segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quebrando o Tabu

Quebrando o Tabu
(Quebrando o Tabu, 2011)
Documentário - 84 min.

Direção: Fernando Grostein Andrade
Roteiro: Fernando Grostein Andrade, Thomaz Souto Correa, Carolina Kotscho, Ricardo Setti e Ilona Szabo

Não vou começar essa crítica usando de um clichê (como o documentário faz) para explicar as intenções saudáveis de Quebrando o Tabu, documentário que conta com muita gente (mesmo) importante para discutir sobre os problemas do tráfico de drogas e uma eventual descriminalização das mesmas. Apenas vou dizer que Quebrando o Tabu não consegue quebrar nada, no máximo arranha de leve.

Ao optar por focar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o documentário dirigido por Fernando Grostein Andrade faz um paralelo perigoso com o igualmente cheio de boas intenções Uma Verdade Inconveniente, que tinha como "messias" Al Gore, um dos responsáveis, nos anos oitenta, pela censura a música americana (pois é, eu tenho memória).

Nos primeiros minutos de projeção FHC faz um mea culpa bastante frágil sobre sua mudança de postura "na época não sabia o que sei hoje, não estava preparado". Ok, engolimos, mas de qualquer forma, assusta o fato de um presidente de um país assumir que não estava preparado para uma discussão sadia e importante sobre um dos problemas mais complexos da sociedade.


O que se destaca é a quantidade de personalidades encontradas e ouvidas pelo filme que dão depoimentos (todos a favor da causa do filme) condenando a forma atabalhoada (para sermos delicados) como governos mundo a fora encaram a questão complexa do vício em entorpecentes. Indo dos ex-presidentes americanos Bill Clinton e Jimmy Carter, passando pelo escritor Paulo Coelho e o famoso doutor Dráuzio Varella, entre muitos outros, nota-se que o filme tem muitas pretensões.

Discutir esse assunto e tratar os dependentes químicos como doentes, pessoas que precisam de tratamento médico e não de bordoadas da polícia é uma conclusão mais do que óbvia, e felizmente, o mundo (quase todo) vem avançando nesse sentido. Os melhores depoimentos vêm de Dráuzio Varella, bastante sereno e entrevistado quando ainda era médico no finado Carandiru, falando muito francamente sobre sua posição sobre o assunto.

A FHC coube o papel de âncora da história, viajando o mundo em busca de informações, estudos e ideias para a questão. Como disse, a intenção do filme é ótima, mas deixa em segundo plano uma questão igualmente delicada, e essa sim, verdadeiramente polêmica: o uso recreativo das drogas, mas especificamente a maconha.


A todo o momento somos bombardeados com informações e dados sobre os doentes das drogas, mas existe muito pouco a respeito daqueles que fumam de maneira controlada, da mesma forma como os fumantes de cigarro fazem. Todos conhecemos alguém assim, e não consigo crer que possam ser enquadrados na categoria "doentes". Esse excesso de zelo para tocar nas verdadeiras feridas da questão é que fazem de Quebrando o Tabu um filme apenas esforçado.

Não chega a ser ruim, mas parece muito bem montado, cheio de cores e barulhos novos, ideal para seduzir uma camada da população que talvez não saiba muita coisa sobre o assunto, mas que não consegue mesmo, acrescentar muita coisa a uma conversa tão interessante e importante.

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