Na Estrada
(On the Road, 2012)
Drama - 137 min.
Direção: Walter Salles
Roteiro: Jose Rivera
Com: Garrett Hedlund, Sam Riley, Kristen Stewart, Kirsten Dunst, Tom Sturridge, Viggo Mortensen, Amy Adams
Começo a crítica
com uma confissão: nunca li Na Estrada, livro de Jack Kerouac, que dá titulo ao
mais recente filme de Walter Salles. Antes de assistir a produção
cinematográfica, apesar de saber da importância histórica do livro e de tudo o
que dele se diz e da influencia dele no mundo (e não só na literatura), jamais
havia tomado conhecimento das historias de Sal Paradise e Dean Moriarty (pseudônimos do próprio
autor Jack Kerouac e seu amigo Neil Cassady) e se o filme for fiel àquilo que
está impresso nas páginas, continuarei não tendo o livro na minha lista de
literatura a ser lida antes de morrer.
Na Estrada (o
filme, antes que os fãs do livro me joguem pedras) é pretensioso, pedante em
muitos momentos, de um exagero que beira o ridículo e apresenta personagens
caminhando por um vazio que parece não ter fim. Como sabem não vivi nos anos
cinquenta (bem longe disso), mas conheço diversos trabalhos que são filhotes do
que Kerouac parece ter influenciado, segundo declarações dos próprios. Minha
impressão sempre foi a de que por meio das experiências psicotrópicas, sexuais,
espiritualistas e afins, esse pessoal encontrou seu lugar no mundo em meio aos
muitos conflitos típicos da adolescência.
Essa não é
percepção que tenho depois de assistir ao filme, que mais parece contar a
historia de garotos e garotas perdidos, absurdamente pretensiosos sobre sua importância
no planeta (como em geral os adolescente são), mas que no fundo, não tem nada a
oferecer. São como o leito de um rio seco, onde ao longe se enxerga pequenas e
rasas poças incapazes de matar a sede de ninguém.
Walter Salles
parece profundamente reverente e hipnotizado pela historia que conta, o que é
ótimo, já que demonstra um profundo amor ao projeto, mas é incapaz de dar
alguma sustentação as mais de duas horas (que demoram muito mais do que isso a
passar) de idas e vindas, aventuras sexuais e psicológicas vazias, que levam os
personagens a lugar nenhum.
Mesmo que a ideia
seja a de apresentar a formação da psique de um autor, que precisa de experiências
para ser formada, ninguém ali parece verdadeiramente interessado nisso. O plano
de experimentar é subvertido para questões mais próximas do adolescente típico:
sexo, drogas e no caso, jazz.
Esse exagero de
reverenciar cada experiência vazia dos personagens é referenciado na personagem
do poeta Carlo Marx (o alter-ego do genial Allen Ginsberg, que ganhou um filme muito
mais eficiente em 2011 chamado "Howl", infelizmente inédito por
aqui), que reúne todos os clichês do intelectual pedante e arrogante que todos
amamos odiar. Fatalista, Sorumbático, melancólico, irritadiço, reprimido e
medroso, alguém que nos força a torcer para que se cale e de preferência perca
a voz.
Já Dean Moriarty (ou melhor,
Cassady) é a quintessência da irresponsabilidade, passando o filme inteiro em
busca de alguma coisa, que nem mesmo ele sabe. Emulando um magnetismo
praticamente irresistível, o personagem é a mola propulsora de tudo durante o
filme, tornando-se aquele "anjinho" que funciona como consciência (na
maioria dos casos falta de) dos personagens, em especial Sal.
Ele por sua vez é
o narrador (do filme e livro) e, portanto tem a visão mais ampla da coisa,
aquele que em teoria deveria ter a consciência do exagero de tudo aquilo, ao
mesmo tempo em que é envolvido em todas as experiências necessárias para a
criação de seu livro, que nunca sai do campo das ideias. Um garoto entediado e que não quer ser
mais um número, em busca de sua identidade e de experiências novas.
Além da dupla
principal, a personagem mais importante é Marylou. Curiosamente - ou não - essa é
mais uma personagem de Stewart que em determinado momento se vê encantando dois
homens. Continuo não conseguindo entender o que Kristen tem de tão mágico
assim, para, invariavelmente estar sempre em produções em que é disputada como
um pote de ouro no fim do arco-íris por todos os homens a sua volta. Diferente
do elenco masculino, Stewart apesar de apresentar algumas nuances novas,
continua presa as seus tiques - que parecem eternos e sem solução - e
dificuldade extrema em ser expressiva.
O elenco ainda tem
algumas participações especiais, em geral com personagens fracos ou insignificantes,
como a desnecessária aparição de Steve Buscemi, que só funciona pela quebra
de expectativa. Viggo Mortensen (que na vida seria o poeta William S. Burroughs, outro nome importantíssimo na literatura americana) e Amy Adams como a versão de futuro para aquela
galera pré-hipponga e viciada em benzina estão divertidos pelo excesso, mas são
personagens rasos, enquanto Kirsten Dunst tão elogiada em Melancolia, aqui é a personagem
âncora do filme, a única que parece tentar fugir daquela existência
pretensamente vazia e que não leva ninguém a lugar nenhum. Sua relação com o
personagem de Garret Hedlund (Moriarty) é passional, mas Camille é uma mulher aborrecida, que não parece
oferecer nada além de cobranças, o que torna fácil entender as motivações de
Dean em sair sempre de casa.
