domingo, 15 de abril de 2012

Príncipe do Deserto

Príncipe do Deserto
(Black Gold, 2011)
Drama - 130 min.

Direção: Jean-Jacques Annaud
Roteiro: Menno Meyjes

Com: Tahar Rahim, Mark Strong, Antonio Banderas, Freida Pinto

Qual deve ser a sensação de um diretor ao terminar um filme e notar - imediatamente espero - que produziu um filme datado e ruim? Meses - ou anos - de preparo e produção para constatar que seu filme está pelo menos 20 anos atrasado na curva do tempo.

É o caso do cineasta Jean-Jacques Annaud, responsável por títulos importantes como O Nome da Rosa e Guerra do Fogo, que apresenta o fraco e insosso Príncipe do Deserto, uma coleção de clichês pseudo epicos, amparados por uma historinha água com açúcar da pior qualidade.

Príncipe do Deserto conta a historia do Príncipe Auda, um jovem herdeiro, que após ver seu pai, o Sultão Amar perder a guerra para o Emir Necib, é entregue aos cuidados do mesmo, ao lado do irmão como forma de encerrar as disputas políticas da região. Necib é progressista, deseja o desenvolvimento de seu país, enquanto Amar é apegado as muitas tradições de seu povo. Logo, o conflito além de envolver terra, envolve ideologias dissonantes.


O filme salta no tempo, e vemos o jovem Auda como um "nerd" árabe, com o nariz sempre enfurnado nos mais diferentes livros, enquanto seu irmão Ali é um líder em potencial, sempre ao lado de seu falcão de estimação e metido nos assuntos de Estado. Completa o elenco de personagens principais, a bela Princesa Leyla, filha legítima de Necib e que está prometida a Ali.

E todos viveriam suas vidinhas simples e tranquilas, entre dunas e camelos, se não fosse à chegada de um grupo de americanos que interpelam Necib com a ideia de que por baixo daquele deserto abandonado (que segundo um tratado pós-guerra, não deveria ser ocupado por mais ninguém, mantendo-se como uma espécie de "zona neutra" entre as terras dos dois influentes chefes de estado da região) reside uma quantidade muito generoso de petróleo, que até então era usada pelos árabes de maneira inocente.

Necib percebendo que o petróleo poderia ajudar seu plano de transformar sua cidade em uma metrópole digna dos países europeus invade a zona neutra e começa a perfurar a terra a atrás do "ouro negro". Claro que Amar discorda dessa posição e ameaça ir à guerra caso Necib não deixe de perfurar a terra.


E a partir desse ponto que Auda ganha espaço, graças a uma combinação de acidentes trágicos, inveja de seus semelhantes e astúcia de seu "protetor". Antes da metade do filme, o príncipe da biblioteca se vê como emissário de paz e peça fundamental na tentativa de se evitar uma guerra.

Tudo muito lindo e tudo muito chato. Já que o filme não consegue em momento algum ser uma divertida aventura épica, nem uma análise sobre a condição do árabe diante da guerra do petróleo e muito menos uma crônica familiar eficiente.

O filme tem uma serie de problemas sérios que fazem dele um dos grandes fiascos a chegarem aos cinemas brasileiros em 2012. Comecemos pelos atores: Antonio Banderas vive o Emir Necib, parecendo saído de uma novela ruim, cheio de trejeitos exagerados, uma entonação que complica a compreensão de suas frases e uma constante intenção de parecer engraçado, ou cool. No fundo, é mais uma performance de Banderas no automático, canastrão até o último fio de cabelo.


Mark Strong está um pouco (porém nem tanto) melhor que seu colega espanhol. O britânico vive o Sultão Amar como mais um de seus oitocentos e trinta e dois papeis vilanescos que o ator costuma fazer por ano. Não que Amar seja o vilão do filme (e nem vejo Necib dessa forma), mas Amar tem características dos papeis mais famosos de Strong, amparadas pela sabedoria de livro de auto-ajuda.

Tahar Rahim, do ótimo O Profeta, tem a dificílima tarefa de tentar salvar alguma coisa desse fraco épico de meia tigela. Como Auda, precisa passar de estudioso a herói, e se sai razoavelmente bem, principalmente quando se torna um estrategista. Já sua companheira, a bela Freida Pinto, tem muito pouco a fazer, além de observar os personagens pelas frestas em suas janelas, rezar e chorar.

Príncipe do Deserto comete os mesmos erros de todo e qualquer filme que vê os árabes por um prisma que margeia perigosamente o preconceito. Quando não são vistos como radicais estúpidos e grosseiros, fanáticos tacanhos ou ignorantes, são vistos como sábios perfeitos donos das grandes frases de sabedoria e momentos de reflexão a cada segundo. É absurdo, mas tentem notar a quantidade de cenas que são encerradas com algum personagem proferindo alguma frase edificante ou grandiloquente.


E o principal problema: o que afinal quer Príncipe do Deserto? Quer levantar alguma bandeira? Falar sobre como os americanos incutiram na mente dos habitantes da região que o petróleo poderia salvar suas vidas? Ou de apenas falar sobre a jornada de um homem que sai da completa desconfiança para a liderança de um povo? Ou mesmo sobre as dificuldades em mudar o status quo em uma sociedade tão amarrada aos seus dogmas?

Todos esses assuntos são abordados durante o filme, mas infelizmente todos, sem exceção de forma profundamente rasa e sem nenhum impacto. E mesmo quando o filme esboça uma epicidade em sua parte final (que inclui uma peregrinação extenuante de muitos personagens) nunca parece honesto, mas "atirado" em cima da hora numa tentativa desesperada de se destacar a qualquer custo.

Mesmo contando com um visual muito bonito, e muita grana na criação do filme (todo ele vindo dos próprios árabes, o que chega a ser assustador, já que o filme claramente não auxilia em nada a "causa") Príncipe do Deserto é uma coleção quase sem fim de clichês, indo do garoto ingênuo que vira líder, ao romance quase impossível, a batalhas em campo aberto e a trilha sonora que assim como o filme tenta ser algo que jamais conseguirá: contemporâneo e ressonante.

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