quer mais do que apenas nos divertir e passar sua
mensagem) o elenco é dos melhores reunidos. A excelente Judi Dench - que
funciona como a protagonista do filme - está muito segura como Evelyn, que passa por transformações maravilhosamente retratadas pela atriz. Se
surge aborrecida ou lutando contra suas memórias ou o amor, a brilhante atriz
faz um trabalho glorioso. Bill Nighy é outro que se destaca, principalmente
quando foge das caretas que muita gente não consegue desassociar ao ator.
Douglas é outro personagem que cresce demais durante o filme, principalmente em
relação a seu relacionamento com Jean, a ótima Penelope Wilton. Já Maggie Smith
é o alivio cômico (que funciona) do filme. Dona de um timing para a comédia invejável,
ela faz da sua personagem uma mulher cínica, amarga, mas profundamente
divertida. E Tom Wilkinson tem o arco mais dramático e surpreendente,
delicadamente retratado pelo ator. Infelizmente, é uma pena que a produção opte
pela saída mais covarde possível para seu personagem. Uma pena, já que sua
história - ao lado da de Evelyn - é a mais interessante do filme.
O Exótico Hotel
Marigold é um "feel good movie" dos melhores. Sincero sobre sua ideia
de dignidade até o fim da vida, sobre aprender e - por que não - mudar sempre e
sobre aproveitar cada segundo nesse planeta para encontrar e manter a
felicidade.
Saiba mais sobre o filme e veja detalhes dos bastidores na página oficial: https://www.facebook.com/oexoticohotelmarigold
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