Os Miseráveis
(Les Miserávles, 2012)
Musical/Romance/Drama - 158 min.
Direção: Tom Hooper
Roteiro: William Nicholson
com: Hugh Jackman, Russel Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham-Carter
Tom Hooper é um
diretor supervalorizado (para ser gentil). Sua noção de enquadramento é
questionável, suas ideias para manter sua câmera em movimento são irritantes,
cria closes excessivos, "vomita" ângulos holandeses (aquela câmera
"torta") como quem passa mal depois de tomar oito doses de vodka e
tem dificuldade em acompanhar os acontecimentos na tela com alguma frequência.
E mesmo assim, Os Miseráveis
é um filme razoável. Como? Por quê? Qual a magia? Existem alguns fatores
envolvidos: os atores, que estão (quase) todos muito engajados e dando o sangue
pelo projeto, a história que é muito boa e as canções que são excepcionais.
Hooper, no entanto,
parece ser um diretor de atores competente, já que consegue tirar
interpretações fortes de seus elencos (vide Colin Firth e Geoffrey Rush em Discurso do Rei), especialmente de Hugh Jackman e Anne
Hathaway. Que se leve em consideração o fato de que os atores cantaram "ao
vivo", o desempenho de seus protagonistas é bem convincente, incluindo ai
Eddie Redmayne e Amanda Seyfried. Alguns coadjuvantes também se destacam como
Sacha Baron Cohen e principalmente os atores da Broadway Aaron Tveit e Samantha Barks, que são -
como esperado - os cantores mais competentes do filme.
Porém, Hooper
escalou muito mal Russel Crowe como o grande vilão do livro de Victor Hugo, o
inspetor Javert. Além de Crowe parecer preso pela necessidade de estar sempre
cantando (e o faz de forma - sendo bem generoso - honesta) seu personagem (e ai
cabe uma critica ao roteiro) nunca é totalmente desenvolvido. Javert do musical
Os Miseráveis nunca surge como uma ameaça verdadeiramente cruel, mas quase como
um policial caxias demais, perdendo muito de seu impacto.
A história trágica
sobre a perseguição de um insano policial ao ex-condenado Jean Valjean
(Jackman) e seu subsequente envolvimento com Fantine (Anne Hathaway) perde um
pouco do impacto pelo ritmo acelerado demais que a primeira parte do filme
assume. Hooper parece mais interessado em criar um épico grandioso, por isso à
ação revolucionária acaba tendo até mais importância do que as relações entre
Valjean e a filha de Fantine, Cosette (Amanda Seyfried). Confesso aqui que não
assisti ao musical, portanto, não sei se o musical tem essa mesma ideia, porém
na tela o resultado faz com que o impacto emocional seja bastante diluído.
Em suma, tudo
parece corrido demais, acelerando-se para uma gigantesca sequência de ação que
não é lá tão poderosa assim. Falta, como disse, além de um acerto visual, uma
maior força a alguns personagens fundamentais a trama, que respinga até mesmo em Jean Valjean vai
perdendo força no decorrer do filme.
A força de
Miseráveis reside mesmo - por mais óbvio que pareça dizer isso - em suas
músicas. São canções que resistem ao tempo e que são poderosas (em sua
maioria). Se uma eventual qualidade vocal é perdida com os atores cantando ali,
ao vivo, se ganha muito em emoção, como é o caso da interpretação de Anne
Hathaway para a canção mais famosa do musical "I Dreamed a Dream",
que certamente é o ponto alto de sua participação, mesmo com Hooper tentando
matar o momento (apostando num close que, mesmo entendendo a intenção de mostrar toda
a emoção da personagem, confunde-se quando Hathaway se mexe, privando o
espectador de parte do rosto da atriz), é incrível perceber o trabalho de
Hathaway em uma canção tão coverizada mundo a fora. A emoção e a tristeza
contida na letra são visíveis em sua excepcional performance, mesmo que
liricamente e tecnicamente ela não consiga atingir todos os agudos exigidos, o que sinceramente, não parece ser o foco do filme. Mais interessante do que vermos as
canções perfeitamente cantadas, a intenção é emocionar o espectador.
