João e Maria - Caçadores de Bruxas
(Hansel and Gretel: Witch Hunters, 2013)
Ação - 90 min.
Direção: Tommy Wirkola
Roteiro: Tommy Wirkola
Com: Jeremy Renner, Gemma Arterton, Famke Janssen, Peter Stormare
Tá na moda. Pegar
uma história infantil (ou infanto-juvenil) e transformá-la em uma produção "adulta", séria, violenta, agressiva na abordagem dos
personagens, às vezes até desvirtuando os conceitos desses contos. Essa
não é uma "invenção" do cinema, mas uma consequência da ânsia do
publico por fantasia. Se Bill Willingham em sua serie de quadrinhos Fábulas fez
uma enorme revolução, True Blood, Crepúsculo, Grimm, Supernatural entre muitos
e muitos outros fizeram o mesmo na TV e no cinema. A fantasia vende muito e
cada vez mais o cinema se abraça com muita força a estes personagens.
Ano passado, o
cinema foi tomado de assalto pelo risível Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros,
uma bobagem sem muita graça sobre o presidente americano caçando os chupadores
de sangue e esse ano é a vez de João e Maria caçando bruxas.
O bom, é que João
e Maria é bem mais divertido que o filme do presidente americano. Escrito e
dirigido por Tommy Wirkola (o maluco responsável pelo cult Zumbis na Neve/Dead Snow, uma
maluquice sobre zumbis nazistas) João e Maria se leva muito menos a sério, é
sucinto, direto e não perde tempo com explicações pretensiosas e se foca no
óbvio nesse tipo de produção: ação, sangue e até nudez (olha só).
A história parte
do conto clássico, com dois irmãos sendo largados na floresta e encontrando a
casa de doces e a bruxa. Aí, a história muda completamente. A bruxa é medonha,
as crianças atacam a bruxa de forma violentíssima, mas o final acaba sendo o
mesmo: bruxa queimada no forno.
A partir daí, João e Maria se transformam em caçadores de bruxas e a trama segue até uma cidade
alemã em que crianças foram sequestradas e os irmãos são contratados para
encontrá-las. Curioso citar, que o filme mostra recortes de jornal ilustrando
os feitos de João e Maria, com ilustrações que parecem medievais, o que nos
situa historicamente na trama. Jeremy Renner é João, um sujeito calado e de
pouco papo, enquanto Gemma Arterton é Maria, de personalidade forte que bate
primeiro e pergunta depois.
A trama é bem
rasa, bem óbvia, mas isso não chega a ser um defeito, já que o filme não tem
pretensões de ser nada além de um passatempo razoável. Como estamos nesse mundo
fantástico, é preciso detalhar as maquiagens e criaturas mágicas criadas pela
produção. Famke Janssen, bela atriz holandesa radicada há anos nos Estados
Unidos (e que todo mundo lembra como a Jean Grey em X-Men) vive a bruxa mor,
chamada Moira, sob muitos momentos embaixo de uma maquiagem razoável, que faz
seu rosto marmorizado e praticamente craquelado. O mesmo vale para suas duas
ajudantes (ou filhas, ou casal de filhos, já que uma das bruxas/os é
absurdamente andrógino/a) que mantém o padrão de maquiagem do filme, que não é
ruim, mas está longe da qualidade exigida em um filme do gênero nos dias de
hoje. Existe um troll no filme, que parece saído - sem muitos upgrades - de um
filme oitentista do gênero, como Labirinto, lembrando bastante à produção dos
estúdios Henson.
Por outro lado,
inspirado nessa onda de filmes realistas e adultos envolvendo fantasia, João e
Maria é recheado de violência gore e explícita, incluindo desmembramentos,
cabeças amassadas entre outras nojeiras que talvez incomodem aqueles que irão
ver o filme esperando aquele sangue em computação gráfica, típico das produções do gênero.
Toda essa cultura
de seriedade na fantasia me faz questionar o público, estaremos ficando mais
infantilizados e abraçados a crenças e histórias que nos tragam - de repente -
algum conforto, mas não queremos as ver de forma infantil, já que (em tamanho
ao menos) crescemos? Ou é a ousadia do ser humano, que procura adaptar tudo a
sua realidade contemporânea? Ou mesmo é o desejo sádico do público em
re-imaginar algo que já conhece dando uma "nova cara" a essas
histórias? Ou mesmo é a facilidade para vender um conceito conhecido, porém
"mudado", que possa atingir um público nerd ávido por todo tipo de
historia fora do mundo real? Ou a eterna falta de criatividade hollywoodiana em
criar conceitos novos e de sucesso?
Antes que a pedra
gigante role ladeira abaixo sobre minha cabeça, isso não é uma crítica, mas uma
constatação. João e Maria é apenas mais um elemento nessa onda que parece não
ter fim. Teriam mesmo os nerds tomado de assalto a cultura do entretenimento de
tal modo que somente a realidade fantástica pode funcionar? E mais, estariam
estes felizes com essa avalanche? A qualidade dessas produções é realmente boa
e acerta no alvo de seu público?
Sobre as duas
últimas questões, me permito observações: Não, imagino que não estejam felizes,
já que, o publico que motivou esse tipo de produção ser alçada a uma categoria
de produto de sucesso, sofre com a qualidade cada vez menor dessas produções.
Por outro lado, um público diferente, ávido por escapismo abraça essas
histórias com muita força. Seria então, uma resposta dos frequentadores do
cinema a sua realidade? Quanto mais escapismo, menos preocupações? Essa é a
regra do cinema desde sempre, a fuga para a tela prateada é muito sedutora e nos
proporciona horas de desligamento de nosso mundinho, mas não responde o porquê
esse fascínio com esse tipo de tema específico. Seria uma vontade de voltar à
infância?
Não sei, e
gostaria bastante de saber. O fato é que diante da invasão, João e Maria é
digno. Não é brilhante, nem tem essa intenção, mas é divertido no que se propõe
(as sacadas "modernas" como um desfibrilador de corda ou a
"doença do doce" são excelentes) e na média das produções do "gênero" é
superior à maioria delas.
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