sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Poder Paranormal


Poder Paranormal
(Red Lights, 2012)
Suspense - 113 min.

Direção: Rodrigo Cortés
Roteiro: Rodrigo Cortés

com: Cillian Murphy, Robert DeNiro, Sigourney Weaver, Elizabeth Olsen

Poder Paranormal é um suspense B, simples, tenso em boa parte da projeção, mas que tem problemas de roteiro e alguns excessos durante o desenrolar da história. A grande atração da produção é a presença de Robert DeNiro de volta aos personagens sombrios. Seu último flerte com o macabro aconteceu no - hoje - longínquo ano de 1994, quando interpretou a criatura de Frankenstein. Porém, mais representativo do que seu ótimo desempenho como o monstro, o grande trabalho de DeNiro com o mundo sobrenatural é sua interpretação (como Louis Cyphre) no seminal Coração Satânico.

Sendo um ator versátil, DeNiro transitou por muitos gêneros, mas é notório que os últimos anos foram cruéis com o ator, que vem acumulando filmes medianos ou fracos ano após ano. Infelizmente, Poder Paranormal é mais para a lista desses "fracassos", embora este não seja de todo mal, já que por mais irregular que ele seja, consegue manter o espectador tenso em busca de respostas.

A trama parte em duas frentes. A principal acompanha o físico Tom Buckley (Cillian Murphy) que é o parceiro da firme e decidida doutora Margaret Matheson (Sigourney Weaver) investigadores paranormais, que - no melhor estilo Ghost Hunters (popular seriado do Discovery Channel) - procuram explicações lógicas para fenômenos encontrados por uma serie de pessoas apavoradas com a perspectiva de estarem presenciando a ação do paranormal.


Tom e Margaret desmistificam sem o menor constrangimento todos os casos em que são chamados. Até o início do filme, nunca encontraram nada que não pudessem explicar de forma racional. Rodrigo Cortés, diretor do bem sucedido Enterrado Vivo, assina a direção e o roteiro do filme, que não faz cerimônia para apresentar essas conclusões logo nas primeiras cenas do filme, em que vemos a doutora Matheson explicando objetivamente essas conclusões. Ela é uma cética e como tal, não crê naquilo que não consegue ver e provar. Já Tom é um mistério, um sujeito sem motivação pra seguir a doutora, e que em sua apaixonada busca por charlatões deixa claro que talvez esconda alguma explicação secreta.

A segunda frente mostra o personagem de DeNiro, o místico Simon Silver, que está afastado do mundo dos espetáculos ao vivo a mais de trinta anos. Quando o filme começa, o paranormal cego está de volta ao showbiz e diante de um passado misterioso, que envolve a morte de um jornalista que o acusava de charlatanismo durante um espetáculo, causa comoção popular.

A trama então acompanha Tom em suas tentativas de investigar Simon, sendo prontamente negadas por uma tensa Margaret. Os motivos para sua negação resultam no momento mais tocante do longa e garantem um ótimo momento para sua interprete. Já DeNiro também tem seu momento de glória, em um poderoso monólogo no palco já na parte final da projeção.


Em produções como essa, a amarração dos fatos é essencial para que a suspensão de descrença seja mantida por toda a duração. Como disse, Poder Paranormal até consegue fazer isso, mantendo o espectador tenso, muito graças a recursos óbvios do cinema de suspense, mas que quando são utilizados com competência rendem bons sustos, como o uso da trilha sonora de forma intensa e a montagem que alterna o ritmo do filme, misturando uma sequência lenta e expositiva com um evento rápido e de impacto visual.

Porém, e piso em ovos para não revelar detalhes da trama, o plot twist que acontece nos minutos finais da obra parece colocar em cheque muito do que foi visto até ali. Uma explicação a respeito da veracidade das ações paranormais de DeNiro além de ser apresentada de forma absurdamente confusa, é marcada por uma mudança na perspectiva de todos os fatos ate ali. Isso enfraquece a proposta do longa, embora seja mais "poética" em sua resolução.

Apesar de manter o público (e esse que escreve) tenso durante quase toda a projeção, Rodrigo Cortés peca quando cria diversos detalhes a respeito da paranormalidade do filme, para nesses momentos finais nos querer fazer crer que a consciência de um dos personagens é incapaz de separar a realidade da imaginação.


Cheio de boas intenções, atmosfera de filme b, atores competentes - e que certamente foram seduzidos pelo trabalho anterior de Rodrigo e, portanto embarcaram nessa produção - e bons sustos, Poder Paranormal poderia ser um ótimo "suspense-pipoca", mas ao tentar dar significados mais profundos e passar uma mensagem (não fuja daquilo que é de verdade), escorrega feio, deixando diversos buracos na amarração da historia e na percepção do público sobre o que viu.

Tecnicamente bem realizado, Cortés tem domínio sobre o gênero abraçado, e mesmo quando apela para algumas soluções for dummies (mostrar DeNiro em sua primeiríssima cena no filme tirando seus óculos para mostrar ao publico que é cego, ou colocar Weaver dizendo textualmente que nunca encontrou um "fenômeno" que não pudesse explicar) mantém o espectador interessado naquele clima de suspense, em busca de respostas. Porém, quando Cortés resolve as dar, praticamente apaga a lógica de seu filme até ali, o que enfraquece demais a produção.

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