Mesmo com um
elenco irregular, Na Estrada poderia funcionar, já que sua estrutura
excessivamente entrecortada entre muitos momentos históricos diferentes
facilita a ideia de um roadie movie, porém a estrada do filme de Salles parece
um lugar absolutamente vazio onde pouco, ou nada acontece, tornando-o uma
enorme e vagarosa caminhada.
Mais o pior em Na Estrada , é a
impressão de que ele não exemplifica a vitalidade que seus personagens querem
demonstrar. Salles filma as desventuras de seus heróis como um tio zeloso, com
pudores e receios de mostrar diretamente as perversões de sua trupe.
Esteticamente, o filme também parece travado e nada condizente com uma historia
que prega exatamente a quebra de paradigmas, parecendo muito mais ligado a
Diários de Motocicleta. Bonito de se ver, o filme é soberbo ao retratar as
muitas paisagens que cortam as muitas estradas americanas, porém, se em Diários
de Motocicleta víamos garotos tornando-se homens diante de nossos olhos, aqui
vemos garotos que vagam sem rumo, aproveitando a vida, mas que parecem não
crescer nunca.
Em um exercício
quase medroso, Salles não mostra justamente os momentos de maturidade dos
personagens, preferindo manter a câmera focada apenas nas muitas aventuras
hedonistas dos personagens. O crescimento e amadurecimento, tão importante para
a formação dos personagens pouco é visto, e quando o filme apresenta os
resultados das andanças do grupo, o faz de forma apressada, como se não achasse
necessário mostrar as conseqüências de mais de duas horas de pedantismo
intelectual.
Como disse na
abertura do texto, nunca li Na Estrada, e talvez ele não tenha o mesmo impacto
libertário comigo, pois "já passei da idade" de me revoltar com o
sistema e partir rumo ao desconhecido em busca de experiências transformadoras.
Também porque acho que essa questão é muito datada, muito próxima a uma
realidade verdadeiramente castrativa, quando poucos - muitos poucos - tinham
voz. Em uma era onde os muitos nichos, segmentos, e clãs conseguem se reunir
dos mais variados jeitos e que o "ser diferente" é visto apenas como mais uma
opção de cada um, a mensagem de dar uma banana a sociedade e cair na estrada
parece perder força. O que nunca vai perder força, no entanto é o desejo do ser
humano em encontrar seu lugar na gigantesca aldeia global e amadurecer - espera-se
- no processo. Uma pena que Walter Salles não tenha conseguido apresentar essa
sensação ao público. Os adolescentes de Na Estrada parecem vadios em busca da
próxima dose e da próxima companhia para encher a cama, e estão longe de
parecerem interessados em encontrar coisa alguma.
Alexandre, estou ansiosíssimo para assistir a esse filme, quero ir vê-lo hoje. Li críticas dizendo que Kristen Stewart é a mais expressiva dos três atores, isso me surpreendeu - ao ler a sua, fiquei mais tranquilo, parece que voltei ao mundo real, ashisahiasihas.
ResponderExcluirÓtimo texto.
Luís, a questão é que eu pareço ser "o do contra" nesse momento. Talvez por não ter lido o livro, não me senti imbuído a ver significados onde - sinceramente - não os enxergava em tela. Não tive aquela "dó" de pensar no livro quando escrevia. Com personagens absolutamente rasos e que realmente - no filme - parecem completamente vazio fica difícil gostar da historia. Não sei onde você leu essa questão da Kristen, mas é o que acontece quando um ator vai fazer um filme "cult". Não importa, para muita gente, automaticamente ele vai melhorar, vai ter "o trabalho de sua vida". Posso não acertar sempre, mas sempre sou honesto com o que penso, sem "puxar o saco" de ninguém rsrs
ResponderExcluirTambém não li o livro e possivelmente não o lerei nunca.O filme é muito chato e mais uma vez o que é Kristen Stewart?não entendo essa moça ser escolhida para fazer tantos filmes.A cada trabalho eu me convenço o quanto ela é ruim de doer,além disso os homens ficam loucos por ela em todos os filmes,não entendo acho-a muito sem graça,olhar de peixe mrto e boca aberta o tempo todo,com cara de aparvalhada,vai entender esses selecionadores,tantas atrizes mais interessantes e gostam dessa moça.
ResponderExcluirAinda não assisti o filme, mas já esperava análises negativas após a fraca recepção do Festival de Cannes.
ResponderExcluirParabéns pelo blog!!!
Visite também: http://peliculacriativa.blogspot.com.br/
Achei sua critica bem exagerada, não teve ponto positivo em momento algum e não vejo problema a menina ser elogiada pelos criticos, isso é anormal? ela não tem direito de crescer como atriz? enfim, vou asssitir de qualquer maneira
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