Por outro lado,
quando Crowe tem seu momento solo, derrapa sensivelmente, porque parece
profundamente travado tentando a todo o momento acertar as notas e esquecendo
de emocionar o espectador com seu dilema moral. Já Jackman, escolado por suas
aparições na Broadway, acerta quase sempre, especialmente na primeira parte da
trama, quando deixa de lado um pouco a técnica vocal e apela para a
visceralidade de sua personagem. Valjean é um homem derrotado pela vida,
vivendo de sobras e restos e que precisa encontrar uma forma de não esmorecer.
Os coadjuvantes acertam, até mesmo Bonham-Carter e Baron Cohen em momentos mais engraçados da trama,
assim como Eddie Redmayne, que vive o herói trágico e que emociona na canção em
que rememora seus amigos caídos. Como citei acima, em termos "vocais"
não dá para não destacar Tveit e Barks, atores da Broadway que estão degraus acima
dos atores, especialmente Samantha que vive a trágica Eponine, que ao mesmo tempo em que
acerta na composição da personagem, vê seu impacto na tela ser diluído pela
pressa de Hooper em fazer do filme um gigantesco épico. Como exemplo, a sequência
em que Fantine
vai se desconstruindo fisicamente, perdendo dentes, cabelos e por fim se
prostituindo, é digno de um musical de humor negro como Sweeney Todd, e não
consegue apresentar por meios visuais o desespero da personagem.
Tecnicamente,
tanto design de produção, quanto figurinos e efeitos visuais fazem o que deles
se espera, criam a realidade necessária para que a história seja bem contada. Como
destaques, o visual imundo de Valjean e da taverna/hospedaria de Thénardier (Baron
Cohen) são ótimos, assim como os gigantescos elefantes e a (curta infelizmente)
sequência no navio de guerra caído.
Os Miseráveis não
chega a empolgar totalmente, e com o passar do tempo, saindo daquela comoção sobre a grandiosidade da produção, percebe-se a quantidade de informação esmagada -
mesmo com a longa duração do filme - para que tudo parecesse maior do que de
fato é. A tal batalha é encenada em uma rua, em um cenário pequeno e que apesar
de excepcionalmente bem construído, não é suficiente para ilustrar um conflito
enorme, que é o que o filme vende. Por outro lado, as cenas de cantoria coletiva, com os coros poderosos,
todas são realmente empolgantes o que compensa essa dificuldade em criar
fisicamente uma obra épica.
No afã de deixar
tudo tão gigantesco, Hooper escorregou não só tecnicamente, mas perdeu a chance
de causar impacto em momentos muito importantes para a trama. Se salva por ter
encontrado em Jackman um protagonista forte, em Redmayne um galã com boa voz e
presença cênica, em Hathaway por sua entrega e Bonham-Carter e Cohen pelo ótimo
timing cômico.
Miseráveis perdeu
a chance de ser um tremendo filme, errando mão com um antagonista que não convence, escolhas visuais questionáveis e uma exacerbada correria na tentativa de transformar
tudo em uma enorme batalha. Ficam as canções e o talento de alguns de seus
interpretes.
Confesso que o que me levou a assistir “Os Miseráveis” foi o fato de ser o primeiro musical gravado ao vivo na história do cinema.
ResponderExcluirSem dublagem, nada, além de um ponto no ouvido do ator para a melodia.
Hoje, avalio como um filme mediano, não pela história ou montagem, mas pelo fato de ser cansativo.
Os Miseráveis leva o termo “musical” a exaustão, com uma musica seguida da outra e pouco espaço para os diálogos. Pensei em Grease virado do avesso. Não que devamos comparar um película com a outra, estou somente ilustrando o fato de como foi cansativo ficar três horas sentada na sala de cinema.
Esse é o tipo de filme que faz você ficar tenso o tempo todo, e acabar se solidarizando com o personagem do Hugh Jackman pode ser algo natural. Anne Hathaway tem uma participação pequena, mas fundamental para a trama. Merecida sua indicação ao Oscar.
Não me arrependi de ter assistido no cinema.
achei cansativo
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