Diário de um Jornalista Bêbado
(The Rum Diary, 2011)
Comédia/Drama - 120 min.
Direção: Bruce Robinson
Roteiro: Bruce Robinson
Com: Johnny Depp, Michael Rispoli, Aaron Eckhart, Amber Heard, Richard Jenkins, Giovanni Ribisi
O que é Diário de
um Jornalista Bêbado? Uma comédia sobre um sujeito exagerado, recheado de
personagens exóticos e excêntricos e ambientada num ambiente tropical? Ou uma
tentativa de libelo contra a exploração colonial sobre os cucarachas locais? Ou
um trágico amor platônico destinado a dar errado? Ou mesmo a historia de um
derrotado, que sabe que apenas em uma utopia poderia vencer a máquina?
Diário de um
Jornalista Bêbado é tudo isso. E faz tudo isso de forma - no mínimo - confusa.
Acompanhamos Kemp(Johnny Depp) que na primeira cena do filme
revela ser alcoólatra e que acaba de se transferir - não se explicam os motivos
- para Porto Rico, com a intenção de trabalhar em um jornal local.
O filme é amparado
por uma coleção de personagens exóticos e inverossímeis, claramente saídos da
cabeça perturbada do mitológico Hunter S. Thompson - um dos pais do chamado
jornalismo gonzo - a começar pelo editor do jornal. Lotterman (Richard Jenkins) é um
assustado, estressado e irritante homem de meia idade, que divide o tempo entre
administrar o jornal falido e desfilar com uma ridícula peruca. O fotógrafo Bob
Sala (Michael Rispoli) se torna o Sancho Pança de Kemp, sempre acompanhando o personagem de
Depp e funcionando como guia e consciência do personagem.
Completam os
personagens principais, o misterioso e descolado Sanderson (Aaron Eckhart) que
funciona como "o agente da mudança" no filme, oferecendo ao jornalista um
arriscado e antiético trabalho, a bela e ingênua Chenault (Amber Heard) e o bizarro Moberg (Giovanni Ribisi), um maluco completamente alcoolizado com um gosto especial
por ouvir os discursos de Hitler.
A tal proposta
nunca é claramente explicada no filme, dando a sensação de que - no fundo ela
não era tão importante assim. Porém, o que deveria ser explicado é o porquê, Kemp é o convidado. Como não existem respostas, podemos conjeturar: Por que ele
era um personagem frágil e impressionável? Por que não tinha
"assinatura" em nada que toinha feito até então? Por que Sanderson percebera seu flerte com a personagem de Amber Heard ? Ou simplesmente porque essa era
a única forma de manter o interesse do espectador em personagens tão
irritantes?
Outro problema é a
falta de conceito da personagem de Chesnault. Ela começa o filme entediada com sua
vidinha de patricinha, flertando claramente com o personagem de Depp, para em
um momento posterior, simplesmente "se jogar na balada", fugir do
mundo e voltar como um cordeirinho quando a vida lhe devolve um tapa na cara. A
pergunta que fica é: faz sentido? Você desenvolve uma personagem inteiramente
como alguém que quer sair daqui ambiente, para - no primeiro momento - a
mostrar como mais uma "periguete" pré mini-saia? E para piorar, a
mostra posteriormente como uma coitada arrependida? É muito problema de
personalidade para a mesma pessoa.
Todos os
coadjuvantes têm pouca função, a exceção de Sala. Dotado dos únicos bons
momentos do filme, é aquele sujeito engraçado que cria boas gags ao lado de
Depp em uma atuação que pouco lembra a do perturbado personagem de Medo e
Delírio. Aqui, Depp mistura - para variar - seu pirata Jack Sparrow com a
animação Rango - para conceber Kemp, como mais um freak em um mundo cínico e
colorido (por mais bizarro que pareça). O cinismo vem do texto e da percepção
de que claramente o jornalista e seus amigos sairão derrotados de tudo que tentarem
fazer. A cor vem do próprio ambiente, que mistura praias, com aquele ar
decadente das ilhas do Caribe que os americanos tanto gostam de mostrar,
amparada pela "fauna de gringo", que inclui rinha de galo, macumba e
bares étnicos.
E a assinatura de
um texto de Thompson, está em uma deslocadíssima cena, em que Sala e Kemp usam um alucinógeno
bizarro e experimentam viagens pelo cosmos e afins. Tudo o que caracterizou a
vida de Thompson, mas que aqui parece completamente deslocado em uma historia
que tenta fincar seus pés no chão.
Diário de um
Jornalismo Bêbado não chega aos pés do perturbado Medo e Delírio, aquele sim,
um verdadeiro filme com a marca de seu autor intelectual. Aqui, é um gigantesco
caldeirão em que tudo foi misturado e o caldo é insosso.
Ps: Os créditos
finais são de uma imbecilidade atroz. Além de quebrarem todo o cinismo do
filme, tentam vender uma ideia vitoriosa onde não existe.
Acho que vc não captou a linguagem do filme, que faz referência ao jornalismo Gonzo.
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