domingo, 23 de janeiro de 2011

The Escapist
(The Escapist, 2008)
Drama/Thriller - 102 min.

Direção: Rupert Wyatt
Roteiro: Daniel Hardy e Rupert Wyatt

Com: Brian Cox, Joseph Fiennes, Liam Cunningham, Dominic Cooper e Seu Jorge



Surpresas no cinema são comuns e cada vez que me deparo com uma pequena produção que pouca gente comenta, que não quer ser mais nada do que uma experiência divertida e tenta - no melhor dos sentidos - ser algo mais, sem forçar a barra, fico realmente feliz.


Não só por poder ter o prazer de ver, mas principalmente por saber que filmes assim ainda são feitos nessa era polarizada entre os "conteudistas" e os "pipoqueiros". Filmes como The Escapist são um pequeno prazer cada vez mais proibido nessa era em que os dois grupos polarizam-se entre prêmios e bilheteria. Escapist é uma simples história de assalto com aquele algo a mais que era comum em filmes americanos até uns dez anos atrás. A exceção dos - raros - independentes sem pretensão de mudar a terra, esse tipo de produção foi limado dos estúdios americanos.



Restam encontrar filmes assim em outras bandas, nesse caso na terra da rainha. The Escapist apresenta-se como um thriller de fuga de prisão, que por meio de uma edição inteligente e que cria tensão constante mesmo onde ela não poderia - em teoria - existir, faz da narrativa uma espiral de acontecimentos interessantes que são mostrados com extrema competência.


Apesar de - caso tenha visto o filme, compreenderá - brincar com o espectador e com suas óbvias expectativas sobre aquele grupo de prisioneiros que tenta uma fuga da cadeia. Apesar do filme não ficar explorando cada uma das histórias pessoais para apresentar aquela gente, é muito feliz em contextualizar cada personagem identificando com características próprias e que fazem o espectador torcer por fulano ou sicrano na esperança de vê-lo se salvar na fuga que é magistralmente entrecortada com a narrativa dita "atual" que mostra os preparativos para o evento.


Essa opção do diretor Rupert Wyatt (responsável pelo temido Rise of the Apes, uma espécie de continuação de Planeta dos Macacos) em misturar as duas linhas narrativas, apesar de não ser inovadora é facilmente compreensível e acrescenta uma tensão a mais na história, que talvez não fosse possível sem esse recurso.



Joe Walker é o responsável pela edição inteligente, que faz de The Escapist um membro do clube dos filmes de pós-produção. Sem esse recurso o filme não seria tão interessante quanto foi para mim. Ao mesmo que isso faz dele uma produção acima da média, nos faz pensar nas possibilidades criativas da produção. Será que Wyatt tinha pensado nessa postura antes da fotografia principal ser iniciada? Foi parte do processo? Ou resultou de uma análise do material bruto, onde chegou à conclusão de que: precisamos salvar esse negócio?


Seja como for, o resultado - e é isso que precisamos checar aqui - é muito consistente. Brian Cox, que vive o personagem principal Frank Perry é muito exigido. Um dos bons papéis desse ator, que vem se tornando figura fácil em produções mainstream e que tem, hoje, o rosto facilmente identificável pelo público. Seu personagem é um homem amargurado e em busca de salvação diante de seus pecados (nunca esclarecidos pelo filme). A ela juntam-se Joseph Fiennes, que vive o violento Lenny Drake, um ladrão que usa sua raiva como meio para sobreviver na prisão, Dominic Cooper, como o ingênuo e recém-chegado Lacey, Liam Cunningham como Brodie, um veterano que cumpre prisão perpétua e que planejava a fuga a mais de uma década e Seu Jorge, como Viv Batista, um químico que "vicia" os prisioneiros em uma droga sintética produzida com os recursos que tem a mão na cadeia.



Esse grupo de pessoas heterogêneas tem desempenho bastante consistente como o grupo de bandidos em fuga, com destaque especial para Cox e para a naturalidade com que Seu Jorge desempenha seu papel - de poucas falas é verdade - num bom inglês, o que abre portas ao ator/cantor, que vem conseguindo alguns papéis fora do país.


Talvez alguns se incomodem com o "plot twist" que revela a natureza poética (lembram daquela frase do início da crítica: "aquele algo a mais") da história. Discordo de eventuais críticas pois acho que durante a história Wyatt (também co-autor do roteiro) foi soltando faíscas que podem ligar a revelação final. Sem soltar spoilers, caso o espectador se sinta "traído", assista novamente, e tente perceber os detalhes sutis da história.


The Escapist é uma bela surpresa. Desconhecido, pequeno, divertido, intrigante e ainda apresentando boas idéias é um filme que merece uma chance de ser conhecido.


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