sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Karate Kid

(The Karate Kid, 2010)
Drama/Ação - 140 min.

Direção: Harald Zwart
Roteiro: Christopher Murphey

Com: Jaden Smith e Jackie ChanVaca sagrada. Para os que conhecem essa expressão - comum no cinema - sabem como é difícil lidar com um remake, em especial quando ele trata de um filme muito conceituado pela crítica, ou amado pelo público. Karate Kid, o original de 1984, é um "clássico" de uma geração. Impossível alguém que tenha entre vinte e poucos e trinta e cinco anos e não conheça Sr. Myiagi, Daniel San, o exercício de encerar o carro, o reyki que cura tudo, Cobra Kai, e o golpe da garça.


São símbolos de uma geração. São ícones que identificam um grupo de pessoas e que fazem os mesmos se identificarem perante a um objeto em comum. Por isso, "mexer" nessa casa de marimbondo resulta em uma quase certa ferroada violenta, seja da crítica - boa parte dela formada pelos primeiros fãs do original - ou do público - seja o saudoso do original - ou o atual - que pode não engolir a história "pura" e quase virginal do original.


Outra característica do original que poderia complicar esse remake é a natureza delicada do seu herói, o franzino e meio boboca Daniel Larusso. Trazer um "novo" Larusso seria um erro monstruoso, numa era de heróis "mothafucka" e de GTA’S da vida.



Por outro lado como encontrar alguém mais carismático que Pat Morita? Senhor Myiagi é um mito do cinema pop. Morita, um veterano, ficou marcado para toda a vida como o velho mestre do karate que ensina ao garoto bobalhão os mistérios da arte marcial.


Muitas considerações e muitas reticências para um filme inocente e que ganhou status com o tempo e hoje é um cult.


A produção foi inteligente ao manter elementos interessantes e abdicar de outros. Ficou o mestre, o clã inimigo que não respeita a arte marcial, um garoto perseguido, um ritual de preparação que envolve um objeto que aparentemente não tem nenhuma relação com a arte marcial e um golpe "especial" estranho e ligado a um animal.


De novidade temos a arte marcial (e é apenas por razões comerciais que o filme mantém-se como Karate Kid) e a postura mothafucka bad-ass do protagonista, que também ficou mais novo, apesar de parecer emocionalmente mais maduro do que o virginal Daniel Larusso.



No lugar do Sr. Myiagi surge o Sr.Ham, interpretado pelo mito Jackie Chan, um mestre - literalmente - na arte que ensina ao pequeno e carismático Dre (Jaden Smith, parecido com seu pai). O filme segue basicamente a mesma história do filme original, com algumas pequenas variações. Mudou o tom, mais acelerado mais ainda estão lá as cenas de preparação para o confronto, o inimigo raso como um pires e o golpe final impossível (nesse caso, com uso do CG o que deixou filme vergonhoso).


O que faz esse filme que tem tudo para ser uma bomba ser divertido e na opinião desse crítico ser mais interessante do que sua versão original? Carisma.


Se Sr. Myiagi era um mestre Yoda com outro nome, o personagem de Jackie Chan é mais "real". Tem problemas, é um elo de ligação mais próximo de nossa realidade assim como o herói vivido por Jaden Smith.


Caíram por terra a "pureza" e inocência das tardes na frente da TV vendo Daniel Sam. Isso não funciona mais hoje. A molecada é mais madura do que éramos quando tínhamos sua idade. São mais ágeis e pegam as coisas mais rápido. Um remake referencial em excesso afundaria o filme, e a sorte de Harald Zwart foi essa.


O público alvo comprou a história e ela fez sucesso. Quanto aos críticos, esses odiados seres rastejantes que detestam tudo o que vêm, pergunta o leitor. Esse ser rastejante, se divertiu com as bobagens do filme.



Sim, bobagens. Não se deve levar a sério um filme como esse, assim como nunca poderiam ter levado a sério o primeiro Karate Kid, ou Esqueceram de Mim, ou outros filmes com intenção pura e simples de divertir.


Isso não significa que sejam filmes ruins, apesar de Karate Kid - o original - ter envelhecido muito mal, em especial em sua forma carola de ver o mundo e em seu protagonista fraco. Karate Kid, cumpre o papel que apresentou: divertir a molecada.


Isso é bom? Sim, se o público alvo for esse e saiba que o filme é uma diversão escapista e nada mais. Problema acontece quando vemos adultos vibrando com o pequeno e magrelo Dre, imaginando nele um proto Bruce Lee negro. Ai sim temos problemas. Ou quando muita gente vê "profundidade" na interpretação de Jackie Chan, que não está mal é verdade, mas que não é um ator de grandes dotes interpretativos, sejamos francos.



Quando as pessoas começam a levar esse tipo de produção muito a sério, não entendendo seu lugar na pirâmide do cinema americano, devemos ficar preocupados. É vergonhoso imaginar que Karate Kid e afins sirvam de modelo para o entretenimento de um público adulto. Longe de fazer uma crítica direta ao filme mas sim as conseqüências dele, quando um filme infantil - assumidamente infanto-juvenil - faz sucesso entre os adultos é um momento bom para os "formadores de opinião sérios" (existem ainda alguém de grande mídia sem o rabo preso?) perceberem que tipo de produto chega nas mãos das pessoas.


Longe de ser uma censura, ou mesmo um demérito - afirmei aqui várias vezes, que o filme cumpre seu papel com grande competência - num mundo perfeito e não tão infantilizado e carola adultos teriam espaço para entretenimento adulto. Nos cinemas? Esquece. Produções de grande potencial são eclipsadas pelos grandes lançamentos cheios de cores e rasos como um pires furado. Ninguém quer pensar. Quanto mais gente tem acesso aos cinemas e cultura parece que menos se tem a oferecer a esse público.



É uma mentira, eu sei. Todo ano, grandes filmes são produzidos, mas boa parte deles nunca verá o seu público a não ser em parcos lançamentos em DVD (Deixe Ela Entrar, um dos grandes filmes da década ainda não saiu em DVD por aqui) ou via download. Em compensação, esse público emburrecido e embrutecido vibra com cada nova comédia romântica de Jennifer Aniston, ou o novo filme de terror fajuto ou mesmo a nova animação sem graça da Dreamworks.


A pergunta que fica, e que deveria gerar uma discussão é: porque esse tipo de coisa acontece?


Por que o público não quer pensar?


Não existem respostas claras, embora eu aqui tenha algumas teorias. O certo é que enquanto o público não quiser procurar além do que seu nariz consegue cheirar Karate Kid será um hit e será levado a sério como bom cinema. Uma pena, pois a historinha boba do garoto kung fu não ofende ninguém, mas não merecia tantas salas e tanto dinheiro.



3 comentários:

  1. Karate Kid para mim foi o dos 80's, este ainda não me seduziu ao ponto de o querer ir ver e muito menos gastar dinheiro para o ir ver :P

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  2. Jackie Chan chapado me fez chorar.

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