quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Terror na Ópera - Especial Dario Argento


A boa crítica, dizem os especialistas, é aquela que consegue transmitir as impressões pessoais juntamente aos conhecimentos técnicos que o crítico possui para seu público de forma clara e objetiva.


Dito isso preciso confessar que tinha muito medo desse filme quando criança. Esse foi o primeiro filme de Argento que vi, e obviamente nem sabia quem era Argento. Mas uma cena sempre me impressionou. A maldita cena da tortura com as agulhas próximas aos olhos. Talvez pelo fato de usar óculos qualquer coisa que os envolvam me causa aflição e quando revi o filme e em especial as cenas de tortura... que aflição.






A história pode avaliada como sendo um paralelo doentio e com várias ressalvas de O Fantasma da Ópera. Como no Fantasma, um acidente afasta a principal soprano e a jovem aspirante a estrela (Betty vivida por Cristina Marsillach) assume o posto na montagem da ópera MacBeth de Giuseppe Verdi, que é dita amaldiçoada. Um assassino se infiltra na produção para perseguir a jovem e ascendente estrela.


O filme é um desbunde de beleza macabra e de técnica perfeita de condução voyearistica da câmera e de direção de arte.






A trilha sonora merece um parágrafo especial. Além de se utilizar das músicas da própria ópera citada ainda conta com outras peças clássicas (uma inclusive interpretada pela grande Maria Callas que é executada durante uma perseguição dentro de um apartamento) e uma trilha sonora heavy metal oitentista durante as diversas cenas de morte, o que a princípio parece não combinar com a ação na tela, mas que quando vemos com mais freqüência sentimos a motivação para sua utilização. Para mim Argento quis contrabalancear as cenas fortes (das mais fortes da carreira de Argento com Phenomena ainda reinando) com um tema musical que funcionasse como “âncora” e que nos trouxesse de volta, do mundo do terror para o conforto de casa.


Outro fator fundamental e que funciona divinamente é a utilização dos corvos que durante toda a produção servem como as testemunhas silenciosas de todo o terror, e que no momento oportuno revelam a todos (inclusive ao público) o assassino.






Se o filme tem como principal qualidade toda a beleza da produção e a sensacional idéia da perturbadora tortura que a personagem principal sofre para que permaneça de olhos abertos, só para ver suas outras vítimas sendo mortas servindo de testemunha para as mortes, o roteiro por sua vez é confuso e questionável. Não me surpreenderei, se os leitores que viram o filme comentam abaixo que o filme não os convenceu. O próprio diretor não gosta desse filme, e seus motivos são os mesmos que os meus. O roteiro é frágil e não resiste a uma revisão mais profunda. O misterioso assassino é fraco, suas motivações apesar de teoricamente serem ousadas são mal explicadas e o “modus operandi” tão bem executado na primeira morte torna-se descartável a partir da terceira morte e mesmo quando a tortura das agulhas é usada na segunda morte não alcança o mesmo impacto de sua primeira aparição.


Assim como no texto de Trevas diversas cenas fantásticas surgem na mente horas depois do espectador terminar sua sessão de Terror na Ópera. A já citada perseguição no apartamento é bela , com enquadramentos fluídos e fotografia prática e soturna. O ataque dos e aos corvos no porão do teatro é de uma fabulosa habilidade fotográfica, de uma sensibilidade estética impecável e de uma inteligência gráfica notável.







Mas, recitando novamente meus próprios escritos, são cenas soltas que não funcionam perfeitamente como um filme.

Argento é um gênio do visual, da fotografia e da criação do suspense que pode (em seus melhores momentos) ser sim comparado ao mestre do suspense Alfred Hitchcock, mas que diferente do gênio inglês as vezes não extrai do roteiro um bom produto final.

Ópera em Imagens:


























 COTAÇÃO GIALLO: 3/5

6 comentários:

  1. Opera é sadismo visual, nada mais importa. Melhor uso de câmera do cinema. Sou extremo cm essa filme. É o apice do Argento.


    ps:
    quem falar mal do final não sabe de nada, hahaha, mina abraçando as plantinhas e falando umas coisas meio loucas é o Argento se despedindo de algo, sei la do que, talvez dessa fase da carreira dele pq ele muta depois desse filme.
    acho que la terza madre tbm foi o fim de algo, para o inicio do novo ( giallo e o que vier depois).

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  2. Kevin, concordo com vc, é o melhor uso da câmera pelo Argento... e adoro o final desse , é igualmente perturbador e doce, só não gosto do assassino ... acho a história do cara fraca e queria mais dele, queria saber mais das motivações dele e dos motivos por trás das taras do cara.

    Acho que realmente é um fim pro Argento, embora ele tenha emulado um retorno em Slepless que eu adoro.

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  3. Acho os filmes que vieram depois, pelo menos Two Evil Eyes e Trauma são tão bons quanto os de inicio de carreira. Stendhal é top com os maiorais. O Fantasma da Opera é um caso a parte, achei coisa fedorenta quando vi no pc, ae depois vi no CINEMA HOHO, e achei bom, é um bom filme.

    E Non ho Sonno é foda demais mesmo.

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  4. Quando disse fim, quis dizer (não me expressei bem rs) que é o fim desse ciclo. Olhos Satanicos, Stendhal e Slepless são sensacionais... Trauma eu não vi, e Fantasma eu vi uma vez só e é muito ruim mesmo.

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  5. Veja Trauma então, hehe. É o mais frio e estranho dos Argentos.

    La no blog escrevi um textinho sobre ele e postei milheres de screens. Depois que assistir ele da uma passada la e leia o que escrevi, normalmente o que encontra por ae é de visão um pouco diferente da mnha.

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  6. Acabei de ver, e ainda tem a deliciosa Asia Argento ... preciso ver esse rsrs

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