Aqui é o Meu Lugar
(This Must be the Place, 2011)
Drama/Comédia - 118 min.
Direção: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino, Umberto Contarello
Com: Sean Penn, Frances McDormand, Eve Hewson, Judd Hirsch, Kerry Condon, Harry Dean Stanton, Olwen Fouéré
Paolo Sorrentino
vem de dois trabalhos muito interessantes. O lento e ironicamente intenso La Conseguenze dell'Amore
e o poderoso e satírico Il Divo. Dois trabalhos bastante diferentes, mas que
cada um a sua maneira tinham como protagonistas personagens que estavam fora
do padrão. Criaturas exóticas, excêntricas e diferentes.
Não é muito
diferente do que se apresenta nesse Aqui é o Meu Lugar, seu primeiro filme fora
da Itália e falado em
inglês. O excêntrico da vez (dando muitos passos nesse
sentido, diga-se de passagem) é o roqueiro dos anos 80, Cheyenne, uma figura estranhíssima,
que parece um cruzamento de uma Drag Queen idosa, com os cabelos de Robert
Smith do The Cure e que age com a lentidão de um Ozzy Osbourne depois de anos
de abusos. Por baixo de toda essa máscara esta um dos grandes atores americanos
de sua geração, o excelente Sean Penn, que consegue dar credibilidade a um
personagem que tinha tudo - mesmo - para cair na caricatura fácil e se
transformar em motivo de piada apenas.
Mas é a ótima
interpretação do ator que segura o filme. Sensível em retratá-lo como um homem
absolutamente insatisfeito e covarde com sua vida, que se mantém parado no
tempo durante mais de 30 anos. Continua vestindo-se, maquiando-se como se
estivesse no auge do sucesso, mesmo não fazendo praticamente mais nada há
muitos anos. Contrabalanceando a situação, temos Frances McDormand que vive a
efusiva e vivaz esposa de Cheyenne, a bombeira Jane, que é o lado forte da
relação. Muito mais decidida, direta e cheia de ideias do que seu marido
funciona como a âncora que prende o cantor no mundo real.
Completam o núcleo
principal de personagens a garota gótica Mary ( Eve Hewson), que tem problemas em sua casa
desde que seu irmão sumiu sem deixar vestígio algum, o amigo Jeffrey (Simon Delaney) viciado em sexo, o garoto Desmond (Sam Keeley) que Cheyenne tenta juntar com Mary, e a mãe
da garota (Olwen Fouéré) que passa seus dias na janela esperando o retorno de seu filho.
O filme é
balanceado com uma espécie de humor que remete aos filmes dos irmãos Coen, e
Penn tem ótimas frases de efeito sendo proferidas por sua dicção infantilizada
e olhar perdido e tristonho, o que fazem do personagem ainda mais interessante.
A historia altera o status quo da vida de Cheyenne quando ele recebe a noticia
que seu pai (com quem não fala há trinta anos) está morrendo. Por ter medo de
voar, decide ir de navio e quando chega até a casa do pai, ele já faleceu. Tal
situação mostra o absurdo da construção do personagem de Penn.
Porém, Aqui é o
meu Lugar tem problemas por tentar unir - numa mesma narrativa - muitos
elementos diferentes sem no entanto aprofundar-se em nenhum. Apesar de
estar ligado a historia do personagem de Penn, as referencias ao passado judeu
na segunda guerra mundial soam apenas panfletários, sem nunca parecerem
realmente profundas. Parecem - guardadas as devidas proporções - o que se faz
em geral por aqui nas novelas e mini-series. Apresenta-se um plano de fundo histórico,
mas no fundo o que realmente importa é a historinha de amor. Nesse caso, o que
importa mesmo é esse sujeito que vaga pelos Estados Unidos (encontrando uma
serie de personagens exóticos e excêntricos no caminho, uma verdadeira fauna)
para realizar uma espécie de desejo moribundo do pai: encontrar o torturador do pai em um campo de concentração nazista.
É a historia desse
homem perdido que precisa reencontrar o pai a partir de suas memórias e de seu
desejo de justiça, de punir aquele que o humilhou. É também sobre encontrar seu
lugar, o tal "This Must be the Place" (em tradução livre: esse deve
ser o lugar) que o personagem encontra - sim, ele encontra - após sua peregrinação
norte-americana.
Aqui é o meu Lugar
é uma produção esquisita. Lembra - como disse - a ideia de humor que os irmãos Coen
têm, uma forma de fazer rir muito particular. As mensagens cifradas do filme, em
especial na parte final, que podem gerar algumas interpretações também merecem
atenção.
Tecnicamente,
Sorrentino é extremamente competente. Ele abusa dos planos abertos mesmo nas
cenas internas, usando a câmera como um enxerido voyeur, sempre em movimento,
sempre rondando a ação, sabe conduzir seus atores e monta o filme de forma
inteligente, surpreendendo o espectador com alguns bons ângulos montados com
outros absolutamente banais, causando um choque simples, mas eficiente, e
bastante comum no cinema independente americano.
A estreia do
diretor italiano em língua inglesa não é ruim, mas em comparação com seus
trabalhos anteriores sai perdendo (o que pode até ser injusto, admito) e mesmo ancorado em uma boa interpretação de Penn, peca por apresentar muitas
pequenas historias. Além da trama principal, durante sua viagem Cheyenne se
envolve com uma garçonete que o ajuda em sua busca e que tem um filho pequeno
que tem medo da água, uma idosa com problemas para aceitar seu passado, o
inventor da mala de rodinhas e ainda tem o drama (que pode gerar algumas
interpretações interessantes e curiosas) do sumiço do irmão de Mary. Isso tudo
além de perseguir o torturador nazista e encontrar seu lugar. Muitas ideias,
algumas funcionando bem, outras ficando pelo meio do caminho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário