Elles
(Elles, 2011)
Drama - 99 min.
Direção: Malgorzata Szumowska
Roteiro: Malgorzata Szumowska e Tine Byrckel
Com: Juliette Binoche, Anaïs Demoustier e Joanna Kulig
Drama - 99 min.
Direção: Malgorzata Szumowska
Roteiro: Malgorzata Szumowska e Tine Byrckel
Com: Juliette Binoche, Anaïs Demoustier e Joanna Kulig
Juliette Binoche é uma atriz que - com alguma frequência - se despe de vaidades para seus personagens. Além de ser uma das melhores interpretes de sua geração, a francesa consegue transitar pelas mais diferentes personagens com alguma tranquilidade.
Em Elles, ela vive
uma jornalista que está em meio a uma reportagem sobre o universo de garotas de
idade universitária que ganham à vida como acompanhantes de luxo em Paris. Um tema denso,
complexo, obviamente adulto e que pode render todo tipo de historia, desde as
mais doces e leves (a jornalista que "salva" as meninas de uma
realidade difícil) as mais cruas (a violência, bizarrices, vícios) dentro do
escopo do tema.
Elles, dirigido
pela polonesa Malgorzata Szumowska, vai por uma terceira via e não tenta nem transformar Anne (Binoche) em uma salvadora da pátria ou dizer que a vida daquelas garotas é
apenas uma inevitável rota rumo à destruição e degradação. O filme tenta dar
voz as meninas de forma honesta ao mesmo tempo em que relaciona as historias
com as dificuldades enfrentadas por Binoche, que é uma mulher que não é ouvida
por ninguém ao seu redor. Seu marido e filhos praticamente apenas co-habitam a
mesma casa que ela vive. Ela sente-se sozinha quando ambos partem para seus
dias, e Anne mostra isso com diversas cenas em que vemos a personagem vagando -
meio que sem rumo - por sua casa, fazendo uma serie de atividades absolutamente
banais.
Entrecortado entre
passado e presente, o filme parte do hoje (Binoche está finalizando seu artigo)
para acompanhar duas entrevistas que a jornalista fez com duas garotas bem
diferentes. Lola (Anaïs Demoustier) tem um ar angelical, inocente enquanto Alicja (Joanna Kulig) tem o
que se chama hoje de "atitude". É mais franca, direta, objetiva e não
tem uma percepção da coisa embebida em uma aura cor de rosa. Enquanto Lola tem
um namorado que não sabe de sua profissão, Alicja veio da Polônia e vive sua
rotina escondida dos olhos da mãe.
O filme ainda
tenta dar espaço para as personagens, com um recurso cinemático obvio: em vez
de nos mostrar Binoche contando a historia, ou uma conversa filmada, somos enviados
ao passado das personagens e conhecemos melhor as motivações por trás das
garotas. Lola conta sobre sua "primeira vez" com um cliente, enquanto
Alicja, mostra (com detalhes) suas primeiras experiências na profissão e sua relação
problemática ao chegar a Paris.
Tudo muito bem construído,
de forma ousada, mas que peca por desenvolver melhor estas historias. Fica
claro que a intenção de Malgorzata não é a de julgar valores, mas mostrar as vidas
daquelas três mulheres, e falar sobre o desejo feminino. De onde vem? Como
funciona? Como julgar uma mulher que adora ser desejada por outros homens,
mesmo que sejam clientes? E a dona de casa entediada, como fica? Como ela
manifesta seus desejos? Ou será que nem consegue manifestar?
Perguntas
intrigantes, mas que a diretora perde uma ótima oportunidade de se aprofundar no
assunto. Binoche está bastante a vontade tanto como
a jornalista séria e cheia de pequenos preconceitos, típicos de uma mentalidade
pequeno burguesa, como quando sua mascara cai e ela surge como a mulher que não
consegue ser ouvida e que vive em uma realidade tediosa e que lhe falta alguma
coisa, que ela nem mesmo sabe o que é.
A sexualidade
feminina é o foco, porém a forma como ela é exposta na tela, dá um ar
excessivamente fetichista à obra. O voyeurismo implícito nas cenas mais quentes
poderia ter sido apresentado de uma forma que abordasse o ponto de
vista da mulher. Em alguns momentos, o filme parece abraçar essa estética do
"erótico chique" que agrada muito mais a parcela masculina
heterossexual - por razões óbvias, final você está vendo na tela mulheres
lindas - do que de fato desenvolve a psique daquelas mulheres.
Mesmo assim, o
foco de Elles é discutir o poder da mulher, mesmo diante da possível exploração
sexual. Seriam mesmo aquelas meninas - do filme - exploradas? Apesar de serem
pagas por aquilo, não se sentem no controle da situação, já que são eles
(homens) que precisam daquele tempo com elas, que como pequenas deusas do sexo
controlam toda a ação? Curiosamente, enquanto as garotas têm total controle
sobre suas vida, Binoche - que em teoria, tem uma vida regrada - não controla
nada a sua volta.
Essa questão é
interessante, mas fica mal desenvolvida quando o filme não resolve nada, deixando o
espectador como uma abelha intrometida que vagou por essa realidade, mas que
não conclui nada daquilo. Não sou inimigo dos finais abertos, mas quando se
atravessa uma longa estrada sem chegar a destino algum, a sensação de que
faltou alguma coisa é automática. Mesmo na excelente sequência de delírio de
Binoche, tecnicamente muito bem pensada, montada e conduzida, falta alguma
coisa. Uma liga que fizesse as histórias terem mais sentido e não caírem no
campo do fetiche: mulher entediada fica amiga de garotas de programa e decide
repensar a vida.
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