sexta-feira, 20 de abril de 2012

Diário de um Jornalista Bêbado


Diário de um Jornalista Bêbado
(The Rum Diary, 2011)
Comédia/Drama - 120 min.

Direção: Bruce Robinson
Roteiro: Bruce Robinson

Com: Johnny Depp, Michael Rispoli, Aaron Eckhart, Amber Heard, Richard Jenkins, Giovanni Ribisi

O que é Diário de um Jornalista Bêbado? Uma comédia sobre um sujeito exagerado, recheado de personagens exóticos e excêntricos e ambientada num ambiente tropical? Ou uma tentativa de libelo contra a exploração colonial sobre os cucarachas locais? Ou um trágico amor platônico destinado a dar errado? Ou mesmo a historia de um derrotado, que sabe que apenas em uma utopia poderia vencer a máquina?

Diário de um Jornalista Bêbado é tudo isso. E faz tudo isso de forma - no mínimo - confusa. Acompanhamos Kemp(Johnny Depp) que na primeira cena do filme revela ser alcoólatra e que acaba de se transferir - não se explicam os motivos - para Porto Rico, com a intenção de trabalhar em um jornal local.

O filme é amparado por uma coleção de personagens exóticos e inverossímeis, claramente saídos da cabeça perturbada do mitológico Hunter S. Thompson - um dos pais do chamado jornalismo gonzo - a começar pelo editor do jornal. Lotterman (Richard Jenkins) é um assustado, estressado e irritante homem de meia idade, que divide o tempo entre administrar o jornal falido e desfilar com uma ridícula peruca. O fotógrafo Bob Sala (Michael Rispoli) se torna o Sancho Pança de Kemp, sempre acompanhando o personagem de Depp e funcionando como guia e consciência do personagem.


Completam os personagens principais, o misterioso e descolado Sanderson (Aaron Eckhart) que funciona como "o agente da mudança" no filme, oferecendo ao jornalista um arriscado e antiético trabalho, a bela e ingênua Chenault (Amber Heard) e o bizarro Moberg (Giovanni Ribisi), um maluco completamente alcoolizado com um gosto especial por ouvir os discursos de Hitler.

A tal proposta nunca é claramente explicada no filme, dando a sensação de que - no fundo ela não era tão importante assim. Porém, o que deveria ser explicado é o porquê, Kemp é o convidado. Como não existem respostas, podemos conjeturar: Por que ele era um personagem frágil e impressionável? Por que não tinha "assinatura" em nada que toinha feito até então? Por que Sanderson percebera seu flerte com a personagem de Amber Heard ? Ou simplesmente porque essa era a única forma de manter o interesse do espectador em personagens tão irritantes?

Outro problema é a falta de conceito da personagem de Chesnault. Ela começa o filme entediada com sua vidinha de patricinha, flertando claramente com o personagem de Depp, para em um momento posterior, simplesmente "se jogar na balada", fugir do mundo e voltar como um cordeirinho quando a vida lhe devolve um tapa na cara. A pergunta que fica é: faz sentido? Você desenvolve uma personagem inteiramente como alguém que quer sair daqui ambiente, para - no primeiro momento - a mostrar como mais uma "periguete" pré mini-saia? E para piorar, a mostra posteriormente como uma coitada arrependida? É muito problema de personalidade para a mesma pessoa.


Todos os coadjuvantes têm pouca função, a exceção de Sala. Dotado dos únicos bons momentos do filme, é aquele sujeito engraçado que cria boas gags ao lado de Depp em uma atuação que pouco lembra a do perturbado personagem de Medo e Delírio. Aqui, Depp mistura - para variar - seu pirata Jack Sparrow com a animação Rango - para conceber Kemp, como mais um freak em um mundo cínico e colorido (por mais bizarro que pareça). O cinismo vem do texto e da percepção de que claramente o jornalista e seus amigos sairão derrotados de tudo que tentarem fazer. A cor vem do próprio ambiente, que mistura praias, com aquele ar decadente das ilhas do Caribe que os americanos tanto gostam de mostrar, amparada pela "fauna de gringo", que inclui rinha de galo, macumba e bares étnicos.

E a assinatura de um texto de Thompson, está em uma deslocadíssima cena, em que Sala e Kemp usam um alucinógeno bizarro e experimentam viagens pelo cosmos e afins. Tudo o que caracterizou a vida de Thompson, mas que aqui parece completamente deslocado em uma historia que tenta fincar seus pés no chão.

Diário de um Jornalismo Bêbado não chega aos pés do perturbado Medo e Delírio, aquele sim, um verdadeiro filme com a marca de seu autor intelectual. Aqui, é um gigantesco caldeirão em que tudo foi misturado e o caldo é insosso.

Ps: Os créditos finais são de uma imbecilidade atroz. Além de quebrarem todo o cinismo do filme, tentam vender uma ideia vitoriosa onde não existe.


Um comentário:

  1. Acho que vc não captou a linguagem do filme, que faz referência ao jornalismo Gonzo.

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